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Subject: Energia nuclear: o efeito Jane Fonda


Author:
Stephen Dubner (Público, 9 de Novembro 2007)
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Date Posted: 9/11/07 14:01:41

Se lhe pedissem para dizer o nome dos maiores causadores de aquecimento global dos últimos 30 anos, provavelmente o nome de Jane Fonda não lhe ocorreria. Mas será que não devia ocorrer?

No filme «O Síndroma da China», Jane interpretou o papel de uma repórter da Califórnia que fazia uma série televisiva ligeira sobre o futuro da energia desse Estado. Numa visita a uma central nuclear, vê os engenheiros entrarem subitamente em pânico devido ao que foi mais tarde descrito como "uma rápida contenção de um incidente potencialmente ruinoso". Quando o proprietário da central nuclear tenta encobrir o acidente, a personagem que Jane Fonda interpreta convence um dos engenheiros a denunciar e relatar um possível acidente nuclear que poderia "tornar permanentemente inabitável uma área do tamanho da Pensilvânia".
«O Síndroma da China» estreou no dia 16 de Março de 1979. Com o movimento anti-nuclear no seu auge, o filme foi atacado pela indústria nuclear, que lhe chamou um acto esquerdista de irresponsável de manipulação pelo medo. Doze dias mais tarde ocorreu um acidente na central nuclear de Three Mile Island (TMI), na região centro-sul da Pensilvânia.
Michael Douglas, um dos produtores e também uma das estrelas do filme - no papel do operador de câmara de Jane Fonda - assistiu nas notícias às imagens reais do acidente na TMI, que eram intercaladas com cenas inquietantemente parecidas de "O Síndroma da China". Jane já era uma anti-nuclear convicta antes de fazer o filme, mas Douglas não era assim tão dogmático. Naquele momento, converteu-se instantaneamente. "Foi um despertar para o religioso", recordou, numa entrevista telefónica recente. "Senti que era a mão de Deus".
Entretanto, Jane tornou-se uma diligente activista do movimento. Numa entrevista retrospectiva, incluída na edição para DVD de «O Síndroma da China», realça com satisfação que o filme ajudou a convencer pelo menos mais dois homens - o pai do então marido, Tom Hayden e o futuro marido, Ted Turner - a tornarem-se anti-nucleares. "Fiquei felicíssima com o facto de o filme ter um tão grande sucesso comercial", disse. "Se antes já tínhamos pernas para andar, depois do que se passou na TMI tornámo-nos uma verdadeira centopeia".
O acidente na TMI foi, segundo o relatório de uma Comissão Presidencial de 1979, "originado por avarias mecânicas na central e agravado por uma combinação de erros humanas". Embora tenha sido libertada alguma radiação, não houve fusão até ao outro lado da terra - não havendo portanto, "síndroma da China" - e o acidente na TMI não causou mortos, nem feridos ou danos significativos, a não ser na própria central.
O que causou, alimentado por «O Síndroma da China», foi um pânico generalizado. A indústria nuclear, já em apuros devido a pressões económicas, regulamentares e públicas, cancelou todo e qualquer plano de expansão. E assim, em vez de os Estados Unidos se tornarem uma nação que utiliza energia nuclear, que é barata e limpa, como em tempos se afigurava inevitável, continuaram a construir centrais eléctricas que queimam carvão e outros combustíveis fósseis. Actualmente, estas centrais são responsáveis por 40 por cento das emissões de dióxido de carbono provenientes da produção de energia do país. Qualquer pessoa que ande à caça dos vilões do aquecimento global não pode deixar de atribuir culpas a essas centrais - mas também não pode deixar de cogitar sobre as consequências das inadvertidas acções de Jane Fonda.
Mas a grande notícia é que a energia nuclear pode vir a regressar em força aos Estados Unidos. Existem planos em curso para mais de duas dúzias de reactores e milhares de milhões de dólares em potenciais garantias de empréstimo federal. Será que desapareceu o medo dos acidentes nucleares, ou foi apenas substituído pelo medo do aquecimento global?
A resposta pode estar numa tese de doutoramento elaborada em 1916 pelo lendário economista Frank Knight. Ele distinguiu entre dois dos factores-chave no processo de decisão: o risco e a incerteza. A principal diferença, declara Knight, é que o risco, - por maior que seja-, ao invés da incerteza, pode ser quantificado.
Como é que se compara o risco com a incerteza? Consideremos uma famosa experiência que ilustra o que é conhecido por Paradoxo de Ellsberg. Há duas urnas. Sabemos que uma das urnas contém 50 bolas vermelhas e 50 bolas pretas. A segunda contém também 100 bolas, pretas e vermelhas, mas é desconhecido o número de bolas de cada uma das cores. Se a tarefa for escolher uma bola vermelha, qual das urnas escolherá?
A maior parte das pessoas escolhe a primeira urna, o que indica que preferem um risco quantificável a uma incerteza que o não é. (Esta conjuntura é conhecida entre os economistas por aversão à ambiguidade). Será que a energia nuclear, mesmo com os seus riscos, se está a tornar preferível às incertezas do aquecimento global?
A França, que gera quase 80 por cento da sua electricidade a partir de energia nuclear, parece pensar que sim. Assim como a Bélgica (56 por cento), a Suécia (47 por cento) e mais de uma dúzia de países que produzem pelo menos um quarto da sua electricidade a partir de energia nuclear. E quem é o maior produtor mundial de energia nuclear?
Por mais improvável que pareça é... os Estados Unidos. Embora o desenvolvimento de novas centrais nucleares tenha quase parado no início dos anos 1980, os 104 reactores actualmente existentes no país produzem 20 por cento da electricidade consumida pela nação. Esta quota tem vindo a crescer ao longo dos anos, assim como o consumo, visto que a energia nuclear tem vindo a tornar-se mais eficiente. Embora os custos de manutenção de uma central nuclear sejam mais elevados do que os de uma central a carvão ou gás natural, a produção da energia é mais barata: a Exelon, a maior empresa de energia nuclear dos Estados Unidos, afirma produzir electricidade a 1,3 cêntimos por Kilowatt/hora, comparados com os 2,2 cêntimos no caso do carvão.
O entusiasmo pela energia nuclear pode estar em ascensão, mas há sempre a hipótese de se eclipsar ao pronunciar uma simples palavra: Chernobyl. O desastre na Ucrânia em 1986 matou directamente pelo menos algumas dezenas de pessoas e expôs milhões de outras às radiações. Um estudo recente levado a cabo pelos economistas Douglas Almond, Lena Edlund e Marten Palme mostra que, mesmo em países tão afastados como a Suécia, em áreas que receberam os ventos que traziam os resquícios de Chernobyl, os bebés que estavam em gestação nessa altura vieram a ter resultados na escola significativamente piores do que os das outras crianças suecas. Mas o carvão também tem os seus custos. Para além da ameaça do aquecimento global. Nos Estados Unidos, a média de mineiros que morrem anualmente nas minas de carvão é de 33. Na China, só no ano passado, morreram mais de 4700 mineiros de carvão,- um número que o governo chinês anunciou como uma grande melhoria.
O acidente de Three Mile Island destruiu um dos dois reactores da central. O outro reactor, controlado pela Exelon, continua tranquilamente a produzir electricidade para 800.000 clientes. No exterior do centro de formação da central está uma pequena horta cercada por uma corrente, com milho, tomate e beterraba. O produto desta horta é monitorizado para detectar radiações. Numa visita recente verificou-se que, embora a horta necessitasse de ser regada urgentemente, os legumes estavam em perfeitas condições.
Lá dentro, Christopher Crane, o chefe de operações da Exelon Generation, elucubrou sobre as barreiras que têm de ser ultrapassadas pela indústria nuclear antes de se poder construir mais centrais. Entre elas conta-se a já antiga questão de como eliminar os resíduos e de saber se a opinião pública já ultrapassou o medo de reactores nucleares. Crane estava sentado numa sala de conferências situada no complexo da TMI. A vista era sombria: edifícios enormes e sem janelas; cercas cobertas por arame farpado; cabinas à prova de bala para atiradores. A segurança foi muito reforçada desde o 11 de Setembro. Se não soubéssemos, dir-se-ia que estávamos numa prisão de alta segurança.
Esta semelhança sugere uma resposta às questões de Crane sobre a aceitação de novas centrais nucleares pela população. Houve tempos em que as pessoas não queriam que se construísse prisões paredes-meias com os seus quintais - até chegarem à conclusão que o risco era relativamente baixo e que as vantagens em termos de emprego e impostos eram consideráveis. Será que as centrais nucleares terão alguma vez a mesma aceitação? O mercado parece achar que sim - as acções da Exelon triplicaram de valor nos últimos cinco anos - mas tudo pode depender do tipo de filmes que Hollywood tem guardados para nós.

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