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Subject: Re: Nada de novo sobre a terra | |
Author: Gira que Gira e torna a girar |
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Date Posted: 16/12/06 12:52:22 In reply to: José Pacheco Pereira 's message, "Nada de novo sobre a terra" on 15/12/06 14:34:32 >Nada de novo sobre a terra >José Pacheco Pereira > > > >Durante dias arrumei velhos papéis dos últimos anos do >século XIX e primeiros do século XX, que popularizavam >duas correntes político-ideológicas, próximas, mas >distintas: o anarquismo e o sindicalismo >revolucionário. Junto com esta colheita vem sempre >outra por proximidade, dos tempos e das pessoas, >propaganda republicana e panfletos anticlericais. >Estes papéis são facilmente reconhecíveis para quem >tenha treino de livros velhos e de alfarrabistas. >Pequenos, muitas vezes mais pequenos do que um bolso, >raras vezes chegando às trinta páginas, num papel mau, >com capas tão finas que se rasgam com muita >facilidade. Tinham que ser baratos e eram feitos para >pessoas que não estavam muito habituadas a ler e quase >não tinham cultura formal. As ilustrações são escassas >e rudimentares, mas a iconologia é típica. Retratos >dos mestres, gravuras ou zincogravuras, com Tolstoi, >Bakunine, Reclus, Hamon, e várias figurações que têm >como centro ou o horizonte o Sol. >Eram fiéis a séculos de imaginário bíblico, mesmo sem >o perceberem. Eles não sabiam que o Sol que lá >aparecia era o mesmo Sol que ilustrava as capas dos >livros de catecismo, e onde no catecismo ocupava o >lugar de Deus, para eles estava o Futuro. Aquele Sol >era o Futuro, ou seja, o sentido inscrito na História, >e as personagens que o rodeavam, o apontavam, para ele >caminhavam eram figuras masculinas - os homens sempre >mais altos do que as mulheres, os homens levando atrás >de si a família, a mulher e os filhos, mas sempre os >homens como actores - que caminhavam do mundo de >miséria quotidiana para a Jerusalém Libertada, para a >Nova Jerusalém. De Babilónia para Jerusalém, era todo >o programa da libertação. >A "emancipação" dos grilhões do presente, do trabalho >escravo, fazia-se quase que magicamente - a >iconografia militarizada e violenta é uma contribuição >posterior do bolchevismo - pela "união", pela >solidariedade e pela luta. Meia dúzia de frases que >hoje nos parecem ingénuas, mas foram terrivelmente >poderosas, ilustravam como dísticos esta literatura: >"um por todos, todos por um", "paz entre nós, guerra >aos senhores", "o homem livre sobre a terra livre", >"quem não trabalha não come", "proletários de todo o >mundo uni-vos!". >No seu conjunto um pouco heteróclito, propaganda >anarquista, sindicalista, pacifista, antimilitarista, >antitouradas, vegetariana, neomalthusiana (ou seja, a >favor do controlo dos nascimentos), homeopática, >espírita nalguns casos, era a contracultura popular na >época, que circulava entre um pequeno mundo de >artesãos urbanos, tipógrafos, cinzeladores, >marceneiros, canteiros, fragateiros, e mais meia dúzia >de profissões já extintas. Era lida também por >estudantes e intelectuais, quase sempre os mais >remediados e desenraizados, vivendo o mundo mítico das >mansardas, escrevendo versos e sonhando com uma versão >social da Dama das Camélias no meio das chamas da >revolução. Aquilino, Nemésio, Ferreira de Castro leram >e ocasionalmente escreveram literatura próxima destes >panfletos. >Quando olho estes livrinhos frágeis - À Mocidade, A >Evolução Legal e a Anarquia, Necessidade da >Associação, A Conquista do Pão, No Café, Entre >Camponeses, A Sociedade Futura e tantos outros -, >endireitando as páginas dobradas, consertando os >rasgões, protegendo-os com um plástico qualquer do >Futuro que os envelheceu, não posso deixar de >perguntar o que sobra de todos eles depois de cem anos >de "guerra total" que nos endureceu face a todas estas >ingenuidades. Mas mesmo que nada no nosso mundo do >século XXI se pareça com o mundo das tabernas >revolucionárias de Alcântara, não consigo deixar de >ter uma forte sensação de déjà vu. Isto continua tudo >por aí, quase da mesma maneira, o mesmo pensamento, a >mesma visão, mesma pulsão igualitária, niveladora, os >mesmos gestos simples e mágicos de que se espera o >milagre da Revolução, a mesma ilusão de um mundo >primitivo e feliz, sem egoísmo e sem maldade a não ser >nos "de cima", nos "senhores". Este mundo está vivo e >bem vivo na Internet, na Rede, no ciberespaço. Nada se >cria, tudo se transforma. >Nos dias de hoje todas as teorias da História, que >sofreram a crise das teleologias, os herdeiros de >Hegel, Marx e Teilhard de Chardin, reconverteram-se em >utopias tecnológicas, que mais do que descritivas são >programáticas, dizem-nos, com a felicidade de um >sorriso, não só como as coisas vão ser assim, mas >também como devem ser assim. Gente culta e >inteligente, génios da tecnologia, que não sabem muita >história, não escapam à ideia de que as novas >tecnologias permitirão uma engenharia social poderosa, >que nos tornará mais solidários (em Rede), mais >poderosos na igualdade (as ideias niveladoras fazem o >seu caminho com a noção de "empowerment"), num mundo >que não precisa de mediações, não necessita de delegar >poderes, mais felizes porque interagimos numa terra >sem propriedade (os átomos dissolvem-se nos bits e >estes não tem dono). >Do Linux, e de todo o software grátis e "livre", a >mágica palavra (lembram-se de "o homem livre sobre a >terra livre"?), à saga teórica e prática contra os >direitos de propriedade, que institucionalizou o velho >"roubo" de que falavam Proudhon e Preobajensky; da >"town hall democracy" à ideia de construir um mítico >agora em que todos podem votar sobre todas as questões >em tempo quase real, não sendo necessário nem um >parlamento, nem um governo, podendo ser este apenas um >grupo de tecnocratas executores das decisões da >"comuna"; da Wikipédia, enciclopédia colectiva dos >homens comuns que não precisam de "senhores", em que >mais importante do que o rigor dos artigos é o facto >de serem feitos por todos, onde são as massas que >"fazem" a ciência (como se diz num comentário num >blogue: "A wikipédia não é mesmo uma enciclopédia de >autor. Prefiro assim. Prefiro que seja validada a >opinião da generalidade, daqueles que verdadeiramente >fazem algo pela disseminação de cultura. O >conhecimento absoluto e pessoal está condenado com >este novo critério editorial") ao "jornalismo dos >cidadãos", em milhares de pequenos passos, a Revolução >passou para a Rede e aí dissolve os poderes >tradicionais. Passou também a Contra-Revolução, mas >isso é toda uma outra história. Historiador -Eu, estou pasmado.............................! -É mesmo em de ter em conta! -Que mente brilhante, que perspicácia! -O homem é um fenómeno. -Só que chegou tarde é que a Roda já foi descoberta faz muitos e muitos anos, milhares mesmo e o pobre do Pacheco só se deu conta à uns dias atrás que ele gira, e não pára de girar por muito que Pachecos e Cia, só se dêem, quanta disso na alturas em que têm o rabo a arder. Ou será que aprendeu alguma coisita com as biografias não autorizadas? - Tenho duvidas…! Penso isso sim que gato escondido com rabo de fora de vez em quando gosta de recordar pecados velhos ou seja gosta de dar ares de quem não é ou melhor tem nostalgia dos dias em que se fazia passar por grande revolucionário de modos vários! Não passando de um grande aldrabão, como sempre foi e será. [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |