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Subject: Um perfil católico da classe média | |
Author: Odiario |
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Date Posted: 14/03/07 18:23:14 Um perfil católico da classe média “É na classe média que a Igreja dispõe do seu bastião principal de apoio e dos seus mais importantes meios de mobilização. É também aí que vai recrutar o grupo central dos seus agentes económicos que depois educa e promove financeira e socialmente. É, ainda, no Centro pequeno-burguês que a igreja recolhe parte importante do seu património de doações e heranças e capta as vocações que povoam os seus colégios e seminários.” Jorge Messias - 14.03.07 Em ordem de batalha, a primeira linha das forças capitalistas combate na vanguarda, enquanto poderosas unidades de reserva que incluem a “sociedade civil“ se acantonam no centro do xadrez político. É uma área vastíssima e bem povoada por uma população híbrida de burguesia estruturante (fruto de sucessivas gerações burguesas), de camadas de novos-ricos, de oportunistas de passagem não enraizados, etc. O centro é classista, no sentido de estar compartimentado em níveis sociais distintos como os da baixa, média e alta classe média, com interesses imediatos divergentes. Mas, por natureza, é socialmente amorfa e escapa-se a qualquer caracterização rígida. Por isso, é sempre cobiçado pela direita política e pela igreja que, situando-se na primeira linha da frente, mantêm no entanto com o Centro um vai-e-vem permanente e nele procuram refúgio em épocas de crise. É na classe média que a Igreja dispõe do seu bastião principal de apoio e dos seus mais importantes meios de mobilização. É também aí que vai recrutar o grupo central dos seus agentes económicos que depois educa e promove financeira e socialmente. É, ainda, no Centro pequeno-burguês que a igreja recolhe parte importante do seu património de doações e heranças e capta as vocações que povoam os seus colégios e seminários. A partir da classe média e das suas potencialidades, a igreja procura organizar a sociedade em rede, de forma a transferir do Estado para instituições pretensamente laicas ou abertamente confessionais, os poderes que àquele são atribuídos pela Constituição do país. É esse o significado da subsidariedade. Ao conjunto organizado das suas sucursais laicas, a igreja chama sociedade civil. Elos extremamente importantes na ligação entre a sociedade neoliberal e a igreja. Será através da existência de um Estado reduzido a funções de manutenção da ordem pública e de generoso mecenas gerador de subsídios directos e indirectos, que o Vaticano alcançará no futuro os seus ambiciosos objectivos secretos. O gradual desenvolvimento destes planos depara-se, no entanto, com dificuldades inesperadas. Dir-se-ia que igreja e classe média são uma só realidade. Puro engano. O terreno é inseguro. Sobretudo agora, quando a igreja institucional é confrontada com o seu próprio descrédito popular que tende a alastrar às elites dominantes. Ao estado capitalista não interessa a existência de uma estrutura religiosa demasiadamente forte e potencialmente rival. E não tem alternativa, para a rápida acumulação da riqueza que não seja a exploração do homem. Por isso, a classe média predominantemente católica, enriquecida com a especulação e o oportunismo, começa a receber os golpes de uma economia global que lhe cobiça o património e apenas beneficia um dos seus estratos, a burguesia-alta, detentora do poder financeiro. E aí o projecto neoliberal incorre numa grave contradição. Acresce o facto de nem sequer a Igreja, que pretende situar-se no plano transcendente da ideia pura, respeitar a classe média que é sua base de apoio principal. Procuraremos ver esta questão através de páginas públicas da doutrina social da igreja e das funções dos agentes activos de que dispõe no tabuleiro da acção política e social. Um testemunho irrecusável da Pastoral Social Na “III Semana Nacional da Pastoral Social” realizada em Fátima, em 1985, o padre Vítor Feytor Pinto, alto responsável eclesiástico na área sócio-caritativa da Igreja, produziu a seguinte intervenção que desde então figura nos anais das instituições da Pastoral Social. “A originalidade do método na Acção Social e Caritativa da Igreja 1 . A minha comunicação mais do que o enumerar certezas, no método da acção pastoral, é o levantar de questões perante uma acção social cristã que tende para aparecer igual à acção social que não se reclama das exigências do Evangelho. Não quero propor um receituário mas gostaria de oferecer uma caixa de ferramentas com as quais seja possível uma acção sócio-caritativa marcada pelos valores humano-cristãos fundamentais; gostaria de convidar todos a assumir o risco de quem experimenta e de quem erra, para acertar sempre melhor nos processos e métodos empregados na acção. “Caminhante, não há caminhos, os caminhos fazem-se a andar“. 2 . «A descoberta do método faz-se por comparação com a experiência de Cristo na Sua acção, conhecida através do Evangelho. Mas, para consegui-lo, é preciso: deixar as ideologias, manter os valores universais, intentar a conversão do próprio agente: a) Deixar as ideologias Uma vez que o agente da Pastoral Social é normalmente oriundo da classe média, convém recordar que a definição ideológica da classe média é essencialmente a sua indefinição. Eis alguns dos seus traços característicos: paira por cima das coisas, oscilando à direita e à esquerda sem se comprometer, mantendo quase sempre neutralismos que mais parecem acomodação oportunista, julgando poder negociar as soluções por qualquer preço; tem o gosto por teorias abstractas, a intelectualização dos problemas, o revolucionarismo teórico, à esquerda, o sectarismo político e atitude moralista, à direita, na compreensão e solução das questões sociais; vive no individualismo extremo que se manifesta através do isolamento social, do egoísmo de interesses, do privatismo na solução dos problemas e de uma certa alienação de sabor religioso e espiritual . É que o cristianismo não é uma ideologia, é uma experiência de vida. b) Manter os valores universais Todos os valores humanos e culturais que são úteis para a libertação do homem: a preparação técnica e as qualidades a pôr à disposição da comunidade a servir; as informações de carácter histórico ou da actualidade que permitam conhecer melhor a realidade a converter; a capacidade teórica para analisar as situações e sistematizar os conhecimentos; os valores de carácter humano: educação, simpatia, comunicabilidade, eficácia. É que Cristo foi exímio na dimensão humana da sua vida. c) Intentar a conversão do próprio agente Tem de realizar uma profunda mudança de vida na sua relação com o outro e, também, na sua relação com Cristo, definitivamente tornado valor absoluto e referência permanente. 3 . Talvez que o debate seja mais importante do que a minha exposição. A partir da vossa prática, do que estão a fazer no quotidiano da acção social. Confrontando-se com a experiência de Cristo, é mais fácil encontrar os caminhos certos. A obra de descoberta é de nós todos. Atenção, porém, aos modelos de agente, às etapas de Crescimento e à mística do trabalho social. a) aos modelos de agente, se ele for um animador ou um paternalista. Tem de aparecer mais como um parteiro que ajuda a dar à luz e não como um genitor, um pai que gera o filho. Tem de aparecer mais como um agricultor que cuida a terra para que produza, mais do que artesão ou fabricante que manipula as coisas. Tem de aparecer como um médico ou como um enfermeiro, que tratam do corpo para que ele seja autónomo, mais do que como um general que dá ordens para avançar ou recuar. É assim que o agente, à semelhança de Cristo no Evangelho, desperta energias internas, estimula, ajuda, serve mas nunca substitui, nunca, a pessoa. Reparem nas palavras de Cristo: “Vai, lava-te na piscina, mostra-te aos sacerdotes, levanta-te”, etc. O agente está atento, respeita, espera, mas nunca substitui. b) às etapas de Crescimento, que têm modelo próprio A princípio, trabalhar para as pessoas, como se as carregasse. Depois, trabalhar com as pessoas, amparando-as para caminharem por si. Finalmente, trabalhando como as pessoas, pondo-se ao lado delas, porque elas já caminham sós. É um encontro progressivo de reciprocidade que vai exigir uma inserção na vida concreta daqueles a quem assistimos. Inserção que se explicita em contactos vivos e não em relações superficiais. Numa participação regular nas actividades e iniciativas do grupo apoiado. No trabalho, nos costumes, nas preocupações, na vida das pessoas que ajudamos. Inserção, até na maneira de viver, para mergulhar mais a fundo nas condições de vida dos oprimidos e dos que sofrem. c) à Mística do Trabalho Social que passa necessariamente por algumas atitudes claramente definidoras da dimensão cristã da acção social. Amar as pessoas, independentemente de quem são, mas amá-las como são. Confiar nas pessoas, nas suas intenções e experiências. Apreciar o que diz respeito às pessoas concretas, aos seus valores culturais e, mesmo, apreciar o que dizem e fazem. Respeitar a liberdade das pessoas, a sua palavra, as suas iniciativas, a sua história e a sua capacidade de conversão, de mudança. Servir as pessoas, colocando-se à sua disposição, estando ao lado delas, trabalhando com elas. O critério infalível que desfaz todos os equívocos do serviço é este: se com o serviço se cria mais autonomia ou mais dependência, se pelo serviço se libertam as pessoas ou se se amarram»”. Ensaio de reflexão final O padre Feytor Pinto continuou, depois a desenvolver o seu importante depoimento, talvez sem suspeitar que ele seria mais tarde publicamente divulgado. No entanto, o seu texto é particularmente importante, mesmo que só considerado na parte que aqui se propõe à leitura. Levanta o véu das técnicas discretas usadas pelo Vaticano. Permite ver, por dentro, detalhes das estratégias da igreja. Justifica-se a particular atenção com que a igreja observa e intervém nas diferentes camadas das classes médias. Como se sabe, a hierarquia sustenta que o catolicismo não é uma ideologia que vise mudar o mundo e os sistemas que o regem. O que se passa, no seu entendimento, é que a religião cristã apenas fornece ao homem códigos morais de comportamento e lhe propõe a pratica da Caridade. Nada mais. Esta é a posição oficial. Nessa base teórica, a igreja constrói uma rede de proximidade aos mais humildes, como é o caso que aqui se expõe. Introduz os seus agentes na sociedade civil e prepara-os para as suas missões. Para que estas não falhem, estuda minuciosamente os seus campos de acção. E assim se chega à questão da classe média como sector importante das frentes de batalha da igreja católica. À sua importância como base de refúgio ou como ponto de partida para uma nova expansão. Não é uma caixa de ferramentas que o P. Feytor procura entregar aos seus soldados. Tudo aquilo que diz faz parte de um manual para a acção extremamente elucidativo e que exige reflexão. Tanta ou tão pouca, que a ela haverá necessidade de aqui se voltar. [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |