Author:
Carlos Vaz Ferraz
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Date Posted: 24/10/05 11:04:03
(...) Não posso deixar de expressar o meu mais solidário e pronto apoio a quem, sendo enfermeiro, se queixa da dura vida de tratar de doentes.
Doentes, sim, gente particularmente perigosa, com doenças, e preguiçosa, que nem se levanta da cama e exige ser transportada, e imprevidente, que adoece a qualquer hora do dia e da noite.
Características terríveis que provocam nos enfermeiros patologias várias e algumas incapacidades Tísicas, obrigando-os mesmo a trabalhar por turnos! Além do risco de transformar os enfermeiros em doentes e os suj eitar a serem tratados por outros enfermeiros, porventura tão doentes como eles...
(...) Permito-me apresentar outros casos de trabalhadores também sujeitos às maldades inca-pacitantes do trabalho. Maldades que me abstenho de descrever dado esse trabalho ter sido genial e exaustivamente feito no inicio do século XX por um malandro chamado Paul Lafar-gue, num livrinho intitulado o Elogio da Preguiça e que ainda circula por aí.
Gostaria, para que os enfermeiros não se sintam sós na sua justa luta, de lembrar os casos, entre muitos outros, dos electricistas, sujeitos a choques de alta e baixa voltagem (...) e os serralheiros, sujeitos a fagulhas incandescentes, e os cavadores, com calos e dores nas cruzes, também elas deveras incapaci-tantes, e os cangalheiros, que se encontram numa posição ainda mais delicada que os enfermeiros, pois lidam com os mortos, (...) e os pescadores, obrigados a enfrentar a fúria do mar, e os aviadores, com o stress aeronáutico, e os mineiros, enterrados vivos nas profundezas do planeta.
E, para que não se diga que se trata apenas de profissões de grande exigência física, refiro os artistas, consumidos e angustiados perante a falta de inspiração, os actores gagos, os cantores roucos, os escritores cegos, os trapezistas com vertigens, enfim... um sem fim de seres humanos a quem o trabalho dã cabo da saúde e causa problemas e que merecem uma reforma. (...)
Todos, com os enfermeiros à cabeça, exigimos respeito do Governo, dos ministros, das autoridades competentes, de quem de direito, menos de nós próprios. Ninguém, dos enfermeiros aos polícias, dos mergulhadores aos pára-quedistas, dos estivadores aos vendedores, dos amanuenses aos pedreiros pode aceitar trabalho penoso, por turnos, com matérias perigosas, em ambiente hostil, sem pausa para café, sem licença para estudos, sem tempo para os filhos, para os e as consortes, as actividades de lazer, ou para um simples biscate para acertar o fhn do mês.
Todos temos direito ao paraíso!
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