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Subject: O "marxismo" não chegou aos calcanhares do Marx, muito menos é instrumento válido de análise ou de..


Author:
Ex-militante (banzado com mais outra grande tirada do ca)
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Date Posted: 13/02/06 14:11:05
In reply to: Guilherme Statter 's message, "Re: Uma realidade à procura de teóricos (o Marx não serve, aviso já...)" on 12/02/06 22:55:02

...crítica da sociedade contemporânea.

O dito "marxismo" não compreendeu muitas das profícuas abstracções do Marx, muito menos trouxe qualquer contributo válido para a crítica da economia política.

Nem mesmo a Rosa, a mais inteligente e arguta dos discípulos, tendo embora detectado erros e contradições na obra do mestre, conseguiu superar as suas lacunas e erros. E todo o "marxismo" restante é trampa, quanto a produção teórica, e só ganhou notoriedade porque um golpe de Estado audacioso levou os comunistas ao poder.

Lenine tem muitas qualidades como teorizador do partido de revolucionários profissionais e como estratego e táctico audacioso, mas não legou contributo original de qualquer valia para a análise da sociedade contemporânea ou para a crítica da economia política capitalista.

A análise e a crítica da sociedade contemporânea terá de encontrar novos teóricos à altura, como muito bem diz o Redondo. Mas ao contrário do que ele também diz, esses não partirão do zero, porque os caboucos onde deverão assentar as novas estruturas do pensamento teórico foram abertos por Marx.

O Marx profeta idealista está no caixote do lixo da História, mas o Marx teórico da crítica da economia política, embora ultrapassado (não apenas pela vida, mas pelos erros e insuficiências da sua obra) deixou um legado pioneiro que espera por críticos à altura. Por ter desbravado o vasto mundo das aparências da economia política, esse legado é uma base de valor inestimável, que se estende em maior ou menor grau a todas as chamadas ciências sociais, que de algum modo são hoje credoras desse contributo pioneiro.

O problema é que uns marxistas transformaram a obra do Marx em bíblia sagrada, usando-a como quaisquer outros fanáticos usam as sagradas escrituras dos seus credos, e outros andam há cento e cinquenta anos a tentar compreendê-la em vão. Enquanto isso, a sociedade evoluiu, foi-se transformando, e os marxistas continuam agarrados a velhos estereótipos sem qualquer relação (ou muito pouca) com a realidade existente.

O que o Redondo aponta não são meros factos tecnológicos: são isso e também alguns dos impactos que eles vão tendo na sociedade contemporânea, a todos os níveis. A tecnologia não dita nada, não determina nada (ao contrário do que ele pensava em tempos ou pensa ainda), mas abre um mundo novo de possibilidades, que por seu lado, ao serem aproveitadas, vão transformando a própria tecnologia e abrindo outras novas possibilidades.

O que estamos vivendo actualmente, que nos permite apenas imaginar toscamente o futuro, e ainda assim não muito longínquo, não é apenas a grande celeridade das transacções e a maior efemeridade das mercadorias e dos processos produtivos; é também a transformação radical dos processos produtivos e dos próprios produtores, com a robotização, a automação e as nanotecnologias; é a ascensão do conhecimento como principal factor produtivo, é a produção mais acelerada da riqueza material, que está retirando da pobreza e da miséria vastas massas de milhões de seres humanos (que passam de camponeses a modernos operários insdustriais), e é a "terciarização" sem precedentes do trabalho.

Cada vez maior quantidade de mercadorias assumem a forma de produtos informacionais ou de serviços, com grande efemeridade. Essas características das mercadorias (que o Redondo aponta, a meu ver erradamente, como factor de grande debilidade) são a evidência do dinamismo da evolução económica e social que estamos vivendo, pois permitem a ascensão de novos produtores, autónomos ou associados de formas diversas, formais ou informais, que se vão auto-apropriando de parte cada vez maior da riqueza de que são criadores.

Por outro lado, essas transformações económicas e sociais vão tendo os seus impactos na ideologia dominante, valorizando cada vez mais a liberdade, o esbatimento das diferenças mais diversas e fortalecendo a iniciativa individual.

A globalização do capitalismo não é apenas prenúncio do seu esgotamento: tal como aconteceu no passado, nesta outra globalização misturam-se o velho e o novo, o capitalismo e outras formas de apropriação da riqueza criada, que o substituirão.

Pretender que nestas épocas de transição se vejam com límpida clareza as formas difusas que apenas despontam e que ao emergirem vão mostrando contornos não imaginados é desejo do mesmo tipo que o capitalismo tivesse produzido um Marx nos seus alvores. Marx apenas apareceu na fase de maturidade do capitalismo, porque apenas nessa altura era possível ver, para além das aparências, a essência da realidade que se consolidava pujante. E não apareceu conjecturando o futuro, mas criticando o passado e a sua ideologia, patente na economia clássica, e tornando mais clara a realidade que era o seu presente.

Por estas características da realidade contemporânea, a produção teórica sobre a realidade presente, ainda que difícil, só vai ser possível submetendo ao crivo da crítica o "marxismo" e as suas fantasias. Mais do que o próprio Marx, o "marxismo" e outras correntes mais difusas, neo-marxistas ou afins, são o grande alvo da crítica teórica, porque continuam pensando a realidade contemporânea como se ela fosse ainda a do capitalismo industrial, e porque também não perderam a veleidade de aspirar a conceber, projectar e a levar a cabo organização social do futuro, como se a realidade social se pudesse conceber previamente e por mera opção racional.

Esta pretensão de grande arquitecto social, à semelhança dessa entidade mítica omnipotente que determinaria a natureza (o Deus ou Deuses) como seu supremo arquitecto, numa pseudo e mistificada harmonia que a realidade permanentemente desmente, é o grande entrave a que o pensamento teórico se concentre em si próprio e na realidade e progrida sem preocupações humanitaristas quanto ao futuro.

A ciência não se compadece com os desejos, as aspirações idealistas ou a imaginação dos cientistas. Muito menos se compadece com tais pretensões dos políticos. Essa é a separação que é necessário tentar, para além de Marx, que as misturou.

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Só o trabalho produz riqueza .Já assim era no tempo de Marx e continua a ser !Cuanhama mandume15/02/06 1:31:01


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