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Subject: 14. A indispensabilidade funcional de uma classe... - I


Author:
Guilherme Statter
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Date Posted: 23/11/06 12:59:15
In reply to: Guilherme Statter 's message, "Um "inventário" das ideias de Marx e Engels - Ou a peregrinação continua..." on 14/11/06 10:55:01


12. A indispensabilidade funcional de uma classe num qualquer sistema económico levará à sua supremacia política na sociedade como um todo.

Em escrito anterior tive ocasião de dizer que não sabia onde é que C.Wright Mills fora buscar (exactamente) a "tese Nº 11" mas que não deixava de ser verdade que ela se apresentava como consensual no seio do pensamento marxista.
Neste caso, o próprio C.Wright Mills afirma expressamente que "acredita" que esta tese estará subjacente à "teoria marxista do poder".
Cito:
"This unstated premise of Marx is the underlying assumption, I believe, of the Marxist theory of power. On this premise the capitalists have replaced the nobles… In a similar manner, reasoned Marx, the proletariat will replace the bourgeoisie… In the course of capitalist development, the bourgeoisie, like the feudal nobles before them, have become parasitical. They cannot help this. It is their destiny. And so they are doomed".
Numa tradução livre (e ao "correr da pena"...)
"Acredito que esta premissa não expressa de Marx é a presunção subjacente da teoria marxista do poder. Foi nesta premissa que os capitalistas substituíram os nobres... De maneira similar, raciocinou Marx, o proletariado há-de substituir a burguesia... No decurso do desenvolvimento capitalista a burguesia, tal como os nobres feudais antes dela, tornou-se parasítica. Nada podem fazer a esse respeito. É o seu destino. E portando está condenada".
Ora bem, se em escrito anterior comentei que "aqui é que ‘a porca torce o rabo’", aqui - nesta "tese Nº 14 - então é que haverá mesmo MUITO a comentar e reflectir. Até pelo facto de esta "tese" (assim deduzida a partir das obras de Marx...) ter sérias implicações no que diz respeito à praxis política e às perspectivas de "Revolução".
Se procurarmos na obra de Marx e de Engels (neste caso e em particular no que diz respeito aos seus comentários acerca da teoria da evolução das espécies de Darwin e sua relação com a evolução histórica da Humanidade) não será difícil encontrar suporte para esta ideia de C. Wright Mills.
Na literatura crítica relativamente à obra de Marx, e no que diz respeito à sua obra de ênfase sobre a economia política, ou melhor, naquilo que será pertinente para a disciplina convencional a que se veio a chamar de "Economics" é normal encontrar a chamada de atenção para toda uma série de supostas contradições e/ou incongruências lógicas que se encontrariam no raciocínio de Marx. Muito em particular no que diz respeito à malfadada "lei da tendência decrescente da taxa de lucro".
Nesses casos é perfeitamente possível (ainda que com recurso a algumas "minudências" que alguns críticos classificariam de quase metafísicas), é perfeitamente possível (dizia) "desmontar" a crítica de modo a demonstrar "por A + B" que afinal Marx, mesmo sendo verdade que aqui e ali produz afirmações ou parece partir de premissas que parecem ser contraditórias, no que diz respeito à análise do sistema económico (em sentido restrito) acaba por estar correcto e ser congruente no seu raciocínio.
Neste caso já não será bem assim e, pelo contrário, até parece ser fácil demonstrar que neste aspecto - do poder político e do incentivo à Revolução - Marx terá errado.
Isto, claro, se partirmos do princípio de que efectivamente (na ideia de Marx) estava presente uma "tese" com este sentido. A questão fundamental que então se coloca será a de determinar a composição e estrutura dessa nova classe cuja "indispensabilidade funcional" a levaria mais tarde ou mais cedo a assumir o poder político.

É indiscutível que em toda a obra de Marx, e para lá da análise de tipo científico, existe o apelo ou incitação à acção transformadora da sociedade e superação do modo de produção capitalista. Também é indiscutível que Marx atribui o protagonismo fundamental dessa transformação à nova classe emergente no seu tempo, o proletariado.
Mas também é indiscutível que em todas as suas obras sobre economia política Marx se refere repetidamente à alienação dos trabalhadores e à inelutável constituição de um "exército de reserva" de mão-de-obra tornada mais ou menos redundante (de forma temporária ou definitiva), por força da crescente composição orgânica do capital e do concomitante aumento progressivo da produtividade da força-de-trabalho.
Chamando de novo a atenção para o facto de se estar a discutir uma "tese" que se atribui a Marx, ou que se assume como sendo deduzida dos seus diversos escritos, temos que há aqui um primeiro sinal de contradição lógica. Por um lado a alegada ou pressuposta "indispensabilidade funcional" de uma determinada classe, por outro lado o aumento progressivo da sua "redundância".
Por outras palavras, ou é indispensável ou não é...
Em todo o caso, e de um ponto de vista de lógica do sistema, poder-se-ia eventual mente argumentar que, mesmo sendo (pelo menos em parte) potencialmente redundante, a fracção da classe operária que se torna efectivamente redundante continua a ser "funcionalmente indispensável" para o sistema, de modo a garantir a queda, estagnação ou redução dos aumentos salariais, através da concorrência nos diversos mercados de força-de-trabalho.
Parece-me evidente que não será por aí que essa nova classe possa aspirar a assumir o poder político, até pela falta de coesão e estrutura organizacional do agregado social que serão os desempregados.
Vejamos então o caracter de "indispensabilidade funcional" daqueles que efectivamente continuam a ser necessários e "indispensáveis" para a continuidade do sistema produtivo.

Embora seja de assinalar que os adeptos da abordagem individualista metodológica têm a esse respeito uma visão oposta à dos adeptos da abordagem holista, creio que haverá um consenso generalizado relativamente à afirmação de que o trabalho, a actividade laboral, a produção de bens e serviços é um processo eminentemente social.
Ou seja, um processo de múltiplas interacções entre os muitos participantes do processo laboral e que exigem pela sua própria natureza uma função laboral (trabalho) de tipo sistémico de direcção e coordenação de actividades. Mesmo em relação a actividades mais susceptíveis de métodos de "coordenação" próximos de um tipo que se poderia qualificar de "auto-gestão", mesmo aí acaba por emergir aquilo a que também já se chamou de "situational leadership".
Num exaustivo estudo das organizações, o sociólogo Henry Mintzberg desenvolveu uma taxonomia que me parece pertinente aqui referir pela sua relevância para uma discussão desta "tese".
Trata-se do já clássico "The Structuring of Organizations" (Prentice Hall, 1978) no qual Mintzberg faz uma análise exaustiva dos diversos tipos de organização que se podem encontrar por esse mundo fora. Nesse livro Mintzberg encontra ou identifica de maneira clara o caracter de "indispensabilidade funcional" de uma série de actores ou agentes sociais específicos: basicamente poderíamos referir esses "actores" ou "agentes" sociais como sendo os "quadros técnico-ciêntíficos e de gestão".
Adolphe Berle e Gardiner Means (em "The Modern Corporation and Private Property" - Transaction Publishers - 1991) discutiam já e de forma exaustiva o problema da separação progressiva da "posse" do capital e da sua "gestão", corrente, táctica e estratégica. Já nos fins dos anos Sessenta (do século XX), John Kenneth Galbraith retoma o tema no seu livro "The New Industrial State – Pelican Books, 1972".
A este respeito – e de passagem – lembro que Galbraith e o economista soviético Stanislav Menshikov publicaram em 1988 um livro sob título "Capitalism, Communism, and Coexistence: From the Bitter Past to a Better Prospect em que, entre outras coisas, eram discutidas as semelhanças de estrutura organizacional das grande empresas de ambos os sistemas... Assim como as respectivas implicações em termos de "teoria do poder político-económico".

Por agora fico-me por aqui...

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Replies:
Subject Author Date
Uma questão de método, ou restringir a discussão ao essencial em vez de discorrer sobre o acessório.Visitante23/11/06 22:26:14
    Assim perde a graça.Em vez de dares corda a Voscência,pra ver onde isto ia,propões atalhar o curso.. (NT)vou ali volto já23/11/06 23:27:05
    Então é assim...Guilherme Statter24/11/06 11:21:25


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