Author:
Jorge Nascimento Fernandes
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Date Posted: 12:09:00 07/12/04 Mon
In reply to:
Fernando Redondo
's message, "Um presente às direitas" on 09:13:52 07/12/04 Mon
Um Presidente às direitas II
Depois de contar a história, algumas comentários ao último texto do Fernando.
Diz o F.: “Em vez de explorar a demonstração de isenção dada por Sampaio associando-a ao facto de ele ser uma pessoa séria e de esquerda diz-se que ele foi isento porque passou a ser de direita. Assim se boicota uma futura candidatura de esquerda à presidência.”
Começando pelo fim. Qual era a futura candidatura da esquerda à presidência? A do Jorge Sampaio? Não percebo.
Atestados de bom comportamento está a esquerda cheia deles. A direita sempre que alcança uma vitória canta de galo dizendo que a esquerda se portou optimamente. Não precisamos dos seus atestados para garantir a nossa seriedade. Quem apoiou a decisão de Sampaio, à esquerda, foi o Carlos César, porque quer ganhar as eleições nos Açores, e o José Lello, essa inefável personagem do desporto.
Querias agora que nos puséssemos em bicos dos pés, a dizer que os homens de esquerda são tão isentos que, mesmo quando têm possibilidades de derrotar a direita, afirmam, quais cavalheiros, “passe V. Ex.a, que tem toda a prioridade”.
A esquerda demostrou que deveria haver eleições e o consenso maioritário, até pelas sondagens, era que elas se deveriam realizar. Ninguém diria, excepto a direita, e essa nem toda, que o Jorge Sampaio deixou de ser isento por ser de esquerda. Diriam que tinha sido coerente com toda a sua vida.
F.: “A esquerda em vez de fazer o que lhe compete, ganhar as mentes e os corações dos cidadãos para um projecto alternativo, prefere descarregar sobre os ombros do Sampaio a responsabilidade pela sua incompetência.”
Em que mundo vives. Desde o 25 de Abril que um projecto alternativo à esquerda não existe e, provavelmente, nem é possível existir tão cedo. Mas, mesmo sem haver esse projecto, a mudança de Governo, a quebra da ofensiva reaccionária contra os trabalhadores, era um facto positivo. E só não vê isso quem sempre acreditou, deixando-se influenciar, mesmo que sem o desejar, pela música maviosa da Direcção do PCP, de que o PS é igual ao PSD, e que aquele seguiria a mesma política deste. Ora se temos muitas contas a ajustar com o PS, o comportamento deste, por exemplo, na função pública, foi completamente diferente. E não se pedia ao Jorge Sampaio que formasse um Governo de Esquerda ou que a pusesse no Poder, mas que desse muito simplesmente a voz ao povo.
F.: “Quem é que fugiu do governo e abriu caminho ao Durão Barroso ?
Quem é que quis eleições quando Guterres fugiu ?
Nessa altura não era importante impedir a direita de chegar ao poder ?
Podia Sampaio esperar agora um comportamento responsável dos mesmos que então se recusaram a continuar a governar ?”
Sendo a análise do passado um elemento de acção importante, não podemos continuar a lamber as nossas feridas, tornando-nos incapazes de agir. De facto tens razão. Mas aqueles que na esquerda estiveram na linha da frente a pedir eleições foi o PCP e o Bloco de Esquerda, para além, é evidente, do próprio PS. O MRC, ainda muito incipiente na altura, foi dos poucos que afirmou que não compreendia que se pedisse a dissolução da Assembleia, quando havia nela uma maioria de esquerda.
F.: “A esquerda está realmente em maus lençóis não por culpa do Sampaio mas da incompetência dos seus líderes.”
Não foi pela incompetência dos seus lideres. A esquerda jogou, e quanto a mim jogou bem, porque, tal como disse, não se pode actuar só quando se tem garantias de sucesso asseguradas. E se jogou, quando havia possibilidades para o fazer, porque acreditava que um Presidente eleito pela esquerda não iria fazer o frete à direita, arriscou e perdeu. Mas pior seria se ficássemos parados e se agora viéssemos dizer que respeitávamos a decisão do Presidente e que ela tinha sido de uma grande seriedade e isenção. Isso, a direita que o diga.
F.: “Em suma, como quase sempre trocam-se os objectivos de fundo por desenrascansos pontuais, compromete-se o futuro com habilidades de ocasião tão bem descritas pelo Jorge:”
É evidente que aquilo que eu descrevi era que, apesar de não haver o programa comum das esquerdas, era necessário quebrar esta ofensiva da direita. Pôr a direita, os empresários e o patronato em minoria, dar um novo alento à esquerda. Tal como se depreendia das minhas palavras o caminho faz-se caminhando. E hoje, não por culpa da esquerda, mas com a ajuda do Jorge Sampaio, esse “grande democrata de esquerda”, a direita está vitoriosa e pronta para o combate, com renovadas energias.
Jorge Sampaio não só pôs a direita no poder, não recorrendo a eleições, como deu garantias aos empresários, e não à esquerda, como alguns afirmam, de que a época de restrições e de contenção orçamental iria continuar. É obra.
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