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Subject: A última causa da esquerda


Author:
J.L. Saldanha Sanches
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Date Posted: 18/02/07 18:35:31

Com as décadas habituais de atraso, Portugal passou a ter um regime mais ou menos europeu de interrupção voluntária da gravidez. Uma mudança que, ainda que contasse com o apoio de algumas cabeças menos teológicas da direita, foi, pelo que contém de desejo de inovação, de oposição ao conservadorismo como princípio e por estar preocupado com os interesses da maioria - em especial dos mais desfavorecidos - uma genuína causa da esquerda.

Só é pena que não haja mais.

Não há mais porque a ideia de um projecto de mudança sempre foi a marca distintiva da esquerda e o que marca hoje a esquerda portuguesa é o mais exacerbado dos conservadorismos: aquilo que resta da esquerda - do Bloco de hoje ao PCP - está inteiramente hipotecado aos sindicatos do sector público e o seu único projecto é conseguir manter ou aumentar as transferências do sector privado para o sector público. O défice do orçamento é um falso problema e o IVA podia estar a 25%.

As greves a que assistimos hoje são dos transportes públicos (atingindo aquela parte da população que os utiliza) para conseguir a subsidiação pública que garante que os salários e as condições gerais de trabalho se mantenham bem acima de trabalho igual no sector privado.

As manifestações são dos sindicatos de professores empenhados em que tudo continue como está e garanta a manutenção de um dos piores sistemas de ensino da Europa. Poderíamos continuar, mas não vale a pena. A esquerda apoia mesmo os militares quando estes exigem que uma parte maior do PNB seja atribuída a despesas com a defesa.

O facto de ser hoje no sector privado que se verificam os mais baixos salários e as piores condições de trabalho não pesa nos seus projectos porque nesses sectores não há sindicatos.

Por isso, a questão central de um projecto unificador que correspondesse aos interesses legítimos do maior número desapareceu quando a actividade e o projecto da esquerda começa a querer dizer apenas reivindicações dos sindicatos do sector público ou - o que é ainda pior - apoio a estruturas tão sinceramente dedicadas ao bem público (de uma forma muito peculiar) como a Associação Nacional dos Municípios.

O Bloco de Esquerda ou o PCP nada têm a dizer sobre as causas estruturais que levaram ao apodrecimento generalizado do poder local. Votaram mesmo contra a nova Lei das Finanças Locais com as suas tímidas tentativas de responsabilizar politicamente os autarcas pelas despesas que fazem. Continuam a defender o processo dos fundos de redistribuição Orçamento do Estado/Município que separa a decisão de gastar da decisão de cobrar e que legitima o desperdício e a corrupção.

Tudo isto torna a vitória do ‘sim’ no referendo do aborto um período de viragem na sociedade portuguesa. A direita rural e conservadora deixou de reinar na zona dos costumes (que ainda dominava), mas ao mesmo tempo a esquerda mostra-se cada vez mais sem projecto e sem programa: como se a teimosia factual do imperativo financeiro de equilíbrio das contas públicas matasse à nascença qualquer outro projecto de mudança.

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