VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

21/12/24 13:44:33Login ] [ Contact Forum Admin ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 123456[7]89 ]
Subject: Jorge Coelho e a Ota


Author:
Miguel sousa Tavares
[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]
Date Posted: 24/03/07 11:21:32

Jorge Coelho e a Ota

Jorge Coelho, que é alguém que tem grandes responsabilidades e influência no Partido Socialista e na política, fez algumas afirmações sobre a Ota no programa ‘Quadratura do Círculo’ que não devem passar sem reparo. Porque elas mostram exuberantemente a leviandade política com que se pretende vender ao país, como facto consumado, um novo aeroporto.

Comecemos pelo mais chocante. Só por absoluta distracção ou por má-fé é que é possível dizer que a Ota “é uma obra em que o Estado não precisa de investir um cêntimo”. De facto, como ele próprio reconhece, contraditoriamente, logo a seguir, está previsto que o Estado responda por 10 a 20% do custo da obra, ficando o resto a cargo da iniciativa privada. Mas, como já aqui o disse, só mesmo alguém muito ingénuo é que acredita que os privados resolveram oferecer um aeroporto ao país, sem encargos para os contribuintes. Vamos pagá-lo e vamos pagá-lo bem mais caro que os 3.000 milhões de euros, anunciados pelo Governo como custo total. E vamos pagá-lo porque, ao contrário do que diz Jorge Coelho, não “está provado que não há rentabilidade num aeroporto de movimento inferior a 50 milhões de passageiros ao ano”. Há, sim: Lisboa (com 11 milhões) e Faro (com sete) aí estão para o desmentir - além de centenas de exemplos por esse mundo fora. Ora, é justamente com os lucros de exploração do novo aeroporto, mais os de Faro, que os privados se vão pagar da sua ‘generosidade’: ou através da privatização da ANA, que explora os aeroportos, ou através da concessão da sua exploração (por 30, 50 ou 100 anos, como diz Mário Lino, para quem o prazo parece ser apenas um detalhe sem importância). Não é preciso ter estudado Finanças Públicas para perceber que, quando o Estado abdica de uma receita, é o mesmo que estar a realizar uma despesa. Insistir neste argumento, para ver se ainda se consegue enganar alguns incautos, não é sério. Peço desculpa, mas não é sério.

Mas o mais importante nem é isso. O mais importante é confirmar, pela voz de Jorge Coelho, qual é o grande fundamento para a Ota: “O desenvolvimento das obras públicas é fundamental em Portugal e em qualquer outro país para dar o desenvolvimento do emprego e da economia”. É certo que o sector da construção e obras públicas é o que mais empregos cria no imediato. Só que grande parte ou a maioria desses empregos são precários e ocupados por imigrantes estrangeiros, como sucedeu com as auto-estradas, Alqueva, a Expo-98 ou os estádios do Euro-2000 - o que retira logo grande parte da razão de ser ao argumento. Mas nem o próprio Keynes, em nome de quem tantos disparates têm sido cometidos, se atreveu a defender a vantagem económica de obras públicas inúteis. Um aeroporto não serve para incentivar o sector de obras públicas nem para reanimar a economia - serve para satisfazer as necessidades dos seus utentes. Da mesma maneira que quando se decide fazer um hospital, o que o justifica são as necessidades dos utilizadores potenciais da sua área de localização e não as dos construtores civis locais. O país está cheio de obras feitas de acordo com esta filosofia e que hoje ou são inúteis e um encargo a manter para sempre ou são destinadas a fins diversos daqueles para que foram feitos, para tentar salvar qualquer coisa: o CCB, Alqueva, os estádios do Euro, a Exponor, alguns pavilhões da Expo, alguns hospitais, alguns tribunais, alguns auditórios e centros de congressos e muitas outras obras, não esquecendo os milhares de rotundas autárquicas.

A primeira questão a ser respondida é, pois, se precisamos de um novo aeroporto. Muita gente responde que sim, eu continuo à espera de ser convencido e, quando olho para Heathrow, Gatwick, Roissy, Frankfurt, Amsterdam, Malpenza ou Barajas (para falar só de aeroportos europeus) e comparo com a ‘saturação’ da Portela, só me dá vontade de sorrir com esta nossa mania das grandezas. Não quero repetir argumentos já aqui expostos, mas continuo à espera de ser esclarecido, sem margem para dúvidas: a) que a Portela está mesmo à beira da saturação; b) que, sendo isso verdade, tal facto não tem que ver apenas com a saturação ao nível do estacionamento na pista e que isso não é solucionável com obras de expansão; c) que, sendo mesmo necessário um novo aeroporto, não seria mais útil, mais rápido e infinitamente mais barato, fazer um aeroporto pequeno para as «low-cost», deixando a Portela para as linhas regulares, como se está a fazer em todo o lado?

Vamos, pois, fazer um novo aeroporto para servir os sectores da construção civil e obras públicas e, por acréscimo, o do turismo de massas. Isto diz muito sobre as apostas estratégicas do Governo. Trinta anos depois, asneira após asneira, continuamos a depositar uma fé inquebrantável nos mesmos «clusters» de sempre e desenvolvidos da mesma maneira de sempre, provadamente errada. As obras públicas só são uma aposta porque se deixou que o sector da construção crescesse além das necessidades do país: temos hoje duas matrizes urbanas por habitante e o mais alto índice europeu de proprietários de habitação própria. Os melhores locais para construção estão saturados e, por mais tropelias que se façam aos PDM e mais leis de excepção fabricadas «ad hoc», já não há muito mais onde construir com mercado. Restam as paisagens protegidas, que vão todas a eito, ou então a alternativa das obras públicas. O turismo está intimamente ligado ao destino do sector da construção: alimentaram-se um ao outro durante décadas, crescendo sem planeamento nem discernimento, numa continuada fuga em frente, sempre e sempre apoiada pelo Estado, pelos autarcas e pelos dinheiros públicos. Até que chegaram juntos à mesma encruzilhada: ou o Estado lhes acorre, dando-lhes aeroportos para construir e paisagens naturais para destruir, ou eles não têm futuro. Quando, por exemplo se chega àquela monstruosidade humana que é a Praia da Rocha, uma Brandoa à beira-mar, com torres e torres horrendas por todo o lado, que jamais serão rentáveis, e se vê uma placa a anunciar a “Requalificação da Praia da Rocha”, graças ao Programa Polis e aos dinheiros públicos, percebe-se bem aonde é que nos leva a política do turismo de massas.

É isso, essa aposta neste tipo de ‘desenvolvimento’ sem final feliz possível, que representa a Ota. É isso que Jorge Coelho defende. Um Estado que está falido ao ponto de cobrar taxa de intervenção cirúrgica e de internamento nos hospitais públicos, ou ao ponto de querer cobrar 500 euros de taxa de justiça a um cidadão que é vítima de um roubo de valor não superior a 100 euros, sob pena de não haver crime nem julgamento e o ladrão ficar-se a rir, mas que não está falido para construir um aeroporto desnecessário e que vai servir pior os seus utentes. Para bem da economia, dizem eles. Ou porque há clientela a satisfazer

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]


Post a message:
This forum requires an account to post.
[ Create Account ]
[ Login ]
[ Contact Forum Admin ]


Forum timezone: GMT+0
VF Version: 3.00b, ConfDB:
Before posting please read our privacy policy.
VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.