Subject: Re: Projectos Cooperativos |
Author:
Ângelo Novo
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Date Posted: 13:55:28 12/26/03 Fri
In reply to:
Fernando Redondo
's message, "Projectos Cooperativos" on 07:22:07 12/22/03 Mon
>
>Neste primeiro diálogo gostava de esclarecer uma
>interpretação deficiente da nossa tese; nós não
>defendemos que os proletários se transformem todos em
>empresários.
>
>No Capítulo 4. "A superação do Capitalismo" avançamos
>com um cenário de "projectos cooperativos" sem
>assalariados em que os excedentes são divididos por
>decisão colectiva. Claro que isto não tem nada a ver
>com o neo-liberalismo.
>Vou dar um exemplo com uma situação actual:
>recentemente um dos meus filhos participou num
>projecto teatral em que dois actores, um encenador e
>um produtor colaboraram para a montagem de um
>espectáculo. Findo o projecto e pagas todas as
>despesas o excedente foi dividido pelos participantes
>(neste caso, por decisão colectiva, em partes iguais).
>
>Ninguém era patrão, ninguem era assalariado.
>
>Como vê já hoje estas coisas são viáveis e o que nós
>defendemos é que este e outro tipo de experiências
>sejam aprofundadas e disseminadas.
Fernando,
Creio que, agora sim, vou poder debater consigo, pelo menos aqui.
Eu quando falei em empresários, não tinha em vista capitalistas em sentido tradicional (patrões ou dirigentes de sociedades). Estava já a referir-me precisamente aos vossos "projectos cooperativos". Se todos os cooperantes participam nas decisões e dividem entre si os lucros, então são todos empresários. Longe de mim estar aqui a demonizá-los com este epícteto infamante. Eu além de funcionário público sou também profissional liberal (advogado). Bem gostava de ganhar a vida num projecto independente e de horizontes mais rasgados.
Durante algum tempo eu também tive esperanças nesses novos modelos empresariais informais e de vanguarda (tipo Sillicon Valley). E até espiolhei um bocadinho a literatura sobre gestão de empresas, etc. Dessa fase cyber-punk ficou-me o interesse no movimento de software livre, o copyleft, as redes point-to-point e outros desenvolvimentos interessantes que parecem abalar os alicerces da propriedade intelectual burguesa. Em breve conto fazer um estudo sobre isso, do ponto de vista jurídico.
Quanto às empresas cooperativas, a minha impressão agora é que elas são muito facilmente cooptadas pelo sistema. Sim, no vosso esquema não há assalariados. Logo não há extracção directa de mais-valia. Mas haverá a montante (partes componentes). E, por outro lado, as empresas cooperativas (se forem mais produtivas, verdadeiramente "cutting edge") participam na resdistribuição das mais-valias geradas nesse ramo industrial através do mecanismo da transformação dos valores em preços de produção.
Depois há o problema da lei da centralização e concentração capitalista. Como você certamente sabe de sobejo, as leis do mercado são implacáveis. Você ou joga ou sai fora. As pequenas empresas (cooperativas ou não), se tiverem sucesso tornam-se médias e grandes. Eventualmente, monopólios gigantescos como a Microsoft.
As pequenas empresas estarão sempre a surgir, mais e mais. Sempre novas. Mas o fundo é dominado (e as leis impostas) pelos grandes tubarões predadores. E estes não são cooperativas de certeza, pelo menos no mundo em que vivemos presentemente.
Eu acredito que a experiência cooperativa pode ser aprofundada e disseminada, como você diz. Mas não acredito que, numa sociedade capitalista, ela se generalize.
Por isso continuo dinossauricamente a pensar que é preciso organizarmo-nos colectivamente como classe e tomar o poder político.
Ângelo Novo
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