Author:
Marques de Correia
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Date Posted: 16:30:09 06/02/02 Sun
Lisboa, 30/5/2002
Minha Cara Manuela
Escrevo-te por seres tu a alma moderada deste Governo de revolucionários. Como sabes, eu detesto revoluções e «precs», sejam eles de que cor forem. Ora, o Governo a que tu pertences anda com uma pose perfeitamente revolucionária. Deixa-me, num parêntesis, afirmar a minha alegria por tu pertenceres a esse Governo. Não foras tu, o David Justino, o Luís Filipe Pereira, o Pedro Roseta e poucos mais e a coisa podia ainda ser mais grave. Imagina um Executivo cheio de Isaltinos Morais e Morais Sarmentos... Safa! (diria eu parafraseando o nosso velho professor Cavaco Silva).
Provavelmente acharás que estou a exagerar. Mas olha que não!
Como podemos caracterizar uma actuação revolucionária? Penso que concordarás comigo nesta definição: a acção revolucionária define-se como uma ânsia de mudar tudo, sem saber para onde vamos e, muitas vezes, sem saber porquê. Quanto à fraseologia, costuma assentar em princípios gerais que as mais das vezes não têm sequer aplicação prática.
Olha agora em volta e vê o Governo, esses miúdos todos . O que têm feito e o que têm andado a dizer? Não é verdade que, em grande parte, corresponde, mais ou menos, à definição que acima fizemos. Nem sequer vou dizer que as medidas governamentais são erradas - a gente não sabe para onde vai (veja-se o caso da RTP; fica ou não sem publicidade?)! Também não vou dizer que são necessárias - a gente nem sabe por que razão são tomadas (veja-se o caso da co-incineração)! Tudo o que sabemos é que o país estava de rastos (embora nem todos tenhamos dado por isso) e que é preciso mudar tudo (enfim, uma coisa que o Lenine já tinha dito e acho que o Mao Zedong também). Vai daí, as frases são bombásticas e os ministros nem podem andar de 1ª Classe nos aviões, o que me parece exageradamente proletário e me volta a fazer lembrar o Che Guevara ou assim.
Há quem diga que a culpa é do José Manuel; que ele saiu do MRPP mas que o MRPP ainda não saiu dele... e dos miúdos que o acompanham - o Sarmento, o Arnaut, etc. Não sei, não tenho a certeza. Mas a verdade é que o estilo «enquanto houver filas de espera nos hospitais, não há aeroporto na Ota» (postulado barrosista) faz lembrar aquele do «enquanto houver um português sem pão, a revolução continua», que tanto pode ter sido dito pelo Salazar como pelo Vasco Gonçalves.
Enfim, Manuela, quero alertar-te para o facto de não haver boas e más revoluções. As revoluções são todas más! Libertam energias destrutivas e levam-nos a becos sem saída. A continuar assim, temo ver o Governo (cheio de rapaziada inexperiente) a desencadear uma revolução cultural para mudar as mentalidades, ou algo pior. Chamo-te a atenção para o facto de o dever do Governo ser governar esta gente - chata, rezingona, atrasada, burocratizada, reivindicativa e conflituosa - que são os portugueses. Não nos tentem mudar nem nos tentem melhorar a vida (esse foi o erro do Guterres), tentem apenas não atrapalhá-la. Tu, minha cara, que tens o bom senso e humor indispensáveis, toma conta do assunto. E, se for preciso, dá uns tabefes nesses miúdos.
Aceita os cumprimentos do
Marques de Correia
(comendador@mail.expresso.pt)
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