Subject: Re: Reflexões sobre um texto do MUR e de todos os seus apoiantes |
Author:
Luis Blanch
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Date Posted: 25/02/05 14:58:59
In reply to:
Jorge Nascimento Fernandes
's message, "Reflexões sobre um texto do MUR e de todos os seus apoiantes" on 25/02/05 12:18:47
Jorge : penso que sim, sobretudo o que é patente no (os) texto(os) do Miguel Urbano é ,por um lado, o voluntarismo , confundindo os desejos com uma realidade que os contradiz, e o dogmatismo que faz sacrificar a dialéctica , a dinâmica social a soluções e modêlos que ,sendo guias para a acção ,como dizia Marx, estão condicionados por essa mesma dinâmica histórica , com todas as alterações e mudanças que ela vai gerando.
Assim sendo ,há que ,de facto , atentar nas vias supostamente revolucionárias que se propôem ,sob pena de modelarmos essas vias com presupostos que fizeram história à larga dezena de anos e porque obedeciam às condições concretas ,à realidade objectiva e subjectiva de então.
etapas revolucionárias e sobre um texto do MUR e de todos os seus
>apoiantes
>
>Escrevi um pequeno texto sobre umas “reflexões” do
>Miguel Urbano Rodrigues (MUR) sobre as recentes
>eleições em Portugal. Desgraçadamente, neste fórum,
>tudo o que se diz é logo desvirtuado pela chicana
>política. De modo algum eu queria enviar o MUR para a
>América Latina, até porque já uma vez teve que ir,
>antes do 25 de Abril, refazer aí a sua vida e não lhe
>desejo nova emigração forçada.
>O que é grave no MUR e o problema não é só dele,
>porque aquilo que afirma reflecte o que pensa a
>direcção do PCP, apesar de não o dizer claramente, é
>que são incapazes de terem um pensamento político
>próprio, continuando a papaguear o marxismo-leninismo
>(ML), na sua versão de Manual da Academia de Ciências
>da URSS.
>Destaquemos esta afirmação de MUR de que em todos os
>Estados da União Europeia impera “uma ditadura da
>burguesia com fachada democrática”. MUR retoma aqui a
>velha tese de Marx, do “Manifesto do Partido
>Comunista”, de que “o poder político do Estado moderno
>nada mais é de que um comité para gerir os negócios
>comuns de toda a burguesia.... O poder político é o
>poder organizado de uma classe para a opressão da
>outra”. Assim, o Estado da burguesia é sempre uma
>ditadura da mesma e que, portanto, nunca pode ser
>democrático.
>Aquela afirmação aplicava-se ao Estado que Marx
>conhecia em 1848, que ele considerava moderno.
>Engels, já em 1895 na “Introdução” a “As lutas de
>classe em França” de Marx, considera que “todos os
>Estados modernos, são produto de um pacto;
>primeiramente de um pacto dos príncipes entre si e,
>depois, dos príncipes com o povo. Se uma das partes
>quebra o pacto, todo ele é nulo e uma parte está
>desobrigada”.
>Como é compreensível Engels no fim da vida já conhecia
>um outro tipo de Estado, o do Império Alemão,
>diferente daquele existente ao tempo do “Manifesto”.
>Quando Lenine retomou o conceito do Estado como
>ditadura de uma classe, a sociedade russa ainda era
>caracterizada por o Estado ser tudo e a “sociedade
>civil”, na afirmação de Gramsci, ser “primitiva e
>gelatinosa”, enquanto que na Europa Ocidental “diante
>dos abalos do Estado, podia-se divisar imediatamente
>uma robusta estrutura de sociedade civil” (Gramsci,
>Cadernos do Cárcere). “O Estado era apenas uma
>trincheira avançada, por trás da qual se situava uma
>robusta cadeia de fortalezas e casamatas” (idem),
>impedindo assim que a Revolução triunfasse na Europa
>Ocidental , ao contrário do que tinha sucedido na
>Rússia.
>Sem querer desenvolver esta discussão apressada,
>passarei rapidamente para aquela que considero a
>melhor definição do que é o Estado nesta sociedade
>actual de classes. Poulantzas, um autor marxista
>francês, de origem grega, já falecido, resumiu assim
>esta nova noção de Estado: “penso que o Estado não
>deve ser considerado nem como um sujeito nem como um
>objecto, mas como a condensação material de uma
>relação de forças. Nesta formulação, existem dois
>termos que são importantes: primeiro o Estado como
>condensação de uma relação de forças, quer dizer o
>Estado, afinal, concentra em si as contradições das
>classes. As contradições de classe atravessam e
>constituem o Estado, encontrando-se presentes no
>próprio seio do Estado...” (“O Estado em Discussão”,
>colectânea das Edições 70, 1981).
>Na mesma perspectiva, mas abordando o problema de
>outro ponto de vista, pode-se afirmar que “o Estado
>capitalista contemporâneo retira da presença maciça de
>agências estatais na área económica: intervindo
>directamente na reprodução do capital social global,
>boa parte dos actuais mecanismos de legitimação e de
>busca do consenso e não só dos aparelhos
>especificamente ideológicos” (adaptado de Carlos
>Nelson Coutinho, “Marxismo e Política”, Cortez
>Editores, São Paulo 1996).
>É dentro desta ordem de ideias, que permite
>caracterizar o Estado como um permanente local de
>confronto das classes, onde a intervenção política não
>é inocente e onde através do Estado Social se joga
>hoje a força e fraqueza do movimento das classes
>trabalhadoras, que se pode hoje caracterizar a luta
>política. Daí que, apesar desta fraseologia do MUR,
>típica dos piores Manuais M-L e do estalinismo mais
>estreito, tanto o PCP como o BE tenham que
>invariavelmente fazer a defesa e intervir no Estado
>Social e nas suas componentes. Hoje não se pode
>continuar a caracterizar o Estado moderno com a
>simples ditadura da burguesia, que utiliza a
>social-democracia para enganar os trabalhadores.
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