Subject: R: A Esquerda que ganha |
Author:
Luis Blanch
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Date Posted: 28/02/05 14:48:01
In reply to:
Fernando Penim Redondo
's message, "A “esquerda” que ganhou e a esquerda que perdeu" on 27/02/05 13:50:13
No quadro das possibilidades que se oferecem à realidade portuguesa, e com toda a herança que transporta, para o bem e para o mal , é O PCP que melhor interpreta aquilo que contituio em finais do sérculo XIX, a construção teórica mais aperfeiçoada dos caminhos a seguir para a constituição de uma nova sociedade,livre da exploração do homem pelo homem.
O PCP não podia, é certo, colocar-se acima das próprias contingências sociais e ,ao arrepio do movimento comunista internacional, apontar as vias mais correctas e ser a consciência crítica de muitos dos erros, desvios e crimes cometidos em nome da construção do socialismo e da sua degenerescência em direcção ao comunismo.
O PCP lutou em condições desfavoràveis ,tanto no plano político como laboral,mas não é justo,talvez por isso ,convenhamos , estigmatizá-lo para todo o sempre e em nome de uma "pureza" ideológica e de um qualquer voluntarismo.
A vida colectiva e partidária é por vezes madrasta, e as pessoas nem sempre correspondem a uma "moral superior"; esta é uma realidade com que contar...
Houve muitos erros ,precipitações, e essa é uma convicção que não deve e não abala O PCP.
A crítica , sendo legitima deverá surgir no seio da organização, e muitas serão ,não se duvida , construtivas e acolhidas.
>A “esquerda” que ganhou e a esquerda que
>perdeu
>
>
>Muito se tem comemorado a retumbante “vitória da
>esquerda”.
>Sem querer ser desmancha-prazeres sempre vos digo que
>seria prudente moderar os ímpetos e passo a explicar
>por quê.
>
>A melhor distinção direita-esquerda que conheço é:
>todos dizem desejar o bem público mas para a direita
>ele é alcançável sem acabar com o capitalismo e para a
>esquerda é imprescindível a transformação radical do
>sistema. É portanto à luz desta definição que eu
>avalio os resultados de 20 de Fevereiro.
>
>A pergunta que deve ser formulada é: havia no dia 20
>de Fevereiro mais portugueses convencidos da
>necessidade da superação do capitalismo, dispostos a
>propiciar a emergência de uma nova forma de produzir
>em sociedade, do que no dia 20 de Janeiro ?
>Aposto que não.
>Até penso que grande parte dos votantes dos partidos
>de esquerda nem sequer associam o PSD e o CDS ao
>governo Santana/Portas que tão claramente mostraram
>rejeitar. Grande parte dos dirigentes do PSD saem até
>prestigiados pela mão da esquerda desta curta
>experiência “santanista” (lembramos Pacheco Pereira,
>Marcelo, Cavaco, Manuela Ferreira Leite, António
>Borges e muitos outros) e constituem-se como perigosos
>inimigos futuros.
>
>A culpa disto tem que ser atribuída àqueles que, por
>sofreguidão do poder, concentraram todos os trunfos
>eleitorais na exploração, até à náusea, das
>“peripécias santanistas”, tirando partido de uma fama
>longamente construída do “play-boy” e explorando a
>tendência portuguesa para a inveja (como explica
>Fernando Gil).
>
>A exploração fácil do “santanismo” foi, pelo sim pelo
>não, complementada pelo elenco habitual de “medidas
>sociais” em que cada partido tenta sempre superar os
>concorrentes esmerando-se no “caderno reivindicativo”
>(Sócrates considerou Bagão populista por baixar as
>taxas de IRS mas considera responsável prometer “tirar
>300.000 idosos da miséria” e a “criação de 150.000
>postos de trabalho”).
>
>Alguns dirão que sem este oportunismo a esquerda não
>teria vencido as eleições mas cabe perguntar se esta
>vitória serve para alguma coisa. Cabe perguntar se
>vencer sem um claro programa de transformações
>progressistas não redundará, como no passado, numa
>nova machadada na esperança que os portugueses
>deveriam depositar na esquerda (a desilusão que
>percorre a sociedade brasileira na sequência da
>eleição de Lula da Silva é ilustrativa deste perigo).
>
>Quando falo de transformações progressistas estou a
>pensar na definição de esquerda apresentada mais
>acima, numa mudança de paradigma sócio-económico, e
>não do “Estado Social” que é hoje, por falta de
>imaginação, a bandeira de todos os partidos à esquerda
>do PSD. Temos em Portugal um partido que se chama
>“social-democrata”, o PSD, mas aqueles que realmente
>defendem a social-democracia, entendida como
>“capitalismo+estado social”, são o PS, o PCP e o BE.
>
>Por muito que invoquem o “marxismo-leninismo” ou as
>“propostas fracturantes” quer o PCP quer o BE (do PS
>nem vale a pena falar) têm vindo a capitular perante o
>modelo da social-democracia. Desapareceram as
>referências à superação do capitalismo que é cada vez
>mais contestado com base nas injustiças da
>redistribuição e não por constituir um empecilho para
>o desenvolvimento da espécie humana.
>Trata-se mais de “cuidar dos pobrezinhos” do que de
>abrir caminho para um novo patamar da humanidade em
>que os “pobrezinhos” sejam um anacronismo.
>
>Para aqueles que duvidem do que eu digo deixo um
>desafio: imaginem que a maioria absoluta tinha sido
>dada não ao Sócrates mas ao Louçã, ou ao Jerónimo e
>pensem, no vosso íntimo, se eles realmente estão
>preparados, se têm vindo a criar as condições
>políticas para transformar profundamente a nossa
>sociedade.
>
>Em suma: venceu a “esquerda” que temos e perdeu a
>esquerda que devíamos ter.
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