Subject: Re: A lição de Cipriano que sabe o que diz. |
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visitante.
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Date Posted: 2/05/05 13:14:32
In reply to:
Cipriano Justo
's message, "A lição de Lisboa" on 1/05/05 22:09:19
>A lição de Lisboa
>
>Cipriano Justo - 26/04/05
>
>
>(in www.comunistas.info)
>
>
>
>Os recentes desenvolvimentos das negociações entre as
>direcções do PS e do PCP para se chegar a uma
>plataforma de convergência com vista a derrotar a
>direita nas próximas eleições autárquicas,
>nomeadamente em Lisboa, veio mostrar como alguns
>partidos de esquerda continuam a tratar matéria
>política de vital importância. Mau grado a expectativa
>que rodeou estas conversações, com a direcção do PCP a
>exigir celeridade no encontro, a sensação com que se
>fica da declaração da ruptura das negociações é de que
>este partido se preocupou mais em demonstrar
>rapidamente à sua base eleitoral de apoio a
>impraticabilidade de um acordo do que empenhar-se em
>construir um quadro político e programático que
>enquadrasse e promovesse o formato e o arranjo final
>de uma coligação alargada. Colocar como ponto único de
>uma agenda de negociações com tantos contenciosos o
>“quanto”, sem cuidar previamente do “quê” e do “como”,
>só mesmo de quem intencionalmente quer fazer de uma
>conversação um casus belli político.
>
>
>
>Mas, bem vistas as coisas, e analisando os últimos
>anos da coligação PS/CDU está lá boa parte da
>explicação para o que agora aconteceu e para a
>consequente inviabilidade de coligações noutras
>autarquias entre estes dois partidos. Se exceptuarmos
>o período em que a Câmara Municipal de Lisboa foi
>liderada por Jorge Sampaio, na base de um amplo
>movimento participado de partidos, organizações de
>esquerda e cidadãos, tudo o que se passou depois foi
>pouco mais do que a gestão partidária de territórios
>camarários fortemente blindados. Foi assim que, em
>2000, esta coligação chegou às eleições sem ter
>conseguido criar nos lisboetas a necessidade
>subjectiva de uma convergência política vitoriosa. E
>foi sobretudo no tecido dessa fragilidade subjectiva
>que a coligação de direita conseguiu ganhar adeptos e
>a eleição para a Câmara de Lisboa. Saiu derrotada para
>a Assembleia Municipal, mas aí, é bom recordar, tinha
>a liderá-la uma figura ímpar da nossa democracia e da
>esquerda portuguesa, João Amaral. Pelo caminho tinham
>ficado uma estratégia para Lisboa e as ideias de
>convergência, coligação e cooperação. Por isso, nesse
>ano, a repetição da coligação foi mais um ritual
>impulsionado por uma rotina recheada de inércias e
>acomodamentos, do que um acto criador movido por um
>desejo profundo de renovação de um projecto para a
>cidade.
>
>Enquanto componente estruturante de um programa para o
>aprofundamento da democracia, uma política autárquica
>maioritariamente liderada pela esquerda ficou adiada,
>pelo menos, por mais quatro anos. Esse é o meu
>vaticínio. Ainda que, aqui e ali, vão emergindo, à
>revelia das direcções partidárias, vontades, esboços e
>dinâmicas de convergência que, a concretizarem-se,
>poderão tornar-se movimentos exemplares para o futuro.
>Apesar deste fracasso, nestes seis meses que restam
>até às eleições de Outubro ainda há muito para fazer e
>discutir à esquerda, de forma a poder-se corporizar
>uma candidatura a Lisboa que tenha em vista uma ideia
>integrada do que poderá constituir uma cidade
>apropriada pelos que nela habitam, pelos que nela
>trabalham e pelos que a visitam, com uma estratégia
>própria de redução das suas assimetrias sociais, um
>plano de articulação e integração dos seus espaços
>culturais e de lazer, um projecto de dinamização de
>redes informais de entreajuda, nomeadamente da
>população idosa, um programa de promoção da melhoria
>contínua do ambiente natural e do ambiente construído,
>uma política de criação de novas centralidades,
>integradoras das periferias e desses lugares de
>exclusão designados por bairros sociais.
>
>
>
> Mas uma cidade que se queira desenvolver à escala dos
>que nela vivem obriga à reconfiguração de certos
>instrumentos da sua gestão, como a delegação para as
>freguesias de mais competências e recursos, a
>atribuição de poderes mais alargados às assembleias
>municipais e de freguesia, a utilização da figura do
>referendo para decisões que se revelem estratégicas
>para a cidade, o estabelecimento de regras
>transparentes e escrutináveis na utilização dos
>recursos, uma política de vizinhança integrada com as
>autarquias que lhe são próximas.
>
>
>
>Todos os inícios, para se afirmarem, serem bem
>sucedidos e produzirem bons resultados, necessitam de
>um desígnio que mobilize as energias, os saberes, as
>capacidades e as competências dos que nele vão estar
>envolvidos. No caso autárquico, um desígnio que seja
>agregador, transversal a todas as condições
>sócio-económicas, idades, credos e ideologias e cuja
>bondade do benefício possa ser genericamente
>reconhecido e usufruído por todos. Um desígnio que
>comporte, além disso, suficientes externalidades para
>facilitar e potenciar os restantes planos, programas e
>projectos. Estou a pensar, mais concretamente, numa
>candidatura da cidade de Lisboa à Rede Europeia das
>Cidades Saudáveis, da Organização Mundial de Saúde. Se
>a esquerda ganhar a autarquia de Lisboa em Outubro
>próximo tem todas as condições para isso.
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