Subject: Eurocepticismo instalou-se na Holanda |
Author:
Arie Pos
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Date Posted: 2/06/05 19:48:46
In reply to:
Fernando Penim Redondo
's message, "Um logro do tamanho da Europa" on 1/06/05 19:05:19
Entrevista com Arie Pos
(professor de estudos holandeses na Universidade de Coimbra)
O que pode explicar a vitória do "não" no referendo sobre o tratado constitucional europeu na Holanda?
Vários factores, talvez o mais importante seja o medo de decidir e de escolher uma coisa sobre a qual os holandeses estão mal informados, pois o Governo fez uma campanha desastrosa para convencer as pessoas a ir votar sim.
Acha que uma campanha tardia acabou por favorecer o voto no "não"?
A campanha começou tarde, quando os governantes descobriram que a tendência era o "não", passando a ser feita sobre a forma de ameaça, falando-se em cenários de guerra e no risco de a Holanda perder o comboio da Europa. A campanha tardia veio crispar os holandeses, porque ninguém gosta de ser influenciado na sua decisão de uma forma tão frontal, tendo o próprio ministro dos Negócios Estrangeiros dito que para votar "não" era melhor ficar em casa. Eu vi na televisão holandesa especialistas reconhecerem que houve uma campanha sem argumentos e de chantagem.
Essa chantagem pode mesmo ter mobilizado alguns abstencionistas?
Acho, realmente, que pode ter levado mais pessoas para o lado do "não" do que para o "sim".
Apesar de este chumbo também poder ser visto como protesto ao Governo, o primeiro-ministro Balkenende já disse que não haveria qualquer demissão, como aconteceu em França.
Isso está para se ver. Mesmo que o Governo não se demita, vai ter de fazer algo, vai ter de haver um maior diálogo. O protesto ao Governo está também relacionado com o facto de transformar os assuntos europeus numa questão de sigilo e não dar informação.
Esta rejeição é um sinal de que os cidadãos exigem maior diálogo, podendo pronunciar-se, nomeadamente, em relação ao alargamento da UE?
O referendo é uma medida extrema, mas também uma forma de os cidadãos dizerem que querem mais diálogo, com mais frequência. No que diz respeito ao alargamento, muitas pessoas não o encaram bem, porque sendo a Holanda um país fundador, tem agora a sua identidade perdida no meio de 25 ou mais membros.
A adesão da Turquia à UE e a imigração foram, de alguma forma, uma das partes do motor deste resultado?
Essas questões podem ter sido motores para uma parte dos que disseram "não", mas não da maioria, pois o que existe não é medo da ameaça turca mas, como já disse, dificuldade por parte dos holandeses em perceber como é que o seu país vai defender os seus interesses numa UE alargada. No que diz respeito à imigração, houve alguma inquietação após a morte do cineasta Theo van Gogh e consciência de que ser tolerante pode ser perigoso, mas apenas no seio de alguns grupos.
No que é que o "não" holandês é diferente do "não" francês de domingo.
É difícil identificar diferenças, mas na Holanda ninguém poderá dizer que a vitória do "não" é um triunfo de partidos de extrema-direita ou esquerda, como alguns disseram em relação à França. O "não" teria ganho mesmo que o "sim" ganhasse em França, porque na Holanda a propaganda do Governo teve um efeito contrário.
Há euroceptimismo na Holanda?
O eurocepticismo instalou-se na Holanda. Quando, em 1952, houve um referendo em duas cidades holandesas para avaliar a necessidade de uma Europa unida, o "sim" ganhou. Mas os que então votaram, mudaram agora para o "não", porque acham que a UE transformou-se numa coisa diferente da que imaginaram, numa coisa muito difícil de controlar.
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