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Subject: Uma questão de método, ou restringir a discussão ao essencial em vez de discorrer sobre o acessório.


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Date Posted: 23/11/06 22:26:14
In reply to: Guilherme Statter 's message, "Um "inventário" das ideias de Marx e Engels - Ou a peregrinação continua..." on 14/11/06 10:55:01

Venho assistindo, com alguma curiosidade, a este discorrer acerca dos erros do Marx. Como é habitual, o autor não parte dos textos vernáculos do Marx, nem que fosse apenas dos extractos que respeitem ao essencial, mas socorre-se de interpretações de terceiros, de rigor interpretativo mais do que discutível. Depois, os seus esforços encaminham-se no sentido de procurar na realidade os indícios que possam confirmar ou infirmar as profecias e outras conclusões do Marx. O trabalho é infrutífero, além de dispendioso, porque o método é errado. De facto, de que valerá tamanho esforço se os próprios postulados do Marx estiverem errados? Melhor método, portanto, para economia de esforço, seria restringir a discussão ao essencial, confrontar os postulados com as premissas que lhes deram origem, verificando se elas próprias são representativas da realidade, assim como conferir se os raciocínios lógicos empregados estão isentos de qualquer contradição.

Ninguém põe em causa aspectos gerais da obra do Marx, nomeadamente, a sua narrativa sobre o funcionamento do capitalismo, quanto à economia e a outras questões que se podem considerar constituírem os alicerces do que mais tarde veio a ser a sociologia. O problema do marxismo não reside na sua generalidade, mas na sua especificidade. O mérito do Marx advém mais dos aspectos gerais da sua obra do que dos aspectos concretos com que procurou fundamentar a profecia idealista que anunciara na proclamação panfletária de 1848, nomeadamente, a sua crítica dos discursos vigentes sobre a sociedade capitalista, tornando a sua compreensão muito mais clara.

A sua narrativa do capitalismo é exaustiva e pungente; a sua crítica da sociedade capitalista é compreensível, pelo humanismo que dela ressalta. A crítica do capitalismo, porém, é totalmente infrutífera, como qualquer outra crítica da realidade empírica. A realidade não é susceptível de mudança através da crítica de alguns dos seus aspectos ou características; o que pode ser objecto de crítica são os discursos explicativos e legitimadores da realidade, não a própria realidade. A crítica do Marx aos discursos sobre a economia-política tem aspectos originais, que constituem progressos valiosos, nomeadamente, sobre as funções desempenhadas pelo dinheiro, sobre a descrição dos objectivos da burguesia enquanto classe e a função da acumulação no desenvolvimento da capacidade produtiva social, etc., mas as questões basilares, como sejam a teoria do valor, a explicação da exploração, a tendência para a queda da taxa de lucro e o pauperismo do proletariado, e a teoria da revolução social (meramente esboçada num célebre prefácio) são totalmente destituídos de qualquer fundamento, não só porque partem de premissas erradas como se baseiam em raciocínios também eles errados.

O essencial da obra do Marx, porém, é, desde logo, a sua componente idealista, não científica, baseada na profecia que aponta o comunismo como necessário sucessor do capitalismo. Nada na História ou na realidade empírica fundamenta uma tal proclamação profética, a não ser o desejo de que a realidade venha a ser assim, para acabar com a inumanidade total que a exploração constitui. Ora, a exploração de umas classes sociais por outras é uma constante das sociedades de classes, e tem uma História já bem antiga. Com base neste desejo, legítimo e humanitário, o Marx anunciou o fim da História, muito antes do que o Fukuyama o fizesse, embora na versão do fim da pré-História. Mas, se a História não é mais do que a narrativa e a interpretação das lutas das classes, sendo o comunismo uma sociedade sem classes, logo, sem lutas de classes, a instauração da sociedade comunista constituiria o fim da História e não o fim da pré-História.

Depois, a parte científica da obra, porque se baseia em premissas erradas e em erros lógicos, os resultados que são aceites como conhecimento válido são falsos. Não se trata aqui de resultados apenas aproximativos ou inexactos, mas de resultados completamente errados. Todos eles se baseiam numa inversão da realidade, confundindo os efeitos dos fenómenos com as suas causas. Devido à complexidade dos temas e à aparente fecundidade dos postulados, a obra do Marx não foi objecto de crítica exaustiva; os adversários limitaram-se a rejeitá-la, enquanto os adeptos a abraçaram. Deste modo, até hoje, o marxismo tem sido combatido essencialmente no campo político, quer ao nível da profecia idealista, quer ao nível dos resultados da sua aplicação prática. A crítica teórica das suas conclusões, porém, está ainda por fazer.

Que a crítica teórica do Marx não tenha merecido interesse é compreensível; por um lado, ela não legitima os discursos burgueses apologéticos do capitalismo, e, por outro lado, também não legitima os discursos apologéticos do comunismo. Daí que nem os ideólogos burgueses nem os ideólogos marxistas se tenham preocupado com ela. Mas a crítica teórica do Marx também não interessou outros espíritos, essencialmente, porque não proporciona a chave para a adivinhação do futuro, que parece ser a coisa mais desejada por muita gente, face à constante incerteza que o capitalismo introduziu na realidade social, e que em certa medida é fruto da deformação que a cultura religiosa, com as suas certezas absolutas, tem difundido na sociedade. A crítica teórica do Marx permite ir compreendendo melhor a realidade social, assim como possibilita desmistificar os discursos apologéticos, tanto do capitalismo como do comunismo, mas não fornece qualquer tipo de certeza sobre o futuro por acontecer; este é obra dos actores sociais, que o vão construindo no presente sem terem consciência de que simultaneamente o estão construindo também.

Para que a discussão pudesse ser minimamente frutuosa tomaria a liberdade de sugerir que se restringisse a três aspectos, que considero fundamentais para aquilatar da validade da obra do Marx: a teoria do valor e a explicação da exploração; a queda tendencial da taxa de lucro e a teoria da revolução social. A partir das respostas a estas questões estaremos em condições de compreender que o lado científico do marxismo conduziu a resultados errados e que a sua profecia idealista não passa de um axioma profético sem qualquer fundamento.

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Replies:
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Assim perde a graça.Em vez de dares corda a Voscência,pra ver onde isto ia,propões atalhar o curso.. (NT)vou ali volto já23/11/06 23:27:05
Então é assim...Guilherme Statter24/11/06 11:21:25


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