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Subject: Re: Uma realidade à procura de teóricos (o Marx não serve, aviso já...)


Author:
Guilherme Statter
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Date Posted: 12/02/06 22:55:02
In reply to: Fernando Penim Redondo 's message, "Uma realidade à procura de teóricos (o Marx não serve, aviso já...)" on 10/02/06 19:30:03

O teórico Marx não servirá (para analisar esta realidade), dizes tu. Ou melhor, tu é que o dizes. E de forma definitiva.
Pois, talvez não sirva.
Mas se calhar o "marxismo", enquanto corrente ou conjunto de ideias e métodos de análise elaborados por outros (como Lenine, Luxemburgo, Hilferding, Mandel, Gramsci... (1)), mas a partir das ideias fundadoras de Marx, isso (o "marxismo") já é capaz de te propiciar ferramentas úteis para um entendimento dessa realidade.
A questão que aqui se coloca é: qual realidade?
É que tu limitas-te a indicar uma série de maravilhas tecnológicas mas, para além de afirmares o seu caracter "estruturador" da actividade económica, pouco mais dizes acerca de uma eventual (ainda que provisória) caracterização desse aspecto "estruturador".
De que maneira é que "isso" interfere na estruturação das classes sociais.
De que maneira é que "isso" afecta o processo de geração de mais-valias e da sua apropriação e por que grupos ou classes sociais.
Dizes a certa altura que
"Os hieroglifos podem ser lidas vários milénios depois mas a folha de calculo antiquada que gravámos numa diskette de 5 polegadas pode estar irremediavelmente perdida".
Pois a esse respeito de facto os hieroglifos podem ser lidos hoje, mas só porque foram gravados em pedra e até agora resistiram à erosão. Já quanto à informação gravada em disquetes de 5 polegadas estará mesmo irremediavelmente perdida se entretanto alguém não a achar suficientemente importante para lhe dar outro suporte.
Dizes também
O que acontece com a vertiginosa progressão digital é que os suportes se sucedem e os dispositivos que os "lêem" vão-se tornando obsoletos e acabam por desaparecer.
Um bom exemplo disso são os discos fonográficos; quem é que hoje ainda tem a possibilidade de ouvir discos de 78 rotações ?
Isto implica converter, de tempos a tempos, a informação contida nos suportes antigos para os novos suportes.

E depois?... Por isso é que estamos na idade da "Informática". A referida sucessão de dispositivos (que tornam obsoletos gerações tecnologicamente anteriores) acaba por funcionar como um "filtro macro-social" da informação efectivamente relevante. Aquela que corresponde mesmo e de facto a um processo societal de acumulação.
Eu por mim sou proponho – numa muito preliminar abordagem – tentar ver a coisa, quer de um ponto de vista da abordagem da "sociologia do trabalho" ou "sociologia organizacional" (de que maneira a digitalização de tudo e mais alguma coisa tem estado a alterar os métodos de trabalho, criação e distribuição da riqueza), quer de um ponto de vista da abordagem da chamada "escola do sistema-mundo" (de que maneira essa digitalização tem estado a transformar a estrutura do sistema-mundo e a facilitar a sua financeirização global).
Outros (economistas, antropólogos, cidadãos interessados) terão com certeza outras ideias, mas isso fica para outra altura.
Se se justificar, claro.

(1) Cito apenas alguns nomes mais conhecidos sem qualquer mínima pretensão de exaustão (!) ou de "agregação harmoniosa" dos respectivos contributos.

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Replies:
Subject Author Date
Não estás a ser rigorosoFernando Penim Redondo12/02/06 23:29:36
O "marxismo" não chegou aos calcanhares do Marx, muito menos é instrumento válido de análise ou de..Ex-militante (banzado com mais outra grande tirada do ca)13/02/06 14:11:05


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