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Subject: A Baixa pombalina lisboeta e a dinâmica "Chindia" | |
Author: António Sérgio Rosa de Carvalho (Público, 15.09.2007) |
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Date Posted: 15/09/07 19:52:04 A Baixa pombalina lisboeta e a dinâmica "Chindia" A Baixa vive no presente uma crise profundíssima, que poderá levar a ser interpretada como "terra de ninguém" Afinal, qual é a importância da Baixa pombalina para o património mundial, ocidental e europeu? Qual é o seu significado para Portugal, visto precisamente neste vasto contexto da história urbanística e das ideias? A reacção do Marquês ao cataclismo transporta em si, através de uma estratégia sócio-política e de um método racional, uma vontade de aproveitar este desastre para conceber uma nova sociedade. A Baixa, apesar da sua unidade tipológica, da sua racionalidade de composição no espaço, da sua estandardização dos métodos de produção, não abdica, através da grande tradição barroca, de um urbanismo monumental e simbólico, bem patente na alternância dos seus espaços públicos, das suas igrejas e praças, culminando este jogo espacial na grande Place Royale, grande espaço institucional, a que se decidiu de forma ilustrativa do projecto político-social chamar de Praça do Comércio. A Baixa constitui, portanto, um décor de um projecto iluminista de reforma da sociedade, da criação de uma classe mercantilista e de uma dinâmica comparável às sociedades protestantes. A construção do décor cumpriu-se. O projecto sócio-político não. A Baixa constitui, portanto, um grande monumento urbanístico, técnico, sociológico, e portanto, na perspectiva ocidental, um monumento civilizacional. Ora, em toda a Europa, nos centros históricos desta importância, é aplicada uma estratégia de planeamento comercial, que determina as características e a qualidade do comércio a instalar por zonas. A Baixa vive no presente uma crise profundíssima, de uma decadência híbrida, que poderá levar a ser interpretada como "terra de ninguém" pelas dinâmicas expansionistas do comércio global. A pressão exercida nos pequenos espaços que vão vagando pela dinâmica "Chindia" é tremenda. Interpretar este desafio numa perspectiva étnica é um absurdo ilustrativo de como algumas manifestações do "politicamente correcto", inibem e toldam o discernimento e a evidência. Trata-se de determinar se as características de um certo tipo de comércio se enquadram na dimensão cultural e civilizacional de tão importante monumento. Daí a necessidade também de rigor nas actividades a desenvolver na Place Royale que constitui a Praça de Comércio, em virtude da sua carga simbólica e da gravitas que o seu peso institucional e dimensional implicam. Citando aquilo que já afirmei num artigo anteriormente publicado no PÚBLICO: "A Baixa não é um "bairrozito". Apesar de decadente, é uma city europeia e foi assim que ela foi concebida." Afinal, os representantes destas duas grandes e antiquíssimas civilizações estão no seu papel nesta nova dinâmica de expansão económica no contexto globalizante. Cabe-nos a nós desempenhar o nosso. Historiador de Arquitectura [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |