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Vasco Pulido Valente
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Date Posted: 2/05/05 13:09:29
Um lindo destino
Vasco Pulido Valente, Público, 1/05/05
O Bloco de Esquerda começou por ser um grupo excursionista em que entrava uma certa gente que odiava o PC e que não tinha entrado no PS, melancólica e humilde, quando a ideia de “revolução” perdeu qualquer respeitabilidade ideológica.
O trotskismo e o leninismo tinham passado a outro mundo e era preciso inventar qualquer coisa nova. Ninguém sabia muito bem o quê.
Mas, felizmente para o Bloco, o governo de Guterres abriu um caminho compensador e fácil. Um PS maioritário, moderado e coagido a conviver com o catolicismo do chefe, criava uma incomodidade de raiz, que a esquerda não iria tolerar indefinidamente. E, como no PS a revolta ficou pelo resmungo, apareceu o Bloco para anunciar o regresso à “pureza” de um “socialismo autêntico”.
O “socialismo autêntico” não trazia novidade nenhuma, excepto a de insistir no que Guterres se recusava a defender: no aborto, na união de facto, no casamento de homossexuais. Claro que o “socialismo”, “autêntico” ou não, nunca se pronunciara sobre nada disto. Mas tudo isto “fracturava”. Mais precisamente, fracturava o eleitorado do PS e fracturava a sociedade.
O Bloco à superfície parecia moderno e, melhor ainda, anti-regime. O estilo, de resto, ajudou muito, da maneira de vestir deliberadamente casual (e manifestamente cara) ao tom predicativo de Louçã e Portas.
Por ironia, as relíquias da “revolução” e do marxismo, conseguiam emergir como a “nova esquerda”. Uma esquerda fresca, despretensiosa, sem hierarquia e com um indomável fervor evangélico. Os partidos tresandavam a hipocrisia, o Bloco suava sinceridade.
Vieram os votos, vieram os deputados, veio o poder e o que é que sucedeu? O Bloco descobriu em si, como o PP de Portas (Paulo), a ambição de governar.
No próximo congresso tenciona eleger um chefe (Louçã, evidentemente), com o título, por enquanto envergonhado, de “coordenador da comissão política” e declarar solenemente que se considera uma “alternativa”.
“Para o país”, calculem. Lá dentro até já há uma “base” que se queixa do “estreito círculo” dos “notáveis”, como compete a um partido decente; uma esquerda e uma direita; e mesmo o desejo, muito humano, de expulsar os militantes que por qualquer razão se tornem incómodos.
Perfeito. Com um pequeno rsforço o BE acaba com certeza por se transformar num PS em miniatura e por se aliar com ele em 2009. É um destino, por assim dizer, lindo,
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