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Date Posted: 12:32:16 01/07/04 Wed
Author: Lucia
Subject: O Rally da Sociedade da Informação: 2003, começo de 2005.

Quando o mundo inteiro se reúne para tomar decisões que vão mudá-lo, de vez, os mais otimistas (eu inclusive) tendem a pensar que, desta vez, vamos. Seja lá qual for a vez, especialmente naquelas em que nós temos a certeza de que o “nosso” lado não só tem razão, mas é do bem. Sendo um pouco mais realista - pelo menos vez por outra - e observando a história das decisões destinadas a ter impacto mundial, as coisas não acontecem porque queremos, ou porque estamos “certos”. No caso da sociedade da informação, os pobres estão mais do que certos no conjunto de interesses que defendem, no cenário internacional, mas eles são mais e estão bem organizados, o que deveria ser suficiente para garantir que suas demandas estivessem muito bem representadas em qualquer decisão mundial que tratasse do avanço da digitalização mundial, da inserção dos mais necessitados, do progresso dos povos, no mais amplo sentido da expressão.

Não foi bem isso o que ocorreu na Cúpula Mundial da Sociedade de Informação (ver artigo anterior desta coluna, sobre o tema). As razões são muitas, desde o número de participantes até a descrença de parte deles mesmos sobre os resultados da cúpula, passando pelas discordâncias, no detalhe, entre grupos que pareciam concordar em tudo, em teoria. O diabo, sabe-se, está nos tais detalhes, que às vezes nos impedem de tomar decisões absolutamente lógicas. Uma delas: o fosso, ou a brecha, ou a separação digital não é nada perto da divisão educacional, resultado dos mais ricos estudando em escolas (e participando de redes de oportunidades, reais) cada vez melhores que os mais pobres. Solução óbvia: mandar os abastados para as escolas públicas e os que realmente precisam de mais oportunidades para as melhores instituições, usando os recursos dos primeiros para pagar a educação dos últimos. Simples, não? Mas tente implementar, para ver no que dá...

Em Genebra, tanto quanto em outras cúpulas mundiais sobre qualquer tema, como em Kyoto e Doha, o mundo se divide entre os que têm - e que não querem perder nada do que já adquiriram - e os que precisam de coisas às vezes muito básicas, que talvez só venham a ter se os primeiros passarem a achar que a sustentabilidade do planeta, e de seus povos, precisa realmente de mais equilíbrio, antes das nossas relações - de dependência mútua - nos levarem a um Koyaanisquatsi global. Parte do desequilíbrio é claramente causada pelo desequilíbrio cognitivo entre os participantes: segundo alguns críticos mais ácidos, CMSI-Genebra é a reunião onde a ONU estaria “descobrindo a Sociedade da Informação” e, pela via da International Telecommunications Union, tentando se encarregar da regulamentação de sua infra-estrutura. Nada disso. A ONU não entende suficientemente de mundo digital para ter um plano tão complexo: no máximo, poderíamos dizer que a Organização descobriu, de uma ver por todas, que o mundo vai se digitalizar e que seus objetivos outros, de desenvolvimento humano e de equilíbrio entre as nações, só serão alcançados se obtermos resultados muito significativos no lado digital, virtual, da vida.

Genebra pegou muita gente de surpresa, sem capacidade de responder ao desafio imenso de articular propostas e respostas para problemas que, na maior parte do mundo, não foram sequer equacionados. Mas, como processo, foi um começo muito bom, e é assim que tem que ser tratada, até para a gente terminar o ano comemorando um sucesso. Paulo Lima, diretor executivo da RITS - Rede de Informações para o Terceiro Setor, que está metido no processo de Genebra desde as conferências preparatórias (PrepCons) para o grande evento, estava lá e diz que “...um olhar otimista avalia a CMSI-Genebra como um ponto de partida, não de chegada. Se comparamos o processo e a relativa novidade do tema para acordos multi-laterais com a Cúpula sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92), podemos crer que o ainda há como se obter resultados interessantes, em alguns anos, originados nesta reunião. As discussões sobre meio ambiente e desenvolvimento, no seio das Nações Unidas, começaram em Estocolmo em meados da década de 70. Naquela época poucos países tinham ministérios específicos; hoje o tema está no cotidiano das pessoas, nos jornais se fala sobre camada de ozônio, CFC, preservação, desenvolvimento sustentável, etc. O mesmo pode vir a se passar com as tecnologias da informação e comunicação para o desenvolvimento, o enfoque que queríamos ver na CMSI. A diplomacia teve que aprender muito rápido a complexidade das discussões e tentar consensos sobre aspectos que envolvem vultosos investimentos e interesses, econômicos e políticos... As atividades até 2005 podem realmente gerar resultados interessantes para o mundo em desenvolvimento, mas só com constante monitoramento e pressão é que se conseguirá reverter o quadro de baixo perfil e quase nenhum compromisso assumido pela CMSI em 2005”.

Ou seja: no rally virtual Genebra-Túnis, onde ocorrerá a chegada, em 2005, nossas equipes vão ter que pilotar de dia, todos os dias, e revisar os veículos, na forma de acordos, compromissos, ações nacionais, bilaterais e multilaterias, todas as noites, sem o que poderemos ter uma linha de chegada, em Túnis, tão vazia quanto foi Genebra este ano, quando o fundo de solidariedade digital não decolou, a declaração sobre software livre não passou... segundo Paulo Lima “... a declaração de princípios e o plano de ação aprovados em Genebra não representam nenhum compromisso maior para agir sobre a brecha digital ou a inclusão digital compreendida como um componente da inclusão social. As organizações da sociedade criaram um contraponto aos documentos oficiais através de uma declaração alternativa... que apóia uma maior inter-relação de experiências no campo da inclusão digital entre as cidades dos países desenvolvidos e as dos países em desenvolvimento... e destaca a opção pelas soluções baseadas em software livre”. A apresentação de tal declaração alternativa serviu, segundo Paulo Lima, “...de maneira surpreendente, para lançamento das bases financeiras do Fundo de Solidariedade Digital: Genebra, Lyon e o Senegal fizeram doações iniciais que já contabilizam cerca de um milhão de Euros. O Fundo, que será gerido a partir de Genebra, não tem ainda divulgadas as normas de sua operação... mas o gesto de sua criação efetiva... compreendido como um ato político contra as negociações que retiraram o tema dos documentos oficiais recebeu forte ovação da Plenária de Genebra”.

Dada a partida, o que fazer, agora? Túnis parece estar muito longe, pois fica a dois anos de distância. Mas, a cada dia que passa sem que se aprofunde o trabalho (ou a falta dele) de Genebra, mais difícil será a construção de um acordo concreto, destes onde o fluxo de recursos ocorra nas direções em que tem que ocorrer... Ainda segundo Paulo Lima, quando se compara o que aconteceu até agora com o que tem que acontecer daqui pra frente... “Alguns temas mais controversos fizeram o processo preparatório para a CMSI se estender até a véspera da Cúpula (a terceira PrepCom, por exemplo teve três etapas, em função da dificuldade de se chegar a um consenso). Entre eles, questões como a governança da Internet, o software livre e os direitos de propriedade intelectual, os direitos humanos como a base fundamental da sociedade da informação e o próprio fundo de solidariedade digital foram motivo de muita divergência, a solução encontrada pelas delegações foi generalizar os textos sobre estes temas a tal ponto que não gerassem nenhum comprometimento. O que sai de concreto é a formação de grupos de trabalho (um deles sobre governança da Internet e o outro sobre o fundo de solidariedade digital) que estarão diretamente ligados a Kofi Annan, secretário-geral das Nações Unidas, e devem elaborar propostas até 2005...”

Aqui fora dos grupos e também para aqueles de nós que estão dentro, as regras para se ganhar um rally estão baseadas em algumas poucas expressões de significado preciso: conhecer muito bem o regulamento e a rota (muito antes, até para tentar mudá-los), ter objetivos e metas bem definidos e uma estratégia, para alcançá-los, que inclua velocidade, regularidade, precisão e economia de esforço, tempo, combustível, tudo. Em suma, é preciso ter equilíbrio. Tudo o que não há em Koyaanisquatsi...



* Silvio Meira é presidente do Conselho da RITS, diretor-presidente do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar) e professor-titular de Engenharia de Software do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).


Fonte:http://www.cidadania.org.br/conteudo.asp?conteudo_id=2834

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