VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

Login ] [ Contact Forum Admin ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 1 ]


[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]

Date Posted: Mon September 17, 2007 00:46:44
Author: Télia Batista Cavalcante (Olá, desculpe a demora)
Subject: As aparências enganam sim em O rei Sapo

AS APARÊNCIAS ENGANAM SIM!

Télia Batista Cavlcante

Amor é uma palavra identificada e entendida por todos os humanos. Alguns o compreende por caminhos diferentes, mas todos os caminhos levam a uma linha de pensamento universal: afeição profunda (Dicionário Luft, 2001). Porém, como é a forma que as crianças compreendem o amor? Estudos realizados sobre o assunto mostram que as crianças sabem o que é amor e são capazes de identificar a diferença no amor que acontece no conto de fadas e o que acontece na vida real.O conto dos irmãos Grimm, o rei Sapo, é um instrumento interessante para descobrir como é colocado o amor na estória de fadas. Junto com o livro Psicanálise dos contos de fadas será possível tecer uma análise sobre a ótica do desenvolvimento da princesa. Isso para esclarecer a trama e para investigar qual a existente relação entre o rei sapo e a princesa.
Neste conto de fadas a narrativa apresentada pelos autores permite captar sentidos ocultos que são essenciais para vida. O rei, enfeitiçado em sapo por uma bruxa, encontra a princesa em um lago chorando pelo brinquedo – bola de ouro – que afundava na água e resolve “ajudá-la”. Como pagamento pelo resgate da bola, o sapo propõe a moça que lhe aceite como companheiro. Situação resolvida, a moça desaparece sem cumprir o prometido. O rei vai atrás de receber seu pagamento e a jovem princesa acaba sendo obrigada pelo pai, rei também, a honrar sua palavra. Após sentir-se enojada da presença do sapo, a princesa lança-o na parede quebrando o feitiço.
A abordagem simplória do conto assemelha-se ao ditado popular: as aparências enganam, pois de um animal asqueroso surge um belo rei. Simples!? Nem tanto assim. É possível fazer uma leitura mais profunda da condição humana. Primeiro analisando a princesa e suas características físico-psíquica. Sua beleza física exuberante provoca atração e sedução no sexo oposto – mesmo em uma espécie diferente. A garota, no primor da juventude, por meio do choro acaba seduzindo o sapo. Isso porque de uma forma pragmática, apreendida através dos tempos, as lágrimas chamam a atenção – cavalheirismo – e ativa a comoção no outro. Ao depositar seu olhar na direção do choro feminino, o sapo acaba enfeitiçado e crente que ela será sua salvadora. No entanto, essa princesa não é perfeita, como a maioria dos contos de fadas apresentam suas heroínas. Ela possui “feiúra” interior, de caráter

Oh, sim – disse ela – Te prometo tudo o que quiseres, porém devolve minha bola; mas pensou – Fala como um tolo. Tudo o que faz é sentar-se na água com outros sapos e coachar. Não pode ser companheiro de um ser humano.

A falha de caráter humaniza a personagem, pois mostra a imperfeição existente no homem e por essa razão acaba possibilitando maior aceitabilidade do leitor/ouvinte.
Bettelheim afirma que “conhecer estórias de fadas é uma grande ajuda para a criança, como é ilustrado pelo fato de muitas estórias de fadas serem representadas pelas crianças, mas apenas depois que se familiarizam com a estória, a qual elas nunca poderiam ter inventado por conta própria”. A falha, defeito ou imperfeição é um item natural do ser humano, logo o enredo do conto compartilha a situação do mundo real.
Outro aspecto importante encontrado na princesa remete a mudança de ciclo de vida: infância, adolescência. A princesa apresenta-se na fase infantil no início do conto

Quando se aborrecia, pegava a bola de ouro, jogava alto e recolhia. Essa bola era seu brinquedo favorito.
(...)
A princesinha ficou encantada de ver seu precioso brinquedo outra vez, colheu-a e saiu correndo com ela.

A imaturidade até aí corresponde à ausência de comprometimento e responsabilidade cobrada em um adulto. Realizar o prometido não afeta sua consciência, como se fosse uma falha grave. Para uma criança a idéia de responsabilidade não é tão nítida como para um adulto, portanto passa a não ser muito importante.
A ruptura da infância está exposta no momento em que a princesa arremessa o rei Sapo na parede . O ato de rebeldia – ao contrariar o que o pai (rei) lhe exigiu fazer – caracteriza o ápice da adolescência, em que a jovem demonstra atitude e vontade própria. A atitude da princesa mostra que o importante para ela estava em viver em uma vida escolhida por si e não por imposição de um outro (pai ou sociedade). Afinal, para que casar, comprometer-se com alguém se sua vida era tranqüila, sem problemas de ordem física ou de ordem espiritual?
A relação existente entre o rei Sapo e a princesa não era a de amor, superficialmente pretendida e, até então, entendida pelo seu público alvo. Mas era notavelmente uma relação de interesses. Interesses pelo fato de a princesa necessitar de um objeto desejado e conquistá-lo pela troca de um serviço. Já o rei sapo não teve “amor à primeira vista” e sim a “salvação a primeira vista”. A necessidade de ajuda a retornar a forma humana o fez aproximar-se da princesa, pois ela seria a única a quebrar-lhe o feitiço. Tanto é que o final não diz claramente se o rei Sapo e princesa se casaram e viveram felizes para sempre, mas deixa a entender para o público infantil essa possibilidade.
Apesar de não conter uma fada na estória, o conto apresenta os elementos fundamentais de uma classificação de conto de fadas: bruxa, rei, princesa. A relação de interesses é camuflada em amor para o alvo da leitura do texto – crianças. Não é somente o sapo o asqueroso, mas a relação que o ser humano tem como item natural, de interesse e preocupação consigo mesmo. Então, realmente as aparências enganam sim.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BETTELHEM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. 12. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998.

GRIMM. Irmãos. O rei sapo. Disponível em: www.revistaepoca.globo.com/Epoca . Acessado em: 06/09/2007.

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]

Post a message:
This forum requires an account to post.
[ Create Account ]
[ Login ]
[ Contact Forum Admin ]


Forum timezone: GMT-4
VF Version: 3.00b, ConfDB:
Before posting please read our privacy policy.
VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.