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Subject: Estratégia do imobilismo | |
Author: Diogo Pires Aurélio |
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Date Posted: 28/02/06 18:52:11 Os protestos já começaram a subir de tom. Como de costume, assim que um Governo ameaça mexer na máquina do Estado, desatam a ouvir-se as manifestações de desacordo por parte de interesses que vão ser atingidos ou de pessoas para quem todas as reformas são urgentes até ao momento em que lhes tocam a elas ou à família. Nessa altura, inventam-se defeitos a retalho e dificuldades em que nunca ninguém havia pensado. Tudo, para que se possa continuar na mesma: sem alterar uma vírgula no que quer que seja e, ao mesmo tempo, a barafustar contra um país atrasado que, ainda por cima, é irreformável. Nas últimas semanas, assistiu-se à repetição de cenas já clássicas nesta tragédia, uma a propósito das reformas que o Ministério da Educação quer introduzir nas escolas, outra a propósito da chamada "avaliação do desempenho" dos funcionários públicos. Os professores fizeram greve, os sindicatos garantem que não é assim que as coisas se fazem, os curiosos descobriram que, tanto num como noutro caso, se estaria a agir no abstracto, sem atender à multiplicidade das situações, a qual exigiria uma outra atenção em vez de se decidir assim, a trouxe- -mouxe e no geral. Ninguém foi, repare-se, contra a necessidade de se reformar a escola ou a administração. Mas gritaram-se minudências, ergueram-se entraves e ficou demonstrado, por a mais b, que as reformas anunciadas não são perfeitas. Logo, não deveriam ir por diante. Nesta lógica de pedra, que ao longo dos anos se transformou em estratégia do imobilismo, os problemas a que se pretende acudir nas escolas só poderão resolver-se, desde que não se altere nada do que está: não violentar a geografia do interior, exterminando aldeias a prazo; não mexer na rotina dos professores, obrigando-os a aulas de substituição; deixar que as faltas aconteçam, como uma fatalidade perante a qual só resta à escola, no máximo, registá-las. Quanto à administração pública, é parecido. Já se fala em despotismo das chefias, consagração do partidarismo e "sovietização", só porque o Governo anunciou que quer levar por diante a aplicação do sistema de avaliação e introduzir métodos de trabalho há muito experimentados em tudo o que é empresa privada. Para variar, e pese embora a alteração proposta pelo PS à legislação em vigor desde há três anos, os sindicatos já vieram dizer que ainda não é desta que a legislação pode entrar em vigor. A ineficiência e o ridículo que recai sobre quem se esforça, e a quem o sistema actual iguala aos inúteis, pelos vistos não são problema. [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |
Subject | Author | Date |
Re: Estratégia do imobilismo | Ele ainda não percebeu | 3/03/06 15:13:55 |