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Date Posted: 13:41:29 06/28/07 Thu
Author: Conceição (Missa do galo)
Subject: Missa do galo

Trata-se da história de Nogueira, que relembra um episódio ocorrido quando tinha 17 anos. Em tal ocasião, estava no Rio de Janeiro para estudos preparatórios. É de Mangaratiba e está hospedado na casa do escrivão Menezes, viúvo de uma de suas primas e casado em segunda núpcias com Conceição, uma “santa”, que se resigna com uma relação extraconjugal do marido. Dizendo ir ao teatro, este dorme fora de casa uma vez por semana. Vivem na casa, ainda, D. Inácia, mãe de Conceição, e duas escravas.
O diálogo entre Nogueira e Conceição acontece no meio da noite enquanto este jovem aguarda seu vizinho para irem juntos à missa do galo. Conceição aparece na sala onde se encontra Nogueira e os dois tem uma conversa super interessante, cheia de mistério e desejos, mas essa conversa é interrompida quando chega o vizinho e bate na janela chamando Nogueira para a missa do galo, que simplesmente se despede e vai embora.
Anos depois volta ao Rio de Janeiro, não a visita e nem mesmo a encontra, somente sabe notícias que Conceição tinha ido embora, ficara viúva e se casado novamente.
O que se pode perceber a partir dos pontos de vistas dos escritores Machado de Assis e Lygia Fagundes Teles, é a análise psicológica é a ambigüidade da personagem feminina Conceição, que é a típica mulher Machadiana, misteriosa e de comportamento ambíguo, no decorrer da trama, à noite, mulher sedutora; no outro dia, discreta e indiferente aos acontecimentos passados. Essa ambigüidade pode ser percebida claramente com precisão no trecho abaixo; e também por várias vezes no decorrer do conto.
“Conceição imagine! Tão apaziguada (ou insignificante?) durante o dia, quase invisível no jeito de ir e vir pela casa. E agora ocupando todo o espaço, grande como um navio, a mulher era um navio. Abriu a boca em beatitude: branco, preto e vermelho, os lábios úmidos, de vez em quando ela os umedece com a ponta da língua.”(...)
No conto narrado por machado de Assis, embora Conceição tenha se tornado famosa e interessante, devido sua postura ambígua, ela não é personagem foco da história, Conceição é conduzida e se desenvolve conforme a visão do narrador, que é o próprio Nogueira. Dessa forma, podemos notar que Conceição vai se transfigurando aos olhos do narrador, de modo que passa da mulher séria e honesta, discreta como uma “santa”, com rosto mediano, nem feio e nem bonita, uma mulher que não sabia odiar e talvez nem soubesse amar, passa a ser uma mulher linda, “lindíssima”, cuja visão enchia Nogueira de admiração. (...) ”certa ocasião, ela, que, que era apenas simpática, ficou linda, ficou lindíssima”...).
Por ter sido ambientado no Rio de Janeiro antes da abolição dos escravos, o texto nos situa numa questão social da época (1862) a escravidão, vista no texto por dois anglos diferentes, a escravidão propriamente dita, onde os escravos serviam aos senhores como empregados e também as negras como diversão para seus patrões (...). “Um bandalho esse Menezes”. Que procure suas distrações fora do lar, muito natural, ele mesmo já disse que no capacho da porta deixava toda a poeira do mundo, a mulata incluída, lógico(...), Por outro lado, a escravidão pela qual passavam as mulheres, esposas dedicadas e submissas, que deviam manter as aparências do casamento a qualquer preço, como no caso de Conceição que mesmo sabendo que é traída, se mantinha passiva e alheias à situação.
Outra característica muito presente na obra é a religiosidade, que aprece várias vezes como referências a alguns santos e até mesmo a própria Conceição é comparada a uma “santa”. Seu nome sugere santidade, significa concepção, relacionado a dá a luz, mulher, mulher para ser mãe. Época em que as mulheres se dedicavam à religião e eram tidas como mulheres objetos, serviam ao marido e ao lar. (...)”duas imagens, duas santas”(...), fazendo alusão à sua religiosidade, refere-se a imagem de nossa senhora da Conceição, sua madrinha, que tem em seu oratório, como se quisesse fazer prevalecer sua imagem de santa e não de sedutora.
Machado de Assis utiliza-se de uma combinação de elementos reais, datas, citações de obras literárias, lugares reais e quadros, que fazem com que o leitor vivenciem a história como se fosse real, envolvendo-se pelo imaginário que o efeito da leitura causa nele. Alguns princípios essenciais do gênero são destacados no conto: a concisão, a rapidez e unidade dramática, concentrando neste relato, as repercussões psicológicas de ações se fatos concretos, ou seja, retrato de um simples fragrante do cotidiano, e o resultado é uma história surpreendente cheia de mistério e interrogações. Um dos maiores contistas o russo Tchecov, dizia que, se num conto de Machado de Assis, aparecesse uma espingarda pendurada na alguma parede, ela deveria disparar a qualquer momento, sob a visão de não está onde estivesse por acaso, assim todos os detalhes mencionados, quadros e objetos são realmente, fundamentais e fazem sentido para desenrolá-lo da trama.
Porém, o conto abre as diversas possibilidades de significação, onde prevalece a dúvida e a incerteza, entre o que parece ser o que realmente acontece. Primeiro a de que Conceição tentara seduzir o rapaz que, em virtude de sua ingenuidade, a hipótese de que ela simplesmente queria conversar para passar o tempo e amenizar a sua solidão e a angústia devido às ausências do marido. Por outro lado o caráter de Conceição pode ser considerado pervertido, tendo aqui o Senhor Nogueira como um rapaz ingênuo, que não consegue enxergar a malícia que há por trás da malícia da presença desinteressada de D. Conceição, durante o tempo que espera pela hora da missa do galo. Há naquela noite um jogo de sedução a partir do momento que D. Conceição aparece na sala, de trajes íntimos permitindo que Nogueira veja seu corpo, pés, joelhos, mãos, braços, pernas e cintura. Daquele momento em diante o conto adquire uma intensidade ainda maior justamente por não transparecer ou se concretizar algo, tudo é simplesmente sugerido, mas nada é revelado concretamente.
A verdade é que Machado de Assis conduz a narrativa de tal forma que podemos observar as inúmeras possibilidades de interpretações. Além da incerteza quanto ao assédio de D. Conceição, o conto aponta para a dúvida entre o que conhecemos das pessoas e aquilo que elas realmente são. Surge aí uma característica marcante do conto uma análise reflexiva sobre o comportamento humano e os anseios que envolveram os personagens na aquela noite. Há momentos em que parece que tudo irá acontecer, contudo não se consegue perceber nitidamente o que realmente aconteceu naquela noite, a próprio Nogueira o narrador, se mantém confuso. (...) “há impressões dessa noite que me aparecem truncadas ou confusas” (...).
Na reescrita por Lygia observa-se que há uma particularidade no modo de trabalhar com a escrita, onde ela projeta o leitor para além do momento da literatura, pois sua arte de narrar incita o leitor a mergulhar no seu texto de tal forma que o leitor possa realizar uma viagem deferente e fantástica. No conto Missa do galo, há momentos que o espectador fica angustiado e suplica por resultados, para que aconteça algo entre os personagens Conceição e Nogueira.
Os dois escritores Machado e Lygia narram o conto em primeira pessoa, sendo que o narrador no conto escrito por Machado é o próprio personagem, Nogueira e no conto reescrito por Lygia a narradora é a espectadora que se mantém de fora ansiosa por respostas, analisando o comportamento das personagens.

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