Subject: Re: Três tartufos |
Author:
Luís Carvalho
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Date Posted: 21:51:30 07/08/04 Thu
In reply to:
Aurélio Santos, Avante, 08/07/04
's message, "Três tartufos" on 21:33:23 07/08/04 Thu
Muito bem!
Sábias e certeiras palavras essas, me parecem.
Mas é caso para calcular onde Aurélio Santos foi buscar a sua sapiência em tartufismo...
>Três tartufos
>
>Aurélio Santos, Avante, 08/07/04
>
>Há ocasiões em que Molière se torna tão indispensável
>para a descrição de um carácter como um bom dicionário
>para nos ajudar a descobrir o sinónimo perfeito.
>
>É o que se passa para caracterizar a mistura do
>fingimento compungido com a arrogância para com os de
>baixo, o servilismo rançoso para com os de cima, o
>deslizar hipócrita de uma silhueta sempre ambulante de
>conveniências. É o Tartufo.
>
>Num linguajar incansável de bem falante e melhor
>pensante, adaptando-se facilmente a situações
>adversas, o Tartufo tanto troca de movimentos que
>acaba por não ter acerto nos seus próprios passos.
>Continua a fingir. Mas já não convence.
>
>É o que está a acontecer a três dos Tartufos do palco
>português.
>
>Santana Lopes oferece um certificado de dedicação ao
>povo de Lisboa, assegurando-lhe que está
>indefectivelmente a seu lado, a não ser que surja um
>caso de interesse público - ser primeiramente
>ministeriável. E acrescenta que a sua candidatura à
>Presidência da República está - por enquanto - posta
>de parte. Espera fazer um part-time como 1º Ministro...
>
>Durão Barroso, também sem um laivo de hipocrisia, vem
>apresentar explicações: é que estava profundamente
>convencido de que a sua viagem rumo à vitória
>(entenda-se... em Bruxelas) nunca daria azo a
>eleições. Aliás, acrescenta, a sua convicção formou-se
>após contactos com o Presidente da República. Porém
>não deu mais nenhuma explicação de acréscimo depois de
>declarações emanadas da Presidência terem vindo
>esclarecer que a coisa não se tinha passado assim ...
>
>O tartufismo de Paulo Portas não fica aquém dos
>anteriores. A partir de Viseu, veio a sua promessa
>solene de que iria proferir uma declaração. Demorou-se
>quase uma semana na viagem, mas acabou por falar. Em
>frases de um lapidarismo incisivo, duma clareza
>notável, original, literariamente retumbante, afirmou
>com voz decidida que «quem tem medo compra um cão».
>Aqui chegado (não se sabe se com uma matilha às
>pernas) concluiu que um político não devia ter medo de
>eleições e, que se tivesse, devia mudar de rumo. E às
>portas sabe-se lá de que rumo, mais não disse.
>
>Haverá quem pense que a passagem destes personagens
>pela cena política portuguesa merece apenas o riso
>destinado à ópera bufa. Mas não é assim. São muito
>mais corrosivos do que aparentam. E conseguiram, em
>seu benefício, generalizar como nunca até hoje, o
>desprestígio das forças políticas e um profundo
>descrédito do regime democrático.
>
>Esta gente tem de abandonar a nossa cena política. De
>forma que lhes fique de emenda .
>
>Em novas eleições. Já!
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