Subject: será o referendo um mau processo? |
Author:
paulo fidalgo
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Date Posted: 2/06/05 15:10:32
In reply to:
Fernando Penim Redondo
's message, "Um logro do tamanho da Europa" on 1/06/05 19:05:19
Será que o Referendo não serve para decidir sobre a Europa?
Parece-me uma evidência que o Fernando discorda de um processo de decisão baseado em referendo na questão do tratado.
Eu sou, por razões estratégicas de construção socialista, a favor dos instrumentos de democracia participativa como o referendo. Que aliás, na minha opinião, devem fazer parte daquilo a que se convencionou chamar de «poder popular» ou poder de base soviético. Tendo em conta as reflexões de Lenine sobre a Suiça.
Mas não é isso que quero agora discutir.
O que quero discutir é a complexidade da questão do tratado como supostamente impeditiva de uma escolha informada quanto ao dito cujo.
Eu acho que este ponto de vista, manifestamente o do Fernando, parte da ideia comum de que o processo de decisão é primeiramente um momento racional e depois de decisão.
Em neurociências, já vários (Hanna Damásio) sublinharam que isso não é bem assim e que em primeiro lugar a escolha é da esfera emocional e, então, vem depois a racionalidade para a escolha que se tinha gostado de tomar. Mas muitos anos antes, em 1968, Lukács, talvez pela sua veia de crítico de arte, comentou a teleologia em política.
Desde as luzes, dos modernos e dos marxistas, que a análise de decisão tende a ser fundamentada na racionalidade, o que quer que isso seja. Contudo, Lukács sublinha que a arte é muitas vezes suscitadora de novos paradigmas, sem aparente fundamento racional, muito tempo antes da racionalidade vir a dar suporte ao caminho estético antes empreendido. Assim, no «the process of democratization» Lukacs estuda o papel da decisão teleológica em política, por oposição à decisão «lógica». Assim como o papel da «utopia» versus o plano «cientificamente» gizado. Ou se quisermos ser mais modernaços, podemos falar do papel das metanarrativas, figura de crítica dos pos-modernos aos modernos.
O que Lukacs chama à atenção é para a ideia que a decisão teleológica alimenta fortemente a evolução social e que a falta de aparente suporte da racionalidade poderá apenas exprimir um interesse ainda não compreendido cabalmente
pelos dispositivos da racionalidade.
Por isso, em contraponto ao Fernando, eu acho que o que é importante é perceber porque é que agora as pessoas parecem não querer avalizar um edifício muito mais complexo de tipo Estatal central na União Europeia. E quererem «slow-down» o processo. Parece-me muito mais importante compreender este estado de espírito do que contestar a sua expressão por via referendária.
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