Author:
Manoel de Lencastre
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Date Posted: 8/05/05 12:43:31
In reply to:
Carlos Carvalhas
's message, "foram os comunistas dos primeiros a levantar-se na luta contra o fascismo" on 7/05/05 9:09:37
Comissários soviéticos fundiram na tradição militar geral a ideologia do marxismo-leninismo
Exército Vermelho à janela do mundo
Manoel de Lencastre
O Exército Vermelho dos Operários e Camponeses (1918-1948), sucedeu ao exército regular cuja existência vinha dos tempos dos czares. Foi constituído, já em plena Guerra Civil, quando a Rússia (URSS a partir de Setembro de 1922) ainda se achava em estado de guerra com a Alemanha. Depois da paz de Brest-Litovsk e, até 1922, sustentou quatro anos de rudes batalhas nas frentes ucraniana, do Don, do Cáucaso e do Extremo-Oriente, defendendo a Revolução e o futuro contra as forças do passado que os exércitos «brancos» (Koltchak, Denikine, Vrangel), representavam.
As formações militares contra-revolucionárias tinham o apoio directo e indirecto dos países imperialistas. Mas as grandes operações militares a que a Guerra Civil deu lugar, originaram o aparecimento de chefes militares bolcheviques cujos nomes o mundo se viu obrigado a reter – Vorochilov, Budienni, Tukachevski. O desenvolvimento das hostilidades conduziu a que o Exército Vermelho aprofundasse o espírito que era próprio dos seus quadros e a ideologia que o Partido advogava. Mas o organizador inicial da máquina militar que em 1945 seria a mais poderosa do mundo, foi Trotski, comissário soviético para a Guerra de 1918 a 1924. Em 1925, Trotski seria substituído no comando supremo do Exército Vermelho por Mikhail Frunze, um veterano bolchevique com grande envolvimento na área militar.
Em termos de acção histórica, o Exército Vermelho não sofre comparações. Mas pode aceitar-se que outros, como o Exército de Novo Modelo criado por Cromwell (guerra civil inglesa), o Exército de Itália (Bonaparte) e a «Grande Armée» napoleónica, também apelaram, nas suas próprias condições, às massas populares cujos interesses diziam defender. A integração de quadros resolveu-se com a chamada ao efectivo de 40 000 oficiais e 200 000 sargentos e praças oriundos do exército anterior. Mais tarde, a criação das academias de onde sairiam os grandes chefes militares que levariam o Exército Vermelho à vitória na 2.ª Guerra Mundial, proporcionou o aparecimento de pessoal para o futuro. Não só se formavam quadros segundo as teorias militares alemãs, de Clausewitz, que Lenine apreciava, como se integravam os estudos do marxismo-leninismo nessa formação. Nestes termos, a qualidade dirigente do Partido sobre os simples comandos militares administrativos ou operacionais seria garantida quando se decidiu a colocação de comissários políticos em todas as estruturas de comando e a todos os níveis.
A Vitória dos Vermelhos na Guerra Civil
A 7 de Novembro de 1920, um domingo, quando se celebrava o terceiro aniversário da Revolução de Outubro, o jornal Pravda escrevia: «Durante três anos, a República dos Sovietes viveu e lutou com o martelo, a foice e a espingarda nas mãos. Por três anos, esfomeado e frio, envolvido numa guerra de loucura, o trabalhador soviético caminhou de vitória em vitória. Soube esperar pela desintegração e morte dos seus inimigos. Agora, é necessário não encolher os ombros perante as derradeiras dificuldades. Avante! A vitória final está próxima!»
Nessa mesma noite, as tropas do Exército Vermelho iniciavam o ataque decisivo contra Vrangel em Perekop. Uma semana depois, Frunze, enviava da Crimeia um telegrama jubilante cujo conteúdo era o seguinte: «As unidades do Exército Vermelho entraram hoje em Sebastopol. Através de golpes poderosos os nossos regimentos conseguiram, finalmenete, esmagar a contra-revolução no Sul da Rússia. O torturado país tem, agora, uma oportunidade única para curar as feridas que lhe foram infligidas pelos imperialistas durante estas guerras civis.»
Na verdade, as diabólicas forças do fascismo e do capitalismo internacional foram derrotadas e expulsas do território soviético. A luta terrível que se vivera em anos de sofrimento e desespero estava ganha. O poder soviético, criado três anos antes, sobrevivia e marchava para o futuro. Os comunistas tinham esmagado a contra-revolução!
Berzarin ao assalto do Reichstag
A batalha pela conquista de Berlim atingira o seu ponto decisivo em fins de Abril de 1945. Prisioneiros de guerra nazis não evitavam confessar aquilo que os seus chefes tinham revelado: «Nunca deixaremos os russsos capturarem a nossa capital! Se a cidade tiver de ser entregue, sê-lo-á só aos americanos!». Mas as tropas dos Estados Unidos estavam longe. Pelo contrário, o coronel-general Nikolai Berzarin (1904-1945) entrara na capital do Reich à frente de numerosas divisões do Exército Vermelho. O avanço em direcção ao Reichstag fora doloroso devido ao elevado número de baixas sofridas. Mas, agora, o majestoso edíficio de altas escadarias e colunas de onde a voz do povo germânico se ouvira em tempos mais favoráveis, era uma ruína. Os incessantes bombardeamentos da artilharia soviética tinham-no desfigurado. Era essencial, entretanto, entrar lá e conquistá-lo. Então, o feroz conflito que fizera perder a vida a 20 milhões de cidadãos e cidadãs da URSS, terminaria. Não antes!
Estamos a 30 de Abril. Tropas soviéticas lutam casa a casa, bloco a bloco. Comandam-nas os generais do Exército Vermelho, Kuznetsov, Berzarin, Bogdanov, Katukov e Chuikov. São filhos dos homens novos soviéticos e das academias militares criadas durante a Guerra Civil. Agora, estão no centro de Berlim, no coração da Europa, à janela do mundo. Às 14.25, o 3.º Exército de Tropas de Choque entra, efectivamente, no edifício do Reichstag. A defesa nazi compreendia unidades SS com 6000 homens, equipadas com tanques, canhões de assalto e forte artilharia.
O assalto geral foi levado a cabo pelo 79.º Corpo de Atiradores e pelo 3.º Exército de Tropas de Choque que incorporava a 3.ª Brigada de Tanques. O Corpo de Atiradores era comandado por Semyon Perevertkin, um activo participante na batalha de Moscovo, em 1941, e Herói da União Soviética. Mas, apesar de já estarem ocupados os andares inferiores do edifício, a verdade é que a guarnição inimiga continuava a resistir nos pisos superiores. Às seis da tarde, o comando soviético (Jukov e Berzarin) tomou a decisão de levar à prática uma nova onda de ataques, de modo a que a histórica batalha pelo Reichstag chegasse ao fim. Unidades das 150.ª e 171.ª divisões de atiradores lançaram-se contra o objectivo e começaram a ocupar os pisos onde a resistência alemã, finalmente, claudicava. Às 09.50, o sargento Yegorov e o furriel miliciano, Kantaria, subiam ao telhado do edifício conquistado e, com toda a cidade de Berlim aos pés, içavam a vitoriosa bandeira da URSS e a vitória consumava-se.
Stalin: «O filho da mãe suicidou-se!»
Quatro horas da manhã de 1 de Maio. O general Chuikov, o herói que defendera a fábrica de tractores em Stalinegrado, telefona a Jukov com a informação de que, segundo o general nazi, Krebs, a morte de Adolf Hitler podia ser confirmada. Krebs possuia uma carta assinada por Goebbels autorizando-o a informar os chefes soviéticos do suicídio do Fuhrer e achava-se de posse, igualmente, do testamento deste. Face ao que estava a acontecer, Jukov entendeu competir-lhe informar Stalin, em Moscovo. Este encontrava-se na residência de Verão. O general de serviço mostrou-se relutante em acordar o dirigente principal da URSS.
«O camarada Stalin já está deitado. A estas horas...» Mas Jukov insistiu: «Faça o obséquio de acordá-lo. O assunto é urgente e não pode esperar pela manhã.» O Comandante Supremo surgiu ao telefone. Jukov informou-o do suicídio de Hitler e da carta de Goebbels, que também se suicidara. Stalin fez um compasso de espera. Depois, disse: «Então, camarada Jukov, o filho da mãe suicidou-se. Pena, pena que o não tivessemos capturado vivo. Onde está o corpo?» Jukov respondeu esclarecendo que os corpos de Hitler e Eva Braun tinham sido queimados. Stalin, reagiu: «Se assim é, diga ao Sokolovski que não entraremos em quaisquer negociações a menos que aceitem uma rendição incondicional. E, já agora, se nada de especial acontecer, faça-me o favor de não voltar a telefonar até ao meio-dia. Também preciso de algum descanso antes da parada do 1.º de Maio».
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