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Subject: Re: Mais duas achas para a «desorientação» | |
Author: Guilherme Statter |
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Date Posted: 17/11/06 2:08:34 In reply to: Joana Lopes 's message, "Re: Mais duas achas para a «desorientação»" on 16/11/06 14:30:04 Caríssima Joana, 1. Em primeiro lugar não penso que o PCP "sofra" de conservadorismo, pelo menos não no sentido que habitualmente se atribui a essa expressão. Muitos dos seus militantes e dirigentes estarão apegados a um certo e determinado imaginário de revolução, do estilo "os amanhãs que cantam" ou "o Sol brilhará para todos nós", mas esse tipo de imaginário até serve para uma certa "gestão dos afectos" do tipo que tu referes na tua segunda achega. De resto creio que os mesmos militantes e dirigentes do PCP estarão genuinamente motivados para a transformação social e político do mundo em que vivemos. Nesse sentido penso que são "progressistas". Estão, quanto a mim, errados em alguns aspectos de análise e estratégia (e alguns desses aspectos são fundamentais), mas a esse respeito só as próximas gerações é que poderão fazer a verificação da validade desta minha asserção... No caso do Santana Lopes (que referes a título de exemplo de uma pessoa de direita mas que não seria conservador) parece-me que o que se passa é exactamente o contrário. O "combóio da História" mundial deslocava-se (até meados da década de Oitenta, mais coisa menos coisa...) num determinado sentido e com maior ou menor velocidade (por exemplo alguns membros e dirigentes do PCP se calhar gostariam que fosse uma espécie de TGV e o dito cujo combóio ia a velocidade das máquinas a vapor. E parava em todos os apeadeiros...). Sucede que por essa mesma altura houve uma determinada inflexão do "sentido de marcha" e foram justamente as pessoas de direita que começaram a reclamar (ou a fazer, pura e simplesmente) as mudanças que mais lhes convinham. Não para benefício da colectividade (ou da Humanidade em geral), mas para benefício "dos amigos"... Mas, como seria natural, dizendo-nos que era para benefício de "todos"... Paradoxalmente, claro, os que reagiram a esta "inflexão" (como foi em Portugal o caso do PCP) passaram a ser considerados como "conservadores". E para cúmulo (é o que se chama "fazer o mal e a caramunha"...) eram considerados "conservadores", em primeiro lugar, exactamente por parte daqueles que são os mais genuínos reaccionários, quando vistos de uma perspectiva da História de longo prazo. 2. Em segundo lugar, estamos de acordo no que diz respeito à tua ideia de que "ser-se de Esquerda" (ou de direita...) é também uma questão de "gestão de afectos". Devo dizer que me penso de Esquerda não só por uma questão de análise do caracter "irracional" (intrínsecamente contraditório) do sistema capitalista, mas também por uma questão de emoção e Ética. Considero que nasci no seio de uma espécie biológica (a sociedade humana) que me pré-existiu e que (espero...) vai continuar a existir e sem a qual eu pura e simplesmente não exitiria. Como tal sinto-me obrigado para com essa sociedade humana. Os africanos bantus (ou ba-ntus, em que "ba" é o plural e "ntu" será o equivalente à "gens" do Latim) têm uma expressão que resume toda esta filosofia de vida: UBUNTU. Quer isto ("UBUNTU") dizer que se deve dar prioridade ao colectivo (sem no entanto ofender a privacidade ou intimidade personalista de cada um) quando se consideram quaisquer opções com impacto sobre os outros. Que cada um de nós só é humano porque os outros como nós também o são e na medida em que o são. Como será evidente, "isto" está nos antípodas do "individualismo metodológico" tão do agrado da sra. Margareth Tatcher e de outros conservadores. [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |
Subject | Author | Date |
ESQUERDA À PROCURA DE UM NOVO ROSTO | Rosa Redondo (Reposição por vir a propósito) | 17/11/06 8:58:46 |
Já agora... alguns esclarecimentos | Guilherme Statter | 17/11/06 13:03:04 |
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