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Subject: A "normalização" da França? | |
Author: Teresa de Sousa (Público, 08.05.2007) |
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Date Posted: 9/05/07 12:56:15 1. Escrevia no Monde o sociólogo francês Michel Wieviorka na véspera da segunda volta das eleições presidenciais francesas: "(...) Em poucos meses, a França atravessou o rio. Ainda ontem, sociólogos e políticos falavam com toda a justiça de crise de representação ou de défice do político. Acabou. O nosso país está em vias de uma imensa mutação do seu sistema político." Em vias. Como mandam as boas práticas da V República, falta ainda aos franceses cumprir a "terceira volta" das presidenciais para que a nova paisagem política da França se desenhe com maior clareza. Mas os contornos da mudança já estão lá todos. A primeira volta das eleições presidenciais, com uma afluência às urnas raramente vista, começou por sinalizar a reconciliação dos franceses com a política. E acabou eliminando aquilo que de mais arcaico havia no sistema partidário francês. À esquerda, Ségolène Royal pulverizou a miríade de pequenas formações extremistas e radicais e enviou definitivamente o Partido Comunista para o museu (Marie--George Buffet obteve 1,9 por cento dos votos). Fechou um ciclo, que começou com François Mitterrand e o seu "programa comum da esquerda" e que passou pela "esquerda plural" de Jospin. Abriu outro, que falta ainda concluir, mas que passará inexoravelmente pela social- -democratização do PSF. Do outro lado, a direita descomplexada de Sarkozy desferiu, acreditam quase todos os analistas, a machadada fatal na extrema-direita xenófoba de Jean-Marie le Pen. Escreve também Wieviorka que, mesmo que se possa falar de "lepenização" do discurso da direita, o que é duvidoso, Sarkozy conseguiu reconciliar uma parte significativa do eleitorado da Frente Nacional com a direita democrática. Acrescenta Jean-Marie Colombani no Monde: " A grande mudança política do período que agora se abre traduz-se no sucesso da estratégia de Sarkozy, que visou e que conseguiu captar o eleitorado de extrema-direita". E acrescenta: "Repetição à direita do que foi para a esquerda a estratégia de Mitterrand face ao Partido Comunista". Digamos que este esvaziamento das amplas margens anti-sistema que desfiguravam a paisagem política francesa acabou por criar ao centro um espaço de resistência que deu a François Bayrou mais de 18 por cento do eleitorado na primeira volta e lhe dá agora a ambição de se transformar na terceira força do sistema partidário francês. Falta fazer a prova nas legislativas de que se trata de um fenómeno para durar e não de uma mera via de passagem. 2. Mas não foi este apenas o mérito de Nicolas Sarkozy nem sequer a única explicação para a sua vitória. O facto de ter começado mais cedo e de forma mais sistemática a renovação do partido gaullista é, para muitos analistas franceses, de direita como de esquerda, a chave para a explicação do que aconteceu na noite de domingo. Fê-lo com coerência, sem concessões, correndo riscos, desde que conquistou a liderança da UMP de Chirac em 2004. Transformou o velho partido gaullista num "grande partido popular, moderno", escreve Wieviorka. Conservador nos valores, liberal na economia, mais aberto ao mundo, um pouco à imagem dos tories britânicos da era pós-Blair. Sarkozy foi o primeiro líder neogaullista "a apresentar-se de direita sem complexos", ultrapassando os traumas deixados pela guerra" na direita democrática francesa, escreve Thierry Wolton, no Figaro. "A direita desembaraçou- -se do seu fardo histórico" obrigando, ao mesmo tempo, "os seus adversários a rever as suas estratégias, se quiserem vir a pesar no curso dos acontecimentos". Recuperou os velhos valores tradicionais do trabalho, da autoridade e da ordem, colocando-os no coração da sua campanha. Colocou pela primeira vez a esquerda na defensiva no que respeita aos valores morais (daí, a insistência nos ataques desferidos contra o Maio de 68). Fez as pazes com o liberalismo económico (mesmo que na sua versão francesa), transformando-se no principal factor de mudança, e foi isso que os eleitores compensaram. São, aliás, vários os analistas que se deixam tentar pela tese de que, como Blair precisou de Thatcher ou Clinton de Reagan, também a esquerda socialista francesa vai precisar de Sarkozy para se renovar. Escreve de novo Wolton: "A experiência das outras democracias prova que uma direita forte e assumida favorece uma esquerda reformada e reformadora". 3. A derrota de Ségolène significa, pelo menos, "que a esquerda entrou atrasada nesta era da renovação política", escreve de novo Wieviorka. "Se quiser governar a França, não lhe resta outro caminho senão transformar-se num partido social-democrata." Pós-ideológico, pragmático e moderno. Royal iniciou o percurso impondo a sua candidatura ao PSF graças ao apoio popular. Iniciou uma reforma dos valores e da forma de fazer política, mas faltou-lhe um programa coerente no domínio das reformas económicas e sociais para contrapor a Sarkozy. Todos os estudos de opinião o demonstraram: foi nesse domínio que a candidata mais falhou o teste da credibilidade. Deu alguns sinais de abertura, mas rapidamente se entrincheirou nas velhas fórmulas da esquerda francesa sobre o intervencionismo do Estado e sobre a engenharia social (a defesa das 35 horas). Apesar da derrota, haverá alguém, melhor do que ela, para encarnar o desejo de mudança da esquerda francesa? Provavelmente não. Ver-se-á com que (velho?) rosto e com que programa o PSF se vai apresentar nas eleições legislativas. A verdadeira renovação terá, no entanto, de começar depois delas. E aí há que contar com o factor Bayrou e com o seu novo "movimento democrático". Se Bayrou apostar numa "terceira força" nem à esquerda nem à direita, como tudo parece indicar, a sua sobrevivência pode não ser fácil. Se, pelo contrário, se posicionar como uma força de centro- -esquerda, então poderá vir a funcionar como um estímulo para a modernização dos socialistas. [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |
Subject | Author | Date |
Os resultados da primeira volta | Fernando Penim Redondo | 9/05/07 13:06:47 |
Ou a França a contra-pé? Com vai sendo costume. Olham tanto para o umbigo. | Observador divertido e com pachorra | 9/05/07 22:24:54 |