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| Subject: A esquerda, segundo Sócrates | |
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Author: Vasco Pulido Valente (Público, 17 Novembro 2006) |
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Date Posted: 17/11/06 15:51:48 In reply to: Vasco Pulido Valente 's message, "Sócrates na esquerda" on 11/11/06 14:57:51 A esquerda, segundo Sócrates Vasco Pulido Valente No congresso de Santarém, Sócrates explicou, finalmente, o que é ser de esquerda: ser de esquerda é defender o Estado Social ou, mais precisamente, a "sustentabilidade" do Estado Social. Houve gente que apreciou muito esta saída. Não lhe ocorreu que Sócrates, no fundo, não disse nada. Para começar, não definiu "Estado Social" ou, se preferirem, não definiu os limites do Estado Social. Como, na Europa, o papel desse Estado tem aumentado sem parar desde a última guerra (e, em Portugal, desde Caetano), convinha saber o que em teoria fica ou não fica de fora. Sem saber isto, não sabemos também do que estamos politicamente a falar. Ou, por outras palavras, convinha saber quais são os deveres do Estado e os deveres do cidadão, porque a "sustentabilidade" do Estado Social e, mais grave ainda, a liberdade do indivíduo dependem do que a resposta for. Sem ela, sem essa resposta, a definição que Sócrates deu da esquerda não faz sentido. Vale como propaganda e chega para contentar alguns pensadores de trazer por casa, mas não passa daí. É, de resto, um sinal de que Sócrates não vê um palmo à frente do nariz. Forçado pelo défice a diminuir, ou a travar, a despesa pública, resolveu promover o exercício do "corta" aqui, corta "acolá" à dignidade de uma filosofia. Não percebe com certeza a diferença entre uma reforma e um remendo temporário para poupar dinheiro. Um pouco mais pobre, o Estado Social que ele herdou continua intacto e tão insustentável como era: com a mesma ineficiência, a mesma lógica, os mesmos fins. Ser de esquerda é prolongar, contra a realidade e o bom senso, a vida dessa aberração? Admito. Mas nem assim a definição de Sócrates me parece aceitável. Como ele próprio reconheceu no discurso de Santarém, numa frase que ninguém citou, em toda a "Europa" a direita, nomeadamente a "verdadeira democracia-cristã", quer, como a esquerda, defender a "sustentabilidade" do Estado Social. Donde se conclui que em toda a Europa a direita é de esquerda. E é, de facto, porque tem (noutra escala, claro) um problema igualzinho ao de Sócrates: pagar o Estado Social com uma economia que o não pode pagar e que ele sufoca. Os pensadores oficiais do PS precisam de pensar. Pelo menos por enquanto, a defesa do Estado Social, ou do "modelo social europeu", universalmente aceite, na prática acabou com a esquerda e a direita. E a demagogia de Sócrates, que talvez sirva para animar a malta, não chega para ressuscitar a esquerda. [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |