Author:
Vasco Pulido Valente
|
[
Next Thread |
Previous Thread |
Next Message |
Previous Message
]
Date Posted: 29/10/05 8:33:37
In reply to:
Fernando Penim Redondo
's message, "Os poderes do Professor KAWAKU" on 28/10/05 15:25:13
O manifesto de Cavaco não se percebe bem. E não se percebe bem porque pode ser tudo e, com a mesma facilidade, pode, evidentemente, não ser nada. Às vezes, por exemplo, parece uma redacção. As minhas ambições para Portugal, de Ronaldo Silva, 18 anos, Alcântara, Lisboa: "Eu gosto muito de Portugal. O meu pai diz que Portugal é um país da merda. Eu gosto muito de Portugal. Eu gostava muito que os ladrões dos políticos não roubassem. Eu gostava muito que o meu pai fosse rico e a minha tia Sandra arranjasse emprego e eu ir ao Brasil. Eu gostava muito de não faltar à escola e ter boas notas e depois ganhar muito dinheiro para ir ao Brasil. Eu gosto muito de Portugal. O meu pai diz que está lixado. Eu gostava que não houvesse pobrezinhos. Eu gosto muito de Portugal."
Se não for uma redacção, o manifesto talvez seja um Dicionário de Lugares-Comuns para Candidatos com Ambições para Portugal, da editora Sampaio e Companhia (sede em Belém). Há grande escolha: credibilizar o Estado; seriedade, honestidade e transparência da vida política; pleno exercício dos direitos, liberdades e garantias; participação cívica; consolidação orçamental para reforço da competitividade e do desenvolvimento; qualificação dos recursos humanos; sociedade mais justa e solidária; sistema de segurança social financeiramente sustentável; aposta forte na qualidade do ensino superior; tradicional repúdio pelo racismo e xenofobia, etc., etc., etc... O dicionário fornece a qualquer ambicioso para Portugal 20 mil entradas, garantindo que não significam absolutamente nada e servem para qualquer ocasião. O dicionário inclui ainda um pequeno suplemento de adjectivos de comprovado êxito - como exigente, competente, eficiente, rigoroso, livre, responsável, plural, prioritário e por aí fora - para polvilhar apropriadamente a prosa. E, finalmente, expressões de uma rara elevação teórica e literária como "a vizinha Espanha", "neste início do século XXI" e "não me pouparei a esforços".
Não sendo nem uma redacção, nem um dicionário, o manifesto só pode ser uma asneira. Passa por um programa de governo, promete a Lua, acicata a esperança de um milagre para o dia em que o dr. Cavaco subir gloriosamente aos céus. No fundo, agrava o pior problema do presuntivo Presidente Cavaco: a desilusão e a fúria do país quando constatar que ele não mudou, nem consegue mudar, coisa nenhuma. Tretas de agora, penas de amanhã. O manifesto é um mistério.
[
Next Thread |
Previous Thread |
Next Message |
Previous Message
]
|