VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

19/09/24 2:39:44Login ] [ Contact Forum Admin ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 12345678 ]
Subject: 9. O aumento tendencial da miséria dos trabalhadores....


Author:
Guilherme Statter
[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]
Date Posted: 20/11/06 12:27:02
In reply to: Guilherme Statter 's message, "Um "inventário" das ideias de Marx e Engels - Ou a peregrinação continua..." on 14/11/06 10:55:01


9. Há no sistema uma tendência intrínseca para aumentar a miséria material e a alienação dos trabalhadores.

Em relação a esta "tese" tal como inventariada e apresentada por C. Wright Mills (no seu livro "Marxists" – Pelican Books, 1975) haverá também que fazer uma série de reflexões. Essas reflexões inserem-se aliás numa polémica antiga, a qual seja a de saber ou discutir se Marx e Engels se referiam a um aumento relativo se a um aumento absoluto da miséria material dos trabalhadores. Embora a questão possa parecer bizantina (e portanto sem grande relevância para uma análise do sistema de um ponto de vista de uma eventual intervenção prática relativamente a uma sua eventual transformação), quer-me parecer que uma análise comparativa histórica, devidamente quantificada, dos níveis de vida (e seus indicadores consensualmente aceites pelas instituições que se dedicam à investigação em economia e sociologia), apontará – essa análise comparativa – para o facto de que aquilo que tem havido é garantidamente um aumento da "miséria relativa", mas não um aumento da "pobreza absoluta".
Isto tudo em relação a cada vez maiores massas de população, membros da sociedade humana, mas não necessariamente "trabalhadores" no sentido corrente desta palavra.
Ou seja, a este respeito pareceria que Marx estaria, pelo menos de forma parcial, errado na sua previsão.
E como é natural há os que defendem que Marx se referia ao empobrecimento "relativo" e os que defendem que "não senhor, Marx referia-se era ao empobrecimento "absoluto"...
Mas, mais abaixo voltamos a esta questão.
No que diz respeito ao problema do aumento da "alienação dos trabalhadores", temos que considerar os dois aspectos ou significados distintos (mas inter-relacionados) da ideia de "alienação".
Uma coisa será a "alienação objectiva" a qual se diz "objectiva", no sentido em que cada "unidade de trabalho" – mais ou menos "densificado" ou "condensado" - de cada trabalhador humano individual, se materializa ou concretiza numa peça, componente ou parcela física de uma qualquer "mercadoria" alheia ao trabalhador humano individual, o qual por sua vez é visto ou perspectivado de uma forma indiferenciada de um ponto de vista do produto final.
Outra coisa será a "alienação subjectiva" a qual resultará do sentimento que cada trabalhador terá – em maior ou menor medida – de que o "seu" trabalho contribui pouco ou nada ("tanto fazia ser ele como outro qualquer...") para a concretização final da mercadoria a ser produzida.
Digamos que a alienação de que falam Marx e Engels – quer na sua componente "objectiva", quer na sua componente "subjectiva" – é o natural resultado da mecanização crescente dos processos de laboração industrial (e agora também dos serviços) e situa-se nos antípodas do trabalho artezanal que historicamente o precedeu. Isto na medida em que no trabalho do artezão (ou do artista...) o trabalho é uma actividade claramente individualizada e realizadora da personalidade individual e específica de cada trabalhador humano.
O outro aspecto ainda a considerar no que diz respeito ao aumento da "alienação" é o facto de cada vez mais e de forma até agora sempre crescente, as mercadorias produzidas pelos múltiplos colectivos de trabalhadores industrializados, se apresentarem a cada trabalhador individual como "coisas", cujo processo de produção é geralmente desconhecido e – sobretudo – não controlado por cada trabalhador. Os ferreiros ou carpinteiros da Idade Média sabiam perfeitamente como se "fabricava" um martelo ou um serrote... E, se fosse caso disso, tinham como fazê-lo. Hoje não.
Assim sendo, não restarão dúvidas de que tem aumentado a alienação dos trabalhadores e nisto tinham Marx e Engels toda a razão. Aliás, cabe ainda acrescentar, exactamente por ser geralmente reconhecido esse aumento histórico da alienação dos trabalhadores é que surgiu (como uma necessidade objectiva... a dialéctia a funcionar...) toda uma disciplina científica, entretanto traduzida em tecnologias de gestão sob a designação genérica de "gestão de recursos humanos". O exemplo histórico marcante deste fenómeno foram as experiências "Hawthorne", conduzidas por Elton Mayo e a sua equipa em meados dos anos Vinte do século XX, numas fábricas da Western Electric perto de Chicago.
Voltando à questão do aumento da miséria dos trabalhadores, é importante se não mesmo crucial, sublinhar o facto de que haverá uma diferença radical, na avaliação que se faça do comportamento desta "variável" (é disso que se trata, do comportamento de uma "variável" num determinado "sistema" em evolução dinâmica e permanente), consoante consideremos o seu estudo (ou a sua aplicação) num determinado contexto restringido a um determinado ambiente socio-económico (histórico e geográfico) ou o seu estudo na globalidade do sistema ou, em alternativa, o seu estudo e /ou aplicação no ambiente mais abrangente do capitalismo mundial e globalizado e em evolução desde há uns séculos a esta parte.
Assim sendo, e tomando em consideração "apenas" o conjunto dos países industrializados do "Centro" do sistema (a famigerada "Tríade" – EUA+Canadá, Europa e Japão...) parecerá que Marx e Engels afinal estavam enganados. Ao longo dos últimos 150 anos, o nível de vida das classes trabalhadoras aumentou de forma visível em todas essas regiões ou países. No entanto, e como já assinalaram diversos observadores, em particular Thorstein Veblen há mais de 100 anos atrás, o nível de vida (e a posse de riqueza...) dos "proprietários" dos meios de produção aumentou ainda MUITO mais (mas mesmo MUITO mais...) ao longo do mesmo período de tempo.
Mas entretanto é necessário chamar a atenção para um outro aspecto que é um reflexo imediato e directo desta "tese" (tal como aparece nesta inventariação...) e que assume hoje aspectos que muitos observadores (mesmo de campo ideológicos que pouco ou nada têm a ver com Marx e Engels!...) qualificam já, com indignação, de "obscenos".
Estou a referir-me ao problema do desemprego e ao chamado "exército de reserva". O qual, como deveria ser evidente, está directamente relacionado com esta "tese".
Marx trata de forma extensiva o problema da relação entre a progressiva (em todos os sentidos...) "maquinização" dos processos de trabalho e a pressão no sentido da desvalorização relativa do valor da força-de-trabalho. Um dos efeitos da referida "maquinização" progressiva é justamente a criação de uma espécie de "exército" industrial de reserva de mão-de-obra. No desemprego, claro...
O aumento desse "exército" de reserva aumentará necessariamente a pressão negativa sobre os salários, aumentando por tabela a pressão para o aumento relativoda pobreza das classes trabalhadoras.
Para alguns espíritos mais refinados e mais sensíveis aos nomes das coisas, poder-se-á argumentar que "em rigor" o que se tem verificado "não é bem isso". É antes uma tendência para um aumento mais lento (se calhar MUITO mais lento) da "riqueza" (ou nível de vida) das classes trabalhadoras, quando comparado com o progressivo aumento da riqueza das classes "proprietárias". Isto mesmo se considerarmos os países da Tríade como um sistema fechado em si mesmo e não levando em linha de conta os efeitos sobre as populações dos países da Periferia.
Depois dos "Trinta Gloriosos" anos de reconstrução e concorrência com o sistema centrado na antiga União Soviética, a seguir ao fim da Segunda Guerra mundial, o sistema encontra-se de regresso à sua "normalidade" desde há mais ou menos outros trinta anos.
Em resultado do crescimento exponencial das mais diversas tecnologias é hoje MUITO mais visível o grau de globalização planetária para que o sistema caminhava desde há uns séculos a esta parte. Assim sendo era bom que começássemos por aplicar à realidade concreta com que nos defrontamos, instrumentos de análise adequados. É caso para dizer, não passa pela cabeça de um biólogo estudar bactérias com recurso a um telescópio... Mas, infelizmente, muitos cientistas sociais, designadamente economistas, continuam a analisar o seu "objecto de estudo" (a sociedade humana globalizada) recorrendo a instrumentos e metodologias de análise que se revelaram úteis, adequados e relevantes quando aplicados a fracções nacionais dessa mesma realidade.
Da mesma maneira que os princípios da Óptica são os mesmos quando aplicados a um microscópio ou a um telescópio, também muitos princípios ou "teoremas" da análise social e económica são válidos e pertinentes quando aplicados a grupos sociais restritos (como será uma cidade, uma região ou mesmo um país...) ou quando aplicados à sociedade humana como um todo e entretanto globalizada. A forma de articulação desses mesmos princípios analíticos é que tem necessariamente que ser outra e diferente.
Assim por exemplo, quando em resposta às gravíssimas crises de desemprego e crescente miséria social na Inglaterra em meados do século XIX (os tempos de Marx...), o "sistema" resolveu o problema "exportando" mão-de-obra redundante (uma fracção do tal "exército" industrial de reserva) enviando milhões de trabalhadores para países ou regiões por "explorar", "vazios de pessoas", designadamente – e no caso da Grã-Bretanha, o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia.
Os que ficaram na Europa, como eram menos, viram aumentar os seus salários (o que terá acontecido de forma intermitente ao longo de algumas décadas...) de maneira que a conclusão foi então óbvia: afinal o Marx estava enganado...
E foi assim que naturalmente apareceram "revisionistas" e "reformistas" que achavam que afinal as condições de vida das classes trabalhadoras de cada um dos seus países e da Europa (e suas extensões) em geral estavam mesmo a melhorar e de forma estruturada, pelo que afinal se calhar se podia "chegar ao Socialismo" por via da "Reforma", não sendo necessária a "Revolução".
De certa maneira são também percursores da ideia de que o capitalismo não tem efeitos directos e imediatos sobre a estrutura social dos povos da Periferia. Como se estivessem noutro Planeta.
Temos então que – se analisarmos o problema de um ponto de vista, ou à escala do capitalismo globalizado – o já aqui referido "exército" industrial de reserva aumentou (à escala da economia global) de forma exponencial,
As grandes empresas multinacionais (de base norte-americana, europeia ou japonesa... mas agora já não só... a Tríade também de alargou...) têm perfeita consciência disso quando aproveitam a fracção chinesa desse "exército" industrial de reserva de mão-de-obra, para forçar as classes trabalhadoras dos países do Centro a aceitar a estagnação (quando não a redução) das suas condições materiais de vida.
Ou seja, resumindo e concluindo, a respeito desta "tese" Marx estará certo na sua previsão, quer em abstracto (se considerarmos a lógica intrínseca ou a contradição aqui relevante – ver mais abaixo...) quer em termos de observação empírica ao longo das muitas décadas que levamos de "experimentação ao vivo". Muito em especial se considerarmos que "trabalhadores" são todos aqueles que não têm mais nada para vender se não a sua "força-de-trabalho". Mesmo quando não têm "compradores"... Que é como quem diz, quando estão desempregados... E, é necessário insistir nisto, mesmo quando vão sobrevivendo com uns biscates aqui e ali, ou em resquícios de "hortas" e "quintais", nas periferias cada vez mais desestruturadas das megalópoles dos países do chamado Terceiro Mundo.
Porque está directamente relacionada com esta "tese", cabe ainda referir uma contradição básica intrínseca do sistema:
A ambição ou ideal de cada empresário capitalista será o poder pagar aos seus próprios trabalhadores o mínimo que for tecnicamente exequível (para poder recrutar o pessoal que seja estritamente necessário às suas operações...), mas em compensação – o que era mesmo bom – era que os outros empresários pagassem aos trabalhadores deles o máximo que lhes fosse – a eles – possível, criando assim um mercado de consumo para os produtos do nosso empresário minimalista...

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]

Replies:
Subject Author Date
Voscência usa cá uma matemática!Já lhe ocorreu pensar em termos dos milhões de trabalhadores que ovou ali volto já20/11/06 21:54:19


Post a message:
This forum requires an account to post.
[ Create Account ]
[ Login ]
[ Contact Forum Admin ]


Forum timezone: GMT+0
VF Version: 3.00b, ConfDB:
Before posting please read our privacy policy.
VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.