Author:
Itelvino Rodriguez
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Date Posted: 2/11/05 18:35:35
O Neonomadismo e a Globalização Capitalista
Se há algo em que temos de ser completamente honestos, aquando das nossas sucessivas críticas ao capitalismo, é o reconhecimento da forma imaginativa e variada como este apresenta os seus propósitos sanguinários ao povo explorado! Perito na arte da semântica, possui a maléfica aptidão, de converter as mais escabrosas barbaridades em conceitos floreados de rápida assimilação geral! Em primeiro lugar, a sua própria denominação: capitalismo, é sinónimo de “livre” mercado, “livre” concorrência, “livre de“ taxas alfandegárias, entre outras inúmeras “liberdades” das quais só usufruem aqueles que possuem determinado “status capitalis”! Infelizmente, para a grande maioria, é pelo nome de “crise” que nos é mais fácil identificar esta doutrina. É esta outra “liberdade”, que mais vezes nos é concedida, assim como a “liberdade” de exploração (muito pouco agradável para aqueles que ocupam um espaço térreo na pirâmide organizacional) É pois, um sistema repleto de repugnantes características e tamanhas contradições, que apenas visa o progresso e acumulação de riqueza para uma diminuta minoria, levando à fome e à miséria o restante planeta!
O capital, exaustivamente empenhado em perpetuar a sua condição superior, desenvolve sofisticadas artimanhas com o fim de iludir profilacticamente toda e qualquer semente de intenção à edificação de um mundo diferente! Deste modo, da noite para o dia, assistimos à utilização de palavras bem conhecidas do nosso vocabulário, em contextos bastante diferentes do que estamos habituados! De todas, a que considero mais grave e que certamente faria Marx vociferar um pesado palavrão, é a nova substantivação daquele que trabalha: o colaborador! Ora, como toda a gente sabe, não é a alteração de uma denominação que altera a qualidade de vida de uma pessoa, seja ela rotulada da maneira que os senhores do capital o entenderem! Este vil e mesquinho truque, para simular uma pseudo – promoção de carreira e procurando evitar a dicotomia entre o patrão e os seus subordinados, intenta profundamente contra a inteligência de toda uma classe trabalhadora! Sem querer incomodar demasiadamente as divindades do campo metafísico, solícito que me seja infligido um raio fulminante caso um dia escute a frase:” Vou colaborar” ou qualquer outra variação dentro do mesmo tom proferida no âmbito laboral! Da mesma maneira, segundo as novas regras gramaticais, é completamente errado empregar os vocábulos “saúde e educação” desconectados da sua principal conjugação: o negócio! Podendo até, preferencialmente mas não de forma obrigatória, vir acompanhado de um documento de estimativa dos lucros em anexo!
Todo e qualquer direito social, mesmo que consagrado na constituição aprovada unanimemente pelos democratas do 25 de Abril, é hoje considerado um privilégio pecaminoso ao qual o nosso governo, misericordiosamente, se esforça por nos livrar!
É também importante referir, que na mesma semana em que nos é apresentado o triste panorama social português (mais dois milhões de pobres!), o orçamento de estado para 2006 não inclua nenhuma medida rectificadora que vise alterar o rumo desta situação! E tendo em conta, que o governo persiste nas manigâncias políticas das medidas equitativas (nova designação para igualdade) é caso para perguntar, se o nivelamento previsto para os próximos anos vai ser efectuado por baixo, agrupando-nos dessa maneira aos países do terceiro mundo!
Infelizmente, a par da crise, vem sempre acoplada uma catequese de novas/velhas soluções e conceitos com o falso intento de aumentar a produtividade. São elas, a flexibilização do código de trabalho, a redução do peso do estado e a mobilidade laboral! Deste último ponto, o qual considero um presente envenenado, existem algumas confusões que convêm esclarecer! Os eclesiásticos desta doutrina, alegam e propagandeiam maravilhas infinitas da possibilidade de se poder trabalhar onde se quiser com os novos acordos internacionais. Ouve-se, repetidamente, que a época do “Nasci, vivi e morrerei neste sítio” findou e o que interessa agora é ir “lá para fora, lá para fora”! Não pondo sequer em causa, que o conhecimento de outras culturas e outros povos engrandece o ser humano de uma forma mútua, será necessário interrogarmo-nos se esta característica da sociedade actual beneficia a generalidade das pessoas, ou se pelo contrário, nos prejudica grandemente! O modo de produção industrial moderno, vulgo toyotismo, consiste na dispersão das unidades fabris pelos diversos continentes relegando a produção propriamente dita, para os países onde a mão-de-obra é mais barata. O desenvolvimento tecnológico e os serviços são instalados no 1º mundo. Ora, como toda a gente sabe, Portugal apanhou o comboio da Europa, mas vai certamente na última carruagem e com um bilhete caduco! Mais seriamente falando, não temos capacidades de competir com os nossos “parceiros” europeus, coisa que numa sociedade unicamente virada para o lucro nos desqualifica automaticamente para outro campeonato! Tendo em conta que a mão-de-obra do nosso país já não é tão barata como há uns anos (leia-se escrava) e o nosso código laboral não permite trabalho infantil ou outros devaneios do princípio do século passado, resta-nos usar as praias e o sol como únicas fontes de rendimento! Acontece, que o turismo por si só, não resolve de maneira nenhuma a crise instalada, nem tem capacidades de absorver os inúmeros profissionais das mais diversas áreas que saem todos os dias para o mercado de trabalho. É também, uma indústria completamente dependente de factores externos difíceis de controlar, inconstante e que na generalidade não contribui directamente para o progresso cientifico da humanidade. Não querendo de maneira nenhuma, ostracizar este sector que também considero importante, penso que as políticas adoptadas recentemente para apoiar os projectos turísticos do Belmiro de Azevedo e outros magnatas são a prova provada que as prioridades deste governo nada tem a ver com a defesa do sistema produtivo! E tal como muitos estrangeiros nos visitam todos os anos em busca de sol e de uma pele mais morena, também muitos portugueses fazem a mesma viagem, em sentido inverso, na esperança de encontrar uma vida melhor! Não se trata de nenhuma benesse fruto da sociedade globalizada! É sim, uma consequência desta! Ao contrário do que tentam passar, a emigração nada tem de novidade, e se recuarmos ás décadas de 50/60 verificamos que o êxodo de emigrantes portugueses para França, Brasil, USA, e outros países foi uma necessidade de sobrevivência! Tal como agora, o país encontrava-se em profunda crise económica fazendo com que a imperativa indispensabilidade de comer se sobrepusesse ao amor pela terra e muitas vezes pela família! Recuando ainda mais no tempo, na altura em que as habitações naturais, conhecidas por cavernas, eram locais privilegiados de residência, constatamos que desde sempre o homem se deslocou geograficamente em busca das suas necessidades! Por outras palavras, o nomadismo é uma medida radical que o ser humano apenas recorre em condições extremas! Não se trata de nenhuma modernice da era informação, do choque tecnológico ou da evolução humana! É um retrocesso civilizacional e uma fraca desculpa para o elevado desemprego! A procura saltitante de trabalho, atravessando fronteiras e por vezes a própria legalidade, atinge contornos perturbantes que os governantes têm a obrigação de se preocupar! E a não ser que a situação do país melhore, é a única alternativa para milhares de portugueses que encontraram no neo-nomadismo uma saída para o seu futuro!
Itelvino Rodriguez
Email: cerf@portugalmail.pt
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