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Focus, Paulo Caetano, 04/09/2002
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Date Posted: 20/02/05 15:09:04
Focus, Paulo Caetano, 04/09/2002
MRPP
Zangas antigas
Há mais de 25 anos que Maria José Morgado, ex-directora nacional adjunta da Judiciária, não dirige palavra a Durão Barroso
Os amigos de Maria José Morgado não têm a mais pequena dúvida: ela não esquece as afrontas e as ofensas - e, quando se zanga, zanga-se para sempre. Hoje, é magistrada do Ministério Público, procuradora-geral-adjunta no Tribunal da Relação de Lisboa, e até há uma semana comandava a direcção da Polícia Judiciária na luta contra os crimes de colarinho branco.
Quando rebentou a Revolução de 25 de Abril de 1974, Maria José Morgado e o seu companheiro de sempre, José Luís Saldanha Sanches, ambos estudantes de Direito, militavam no MRPP - o partido de inspiração maoísta fundado em Setembro de 1970 por Arnaldo Matos e Fernando Rosas. Nos tempos de brasa que se seguiram à Revolução, o MRPP ganhou simpatizantes e militantes, sobretudo o braço estudantil do partido, a Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas (FEML) - que nos liceus e na Faculdade de Direito de Lisboa movimentava grande número de estudantes.
O Comité Lenine, a cúpula dirigente do MRPP, onde pontificavam, entre outros, Arnaldo Matos, Fernando Rosas, Saldanha Sanches e Luís Marques, definiu o rumo revolucionário a seguir - e elegeu como inimigo político principal o PCP, apontado com um partido "revisionista" e "social-fascista". Esta "linha vermelha", pura e dura, era contrariada no interior do comité central do MRPP por Saldanha Sanches, ex-militante do PCP - que defendia o entendimento com os comunistas. Poucos o ouviam. Nas ruas, nos liceus e nas universidades, o inimigo tinha sido marcado por Arnaldo Matos: era preciso combater o PCP, até à cacetada.
Na Faculdade de Direito de Lisboa, um jovem aluno militante da Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas deu nas vistas pelo empenho e fervor com que defendia a "linha vermelha" traçada pelo Comité Lenine: era Durão Barroso. Mas na direcção da FEML estava Maria José Morgado, que alinhava com Saldanha Sanches na necessidade de o MRPP não hostilizar o PCP.
A luta interna no MRPP atingiu o ponto de fusão em Outubro de 1975, quando a direcção do partido expulsou Saldanha Sanches, acusado de pertencer à "linha negra". Maria José Morgado continuou a opor-se à cúpula dirigente - e fê-lo com a mesma coragem com que, antes do 25 de Abril, enfrentou durante seis meses as torturas infligidas pela polícia política do regime e, após a Revolução, amargou 11 dias de prisão às ordens de Otelo. Nem o "heróico passado revolucionário" a salvou das diabruras do aguerrido Barroso.
Num artigo publicado no Luta Popular, o jornal do MRPP, um militante com o pseudónimo Veiga destilava fel contra Maria José Morgado. O texto tinha o sugestivo título de Fogo sobre a renegada Morgado e o autor era Durão Barroso - o camarada Veiga. Maria José Morgado abandonou o MRPP pouco tempo depois. Nunca perdoou a Barroso.
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