VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

Login ] [ Contact Forum Admin ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 1 ]


[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]

Date Posted: 07:25:18 09/09/04 Thu
Author: MARIA CONCEIÇÃO ALVES DE LIMA
Subject: Re: Leitura, texto e hipertexto
In reply to: Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva 's message, "Leitura, texto e hipertexto" on 18:06:59 08/22/04 Sun

>1. Quais as principais características apontadas pelo
>autorda leitura realizada no hipertexto? Defina-as.

Segundo Marcuschi (2001), é interessante notar que algumas definições de texto dos anos 60-70 não enquadrariam o hipertexto na categoria “de texto”. O lingüista alemão H. Weinrich, por exemplo, definia o texto como uma produção lingüística unitária e contínua entre dois vazios, representada pela fórmula: # T #. Certamente que essa visão de texto como um fenômeno com início, meio e fim não cabe na noção de hipertexto. Não há dúvidas, entretanto, de que o próprio conceito de texto também evoluiu bastante desde os primórdios da Lingüística Textual, já que uma das idéias centrais da atual Lingüística de Texto é a da multiplicidade e não a da unicidade de sentido. Também se postula hoje (BEUAGRANDE, 1997, apud MARCHUSCHI, 2001) que o texto pode ser plurilinear na sua construção, embora essa plurilinearidade aconteça tão somente a nível micro-estrutural (interpretações anafóricas, identificação referencial dos dêiticos, desambiguação não-imediata, mas ainda cotextual) e não se possa comparar com a não-linearidade “total”, macro-estrutural que caracteriza o hipertexto.
De um modo geral, a característica da não-linearidade é que torna o hipertexto um fenômeno essencialmente virtual e descentrado, que não se determina pelo desmembramento de um tópico, mas pelo deslocamento indefinido por tópicos. Trata-se de uma costura geral de discursos e não a construção de um discurso unidirecionalmente ordenado. Assim é que, aliado às vantagens da hipermídia, o hipertexto consegue integrar os mais diversos segmentos semióticos, de modo eficaz e sem qualquer sensação de estranheza. Em suma, subverte e redefine as funções dos constituintes textuais clássicos.
Não há dúvidas, pois, de que o hipertexto perturba a nossa noção linear de texto rompendo a estrutura convencional e as expectativas a ela associadas. Diferentemente, pois, do texto linear, a ordem das informações não está dada na própria estrutura da escrita. Ao contrário, a leitura dá-se em variadas ordens, em diversos percursos diferentes, com múltiplas forma de entrada e de processamento. (SNYDER, 1997, p. 17, apud MARCUSCHI, 2001), Para esse autor, navegamos com toda a liberdade pelas informações, como se estivéssemos imersos num continuum de discursos espalhados pela imensidão do ciberespaço.
Contudo, mesmo passando para o leitor o respectivo controle cognitivo e informacional, o hipertexto não se constitui como um agregado aleatório de enunciados ou fragmentos textuais: ele não é simplesmente uma seqüência de qualquer coisa, mas veicula uma idéia coerente, no mínimo, estruturável. Assim, a partir (ou apesar) das afirmações acima, ainda paira, entre os estudiosos do assunto, algumas questões pertinentes ao hipertexto, em termo de considerá-lo apenas um “texto diferenciado” ou nova forma de comunicação lingüística (talvez semiótica):
a) O hipertexto é um texto, já que se trata de uma produção virtual?
b) Trata-se de um novo gênero textual, já que não tem uma super-estrutura definida?
c) Seria o hipertexto apenas uma tecnologia da “intertextualidade” comum levada ao extremo, ou já se tornou ele uma nova tecnologia de produção textual?
d) Enfim, qual a natureza do hipertexto?
A questão central (parece-nos) implica, antes de tudo, conhecer as condições da textualidade do hipertexto. Dessa forma, acreditamos que a resposta às questões acima tem de ser buscada tanto na análise das características especiais dos hipertextos, naquilo em que tais características se afastam e se diferenciam das do texto convencional, como no exame das novas estratégias cognitivas necessárias ao processamento de um e de outro. De qualquer forma, as atuais Teorias do Texto, tal como as conhecemos, é que irão fornecer o suporte básico para a compreensão do funcionamento do hipertexto.
Visto, porém, que a Lingüística Textual vem se preocupando atualmente apenas com o processamento do texto escrito, ou seja, tão-somente com os processos mentais e estruturais da produção e compreensão da atividade escrita e que, ao contrário, os analistas do hipertexto preocuparam-se, até agora, tão-somente com o uso desses hipertextos, ou seja, com o acesso e o consumo dos mesmos para algum objetivo ou tarefa, convém que se faça um exame mais acurado do mecanismo desses hiperdocumentos, tendo em vista abordar as “novas” características de textualidade do hipertexto, bem como a natureza e amplitude dos novos mecanismos que envolvem o seu processamento. Somente assim poderemos verificar, com maior rigor se, entre o texto e o hipertexto, existe “algo mais” que o simples morfema –hiper (PERFETTI, 1996, p. 157, apud MARCUSCHI, 2001).
A primeira tarefa que se nos apresenta, portanto, será a de analisar as condições da textualidade do hipertexto. Segundo Marcuschi (2001, p.92), as características que, em geral, determinam a natureza do hipertexto, são as seguintes:
a) Não-linearidade: essa característica aponta para a flexibilidade desenvolvida na forma de ligações permitidas/sugeridas entre os nós, constituindo-se em redes que permitem a elaboração de vias navegáveis (apud NELSON, 1991); a não-linearidade é tida como a característica central do hipertexto;
b) Volatilidade: o hipertexto não tem estabilidade (apud BOLTER, 1991, p. 31) e todas as escolhas são tão passageiras quanto as conexões estabelecidas por seus leitores; esta é a característica que torna o hipertexto um fenômeno essencialmente virtual, decorrendo daí boa parte de suas demais propriedades;
c) Topografia: o hipertexto não é hierárquico nem tópico, mas topográfico (apud BOLTER, 199, p. 25); trata-se, assim, de um espaço de escritura e leitura que não tem limites definidos para se desenvolver;
d) Fragmentariedade: consiste na constante ligação de porções, em geral, breves, com sempre possíveis retornos ou fugas; trata-se de uma característica bastante central para a noção de que o hipertexto carece de um centro regulador imanente, fazendo com o autor não detenha mais controle do tópico e, conseqüentemente, do leitor;
e) Acessibilidade ilimitada: o hipertexto acessa todo tipo de fonte, sejam elas dicionários, enciclopédias, museus, obras científicas, literárias, arquitetônicas etc. e, em princípio, não experimenta limites quanto às ligações que permite estabelecer;
f) Multisemiose: este traço caracteriza-se pela possibilidade de o hipertexto interconectar, simultaneamente, a linguagem verbal com a não-verbal (musical, cinematográfica, visual e gestual) de forma integrativa, impossível no caso do livro impresso (BOLTER, 1991, p. 27);
g) Interatividade: refere-se à interconexão interativa (BOLTER, 1991, p. 27) que, por um lado, é propiciada pela multisemiose e pela acessibilidade ilimitada e, por outro lado, pela contínua relação de um leitor-navegador com múltiplos autores, cuja “quase” sobreposição em tempo real chega a simular uma interação verbal face-a-face;
h) Iteratividade: diz respeito à natureza intrinsecamente intertextual do hipertexto, marcada pela recursividade de textos ou de fragmentos (de citações, notas, consultas etc.).
Comparado, pois, ao texto convencional, temos que, embora apenas uma das características apresentadas acima (a topografia, uma característica sui generis do hipertexto), possa ser considerada totalmente inovadora (uma vez que desestabiliza os frames de que dispomos para identificar limites textuais), todas as demais somente poderão ser realmente plenificadas nessa nova modalidade virtual de linguagem.

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]

Post a message:
This forum requires an account to post.
[ Create Account ]
[ Login ]
[ Contact Forum Admin ]


Forum timezone: GMT-8
VF Version: 3.00b, ConfDB:
Before posting please read our privacy policy.
VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.