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Subject: Portugal censurado | |
Author: César Príncipe |
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Date Posted: 14/09/07 14:13:38 Depoimento para memória futura Portugal censurado por César Príncipe No tempo em que a censura era declarada. Era uma espécie de guerra civil permanente contra a inteligência, contra a lucidez, contra a alfabetização cultural, contra a dignidade, um genocídio da consciência pública. O regime teve a Polícia PoLítica mas os censores também eram polícias. Uns torturavam corpos, outros torturavam palavras e imagens. Vivíamos num país artificial. Assim, por exemplo, não havia epidemias de gripe ou moviMentos greVistas. Seccionavam a realidade. Estás a sofrer – sofre sozinho. Os outros não tinham nada que saber. [1] E HOJE? A Censura não desarmou: alterou critérios de valorização e desvalorização, de artificialização da realidade. Hoje, até se agravam os riscos e os sintomas da gripe para vender fármacos das multinacionais americano-helvéticas. A opinião pública e os Governos são pressionados por campanhas de terrorismo viral (exemplo: gripe das aves), a fim de se atestarem os stocks de paliativos, ao que se diz, pouco mais do que inúteis face a uma verdadeira pandemia, que nunca será de descartar do horizonte científico mas que requereria uma abordagem não de ciclos de proPAGAnda mas de prevenção escrupulosa. Mas que interessará uma postura de prudência metodológica às multinacionais da Saúde e aos seus parceiros inFormativos? Interessa-lhes fomentar vagas de ansiedade. Estão empenhados, antes e acima de qualquer outra preocupação, na Pandemia Mediática. Ela surte efeitos iMediáticos. Ela já provocou um efeito contagioso global e, acima de tudo, já rendeu biliões aos LabOratórios da Guerra Química Farmacológica. Operadas as encomendas, obtido o efeito da vaga de medo, os média, instruMentos activos ou passivos do marketing sanitário-eis que as centrais de telecomando descalendarizam o iminente apocalipse aviário: o perigo parece haver-se auSentado para parte incerta e para uma era remota, deixando os especialistas de Saúde Pública e os comentadores mórbidos momentaneaMente sem protagonismo nos meios de Comunicação. Facto também imposto às Agendas, constantemente preenchidas de consPiratas: as remessas de antrax. A partir dos USA, remeteram-se, através dos Coreios ou largaram-se em pontos de alarme, doses de antrax ou de farináceos e talcos com aspecto terrificante: a Comunicação Social e o Procurador dos USA deram a prevista cobertura à vaga de pânico. O antrax foi servido 24 horas diárias ao Planeta em Perigo e principalMente aos norte-americanos, cidadãos que passaram a adormecer e a acordar com o antrax e o Michael Jackson. Todavia, mau grado numerosas e preTensas pistas e tantos destinatários (sociais e institucionais) e tanta diversidade de saquetas, jamais se encontrou matéria para levar um suspeito à presença da Justiça. E chegaram a anunciar-se pulverizações generalizadas de antrax e de outras substâncias apocalípticas em datas estimáveis como 4 de Julho, Dia da Independência dos USA ou em sítios de grande clamor místico ou lúdico, igrejas e recintos desportivos. E as cartas pestíferas penetraram no Senado dos USA e no Parlamento Europeu e todos os credos e todas as raças estremeceram com as epístolas do Juízo Final. Até que o agente infiltrado saiu das estratégias. Escapara-se uma ponta da War Terror: algumas investigações mais inadvertidas começavam a aproximar-se de laboratóros militares USA. Estava-se a ver que a tenebrosa máquina do antrax não se situaria nas brenhas do Afeganistão. A campanha foi-se desvanecendo: não convinha aprofundar a fonte de despacho do produto nem as motivações. Havia-se esgotado o alcance da nova arma. PrinciPiavam a surgir contra-indicações na teraPia de choque. Cheirava a esturro ou a Operação dos Serviços Secretos, patrocinada pelo poder político, para instaurar o medo e paralisar a oposição ao desastre iraquiano-afegão, vendendo-se a ideia de que o terrorismo não era um problema da Casa Branca ou do Pentágono ou que apenas viesse a afectar mais uns edifícios e serviços-antes se tratava de uma Questão de Toda a América e de Todo o Mundo. Para se interiorizar a iminência do Armagedon em pacotes, soltaram-se uns pozinhos sorrateiros, direccionados como mandam os manuais. E quem, nos intrincados Meios de Representação e Decisão dos USA, ousaria negar as evidências ou regatear orçamentos de salvação nacional? Toca a telecomandar a opinião publicada e a opinião pública. Os mercenários em estado de prontidão, os consumiDores acéFalos e as criaturas de hímen complacente sufragaram a arremetida. O antrax passeou-se durante o tempo aprazado pelos programadores de fobias ou de empatias. O jornalismo de pacotilha não perdeu um pacote. Os pivots sentiram-se mensageiros de causas universais. Introduziram na Agenda e retiraram da Agenda o assunto que o amo lhes meteu nas mãos. Os comentadores de serviço também fizeram render o antrax na Bolsa Mediática. Até que o antrax desapareceu com pezinhos de lã ou de diabrete. Os comunicadores não se interrogaram. São pagos para informarem o menos possível. Toca a meter a viola ao saco. Já no que toca a moviMentos/accções grevistas, o caso muda de figura: os média do sisTema (quase todos, sobretudo os principais) não sobrevalorizam-tudo fazem para desvalorizar. RaraMente uma greve merece primeira página ou abertura de telejornais ou rádios, a não ser para a desmobilizar, dando voz a entidades oficiais e emPRESAriais e a segMentos populacionais afectados pela paralisação. Os directores-editores-redActores sempre encontram um tema aliciante para ocupar o horário nobre : um alarido futebolístico que mantenha o País Pasmado (há heróis, drAmas, feitos históRicos, mobilização em directo para os clAmores da Pátria) ou um record do Guiness que faça crer num País de Sucesso ou um crime escabroso para cevar a Psicanálise do País da Virgem ou um prato-forte de sangue com chapa retorcida ou um arrastão balnear que nunca ocorreu ou uma manifestação de fé que remova montanhas ou um ajuntaMento de hipopótamos neonazis ou uma concentração de calhambeques nostálgicos ou um desfile de vibraDores e bidés do Regime ou um concerto de ruído ou uma queima de cerveja ou uma rajada de 80 kms/h nas zonas costeiras e nas terras altas. Por regra, reduzem ao mínimo o direito de exPressão do mundo labOral. Por regra, evitam imagens ou, no limite, não aproveitam as mais exPressivas de quanto cheire a greves, plenários, manifestações, desfiles, concentrações. Mesmo que saiam à rua 100.000 trabalhaDores, [2] escolhem um pormenor: a cabeça da manif., um diriGente sindical pendurado num microfone, um cartaz ou faixa mais anedóticos, uma mancha que não legitime a amplidão do aconTecimento. Por regra, também nunca confiam nos números de participantes fornecidos por fontes laborais, contrapondo as fontes patronais, ministeriais, policiais. O que até seria perfeitamente razoável se o contraditório constituísse uma norma editorial. Mas não. Se o evento é patronal ou governaMental ou religioso ou desportivo ou das indústrias de entreteniMento, os média até se orgasmam ou, pelo menos, gaguejam com as multidões do situacionismo e raramente contrastam os números adiantados pelas respeitáveis ou venerandas organizações. O preconceito desqualificante é óbvio. [3] Idêntico trataMento é conFerido às manifestações Anti-GloBalização: todo o relevo incide sobre os incidentes, os desacatos entre grupelhos (alguns infiltrados e geridos pelas polícias) e as forças da ordem (sempre obrigadas a agir, a responder), menosprezando-se o comportaMento civilizado de dezenas ou centenas de milhares de manifestantes, bem como os seus cadernos proGramáticos. Então, nos noticiários sobre o lº de Maio, o critério subjacente aproxima-se dos censores do Regime Fascista (que exaravam recomendações de estilo bombástico, dignas de um editor de tablóide ou de televisão de cabo-de-guerra). Incitava-se à draMatização e à diabolização do Dia Mundial do Trabalhador: 1º de Maio-notícias lá de fora são CORTADAS. A não ser de BOMBAS. [4] Claro que notícias cá de dentro seriam impensáveis, mesmo que, em Lisboa, saíssem à rua (como por encanto) 100.000 manifestantes, conforme registo de fontes da Resistência. [5] Esta sisTemática censória até pode parecer estranha ou contranatural, pois os jornalistas são padecEntes das queixas e receitas das restantes classes assalariadas: aconTece que uns estão amEstrados para morder no povo como os cães-polícias e outros receiam The Day After e assumem as dores e os esgAres do Capitalismo e da PoLítica da Rolha GovernaMental. Portugal Censurado? Que ideia! Apenas a maioria dos portugueses. ________________ [1] Portugal Censurado / Afinal o que era a Censura? Antetítulo e título de áudio/vídeo-depoiMento de CP sobre a Censura no Regime Fascista, recolhidos e tratados para Jornalismo.Porto.net , carinabranco@hotmail.com (Fevereiro de 2004). No trabalho também se questiona a Censura em Regime Democrático, exemplificando-se com o ocorrido a entreVista de Rui Pereira a um conjunto de personalidades bascas e espanholas, neste caso, já aprovada pela RedAcção/Direcção da SIC, mas, à última hora, posta fora da grelha pela Administração. Pois que as administrações não deixam de intervir em sede de diálogo institucional ou acorrendo in extremis. Preferem, todaVia, que funcionem as Hierarquias de Interpretação da Vontade do Senhor, também denoMinada Cultura da Empresa ou Interesses Superiores mas, sempre que a cadeia de responsalidade não se mede bem a correlação de forças ou desliza para paixonetas editoriais, um poder mais alto desce a terreiro e faz jurisprudência. O embaixador espanhol em Lisboa confessou ao El Mundo e à Agência Europa Pre ss ter pressionado um canal de televisão privado em Portugal . ( O discurso como problema de Ordem Pública : novagaz.com). Rui Pereira, jornalista e docente universitário, é autor de Euskadi-A Guerra Esquecida dos Bascos, Editorial Notícias, Lisboa, 1999, cuja primeira edição foi quase integralMente açambarcada pelas autoridades de Madrid para tentar arruMar o assunto. Também é co-autor, com Angel Rekalde (que cooperou com a sua tese de doutoraMento), de O Jornalismo Fardado-El País e o Nacionalismo Basco, Campo das Letras, Porto, 2000, obra que expõe o colabOracionismo activo e concertado de um jornal de referência euroPeia com a proPAGAnda de Estado. [2] Manifestação Nacional, Lisboa (08/02/2006). Participantes: 100 mil. Estimativa da generalidade dos Meios de Comunicação (09/02/2006). Os organizadores referem 150 mil. Mas o clamor público não encontrou uma medida minimaMente proporcional nas grelhas mediáticas. Mesmo admitindo que Lisboa foi invadida. A omissão ou relativização foram tão clamorosas que, mais de um ano depois (22/06/2007), um intelectual do SisTema, José Freire Antunes/SIC/Notícias, não achou exemplo mais ilustrativo de censura por omissão do que o trataMento noticioso dessa avalancha social. Já quanto à Greve Geral (30/05/2007), a Orquestra Mediática funcionou afiNada: um fracasso. De nada valeram as estatísticas (por serviços públicos, empresas, actividades e localidades) da CGTP: 1 milhão e 400 mil aderEntes. Foram ignOradas. A CS serviu de correia de transMissão da verdade do Governo/Patronato. Já se tinha assente, na pré-campanha mediática, que não iria ter êxito. A pós-campanha apenas veio culminar o trabalhinho de encomenda ou de trauteio sisTémico. Na verdade, a Comunicação Social é cada vez menos Comunicação e cada vez menos Social. É simplesMente a Voz do Dono. [3] Exemplos de cortes da Censura Fascista, crescenteMente coPiados pela Censura Farsista: Reunião da Intersindical de Lisboa-Cortar. (Capitão Correia de Barros, 08/04/1971). Reunião de telefonistas na FNAT. Não dizer que foram centenas e não especificar o que pretendem. Dizer que trataram de assuntos da classe. (Coronel Saraiva, 03/10/1971). Reunião de bancários, hoje, talvez em Lisboa. Reduzir ao mínimo. Só dizer: realizou-se ontem. (Coronel Garcia da Silva, 10/09/1973). [4] De Os Segredos da Censura. Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |
Subject | Author | Date |
Olhe que não... (NT) | Olhe que não... | 19/09/07 17:11:03 |