VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

21/12/24 11:18:52Login ] [ Contact Forum Admin ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 123456789 ]
Subject: O necessário choque cultural


Author:
José Manuel Fernandes
[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]
Date Posted: 11/03/05 22:47:07
In reply to: Fernando Penim Redondo 's message, "Entrevista com Manuel Castells" on 10/03/05 13:09:41

A mensagem de Manuel Castells não é apenas de que precisamos de mais inovação: é que para conseguirmos estimular a inovação precisamos de mudar hábitos e comportamentos de uma forma tão radical que isso corresponde a encontrar um novo paradigma cultural

A entrevista que hoje publicamos com o sociólogo Manuel Castells não é susceptível de gerar grandes optimismos. Mais: multiplica as inquietações.
O facto de Castells, autor do mais completo estudo sobre as sociedades em rede, fazer a sua própria autocrítica pela sua quota-parte no fracasso, até ao momento, da estratégia de Lisboa e apontar novos caminhos é um exercício de lucidez que nos deve inspirar. Não para desistir de uma estratégia de desenvolvimento que é a única viável para mantermos níveis elevados de rendimento e bem-estar, mas para corrigir o que necessita de ser corrigido.
Para o sociólogo, nas sociedades europeias - ao contrário do que se passa nos Estados Unidos - é necessário que o sector público desempenhe um papel central na mudança dos modelos de desenvolvimento. O problema é que isso não deve ser entendido como sinónimo de estatismo. Por outras palavras: na Europa não existe na sociedade civil e no tecido empresarial o mesmo dinamismo que encontramos nos EUA e, por isso, é necessário um empurrão do sector público e da administração; porém, o sector público e a administração não são capazes de produzir inovação, pelo que o seu papel não deve ser fazer, antes "fazer fazer".
Dizer isto em países como Portugal, sugerir que é este o caminho, é quase sinónimo de pedir o impossível. Primeiro, porque a administração pública que o sociólogo diz ser necessária é a antítese da que temos. Enquanto a nossa administração se baseia no secretismo, nas capelinhas, na desconfiança face aos cidadãos, na incapacidade de partilhar informação no seu interior, é pesada e burocrática, a que Castells sugere deve funcionar de forma transversal, ser transparente e acreditar nos cidadãos e nas suas capacidades.
Depois, porque a nossa sociedade civil vive à babugem do Estado, tem pouca ou nenhuma capacidade de arriscar em projectos novos, relaciona-se com base em contratos blindados e leis labirínticas e reage mais depressa por inveja do sucesso do que por prazer de o inventar.
"Para os inovadores o trabalho é um prazer, onde o jogo e a inovação se misturam", disse-nos. "Ganhar dinheiro é a última das preocupações." Para os portugueses é ao contrário: o que conta é ganhar dinheiro e ter segurança no emprego, ter uma casa e carro à porta. Ou seja, o que se deve esperar de uma sociedade que ainda mantém uma mentalidade rural e aldeã, que não valoriza a educação, onde a ética do trabalho caiu em descrédito e se é avesso a qualquer risco.
Num país pequeno, como Portugal, Castells considera que se deve apostar nas pequenas e médias empresas, às quais falta contudo massa crítica, algo que só podem obter cooperando. Ora, acrescenta, "não é fácil fazê-lo numa cultura de desconfiança". Mas também não é possível fazê-lo por via da intervenção estatal, pois não é com "o Estado a produzir e a mandar" que progridem as sociedades baseadas na inovação e que funcionam em rede. Daí que, se quisermos inverter o nosso ciclo de decadência, temos não só de reformar o Estado e a administração como de assumir que não serão estes a salvar-nos. Teremos de ser nós, enfrentando um problema sempre ausente do debate político: o de saber como mudamos de paradigma cultural, como vencemos os atavismos, os receios e os bloqueios culturais provincianos e retrógrados deste país de lamurientos "velhos do Restelo".

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]

Replies:
Subject Author Date
Re: Entrevista com Manuel CastellsCínico em Pessoa12/03/05 0:04:58
    Re: Entrevista com Manuel CastellsPuto Irritante12/03/05 22:52:41


    Post a message:
    This forum requires an account to post.
    [ Create Account ]
    [ Login ]
    [ Contact Forum Admin ]


    Forum timezone: GMT+0
    VF Version: 3.00b, ConfDB:
    Before posting please read our privacy policy.
    VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
    Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.