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Subject: ESTAMOS TODOS A MAIS


Author:
MIGUEL PORTAS (DN de 30 de Maio 2002)
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Date Posted: 01:55:25 06/03/02 Mon

CRÓNICA DE MIGUEL PORTAS NO DN DE 30 de Maio 2002


<Imagem><Imagem>Estamos todos a mais

Vê-se o Telejornal e fica uma sensação de desconforto. O Governo fala-nos de combater os interesses instalados. Aparece esse ilustre representante dos oprimidos, Proença de Carvalho, a repetir isto mesmo. Dizem, diz Marcelo Rebelo de Sousa na sua homilia semanal, que o Governo não está a saber explicar as suas medidas. Aquelas que são contra os interesses instalados.

Mas vemos o Telejornal e continuamos com uma sensação desconfortável. Os alunos e pais da escola dos Anjos, numa das zonas mais pobres do centro de Lisboa, a manifestarem-se contra o encerramento da escola. "Este é um colégio de pobres", diz um professor. E dá para ver que sim.

Vemos os alunos do ensino recorrente da escola Gil Vicente. Filhos dos que recebem ou recebiam o Rendimento Mínimo Garantido, a queixarem-se que o Governo lhes diz que chumba demasiada gente para que o projecto se mantenha. É uma das poucas escolas de ensino de língua portuguesa para estrangeiros. Vemos os alunos e nem precisamos de mais para saber que é óbvio por que chumbam.

Outra manifestação é em Sacavém. Mais uma escola em que se vai acabar com o ensino recorrente. "São quase todos pretos, brancos, pretos de tão pobres", diz uma canção de Caetano Veloso. Por isso, fecha-se. O argumento é o da racionalidade económica. Mas isso não impede o Estado de financiar escolas privadas para terem ensino nocturno.

Vemos numa escadaria enfermeiros na casa dos 20, aqueles que trabalham até à exaustão, aqueles que mantêm os serviços por este País fora, aqueles que ganham menos fazendo mais e são a coluna vertebral da qualquer modernização dos serviços públicos. Manifestam-se contra esta medida cega de "dispensar".

Se forem "dispensados" o resultado é fácil de prever: uma administração pública menos qualificada, mais envelhecida e menos motivada.

Vemos os alunos de arqueologia a manifestarem-se contra o encerramento do Instituto Português de Arqueologia, aqueles que começam a dar visibilidade a um filão cultural neste País, que são elogiados pela Europa fora. Aqueles que mantêm um dos poucos institutos leves e desburocratizados a funcionar. Um instituto, também ele, com muito poucos funcionários no quadro, quase todos contratados.

Vemos entrevistas com muitos que sonhavam com uma casa barata, nos arredores de Lisboa, longe de quase tudo, e para isso contavam com um crédito bonificado. Dizem que agora é para esquecer. Ficarão em casa dos pais, até aos 35 anos se preciso for, o casal mais os filhos.

Vemos imagens de bairros degradados onde habitam grande parte daqueles que recebiam o Rendimento Mínimo Garantido. Esses não se manifestam. Esses ainda estão longe da cidadania, do protesto, da democracia. Ali, nunca chegou. O Governo explica que quem não trabalha com menos de 25 anos é porque é parasita.

Andam todos a roubar. É isto que nos diz o Governo. Que estão a mais. Todos jovens, todos sem terem quem os represente, todos contando pouco nos votos, nos sindicatos, nas associações. Mas estão todos a mais. Mas são todos eles interesses instalados que este Governo tem a coragem de combater. É isto que o Governo quer dizer aos pobres. Que os pobres só são pobres porque outros, ainda mais pobres, estão a roubá-los.

Nada interessa. Que a maioria dos que mais têm não pague impostos. Que os bancos tenham direito a discriminação positiva. Que haja dinheiro de sobra para os donos da bola, para os militares e para Alberto João Jardim. Nada disso conta. Trata-se de gente séria e que trabalha, acham eles.

Só que os pobres e os remediados também se vestem e vão às compras. Também pagam IVA. Os seus filhos também compram casa. Também estão contratados a prazo, há anos, na Administração Pública. Este Governo, politicamente arrogante e socialmente obtuso como não vimos desde o 25 de Abril, arrisca-se a pagar caro o desvario. Já há cada vez mais portugueses a sentirem-se a mais com este Governo.

Este Governo não tem pudor. Que o Estado gasta mal, todos sabemos. Que Portugal está minado pela corrupção, é um facto indesmentível. Mas para este Governo, os ladrões, os despesistas, os interesses instalados, os corruptos, são gente pobre, os mais pobres que os pobres. A ganga de Portugal. E tem a suprema lata de nos falar em coragem. Que se metam com gente do seu tamanho. Isso sim, é que era coragem.

Nota: Queria também falar da deliciosa campanha de Bush em favor da castidade. A direita é assim. Gosta do Estado fora da sociedade, mas dentro das nossas camas. Fica talvez para a semana, se o Governo não continuar nesta liquidação geral. Se o País não continuar, como está, em depressão colectiva. Se Durão der uma folga, talvez fale do homem que desconhecia os negros do Brasil.

mportas@netcabo.pt<Imagem><Imagem>Estamos todos a mais

Vê-se o Telejornal e fica uma sensação de desconforto. O Governo fala-nos de combater os interesses instalados. Aparece esse ilustre representante dos oprimidos, Proença de Carvalho, a repetir isto mesmo. Dizem, diz Marcelo Rebelo de Sousa na sua homilia semanal, que o Governo não está a saber explicar as suas medidas. Aquelas que são contra os interesses instalados.

Mas vemos o Telejornal e continuamos com uma sensação desconfortável. Os alunos e pais da escola dos Anjos, numa das zonas mais pobres do centro de Lisboa, a manifestarem-se contra o encerramento da escola. "Este é um colégio de pobres", diz um professor. E dá para ver que sim.

Vemos os alunos do ensino recorrente da escola Gil Vicente. Filhos dos que recebem ou recebiam o Rendimento Mínimo Garantido, a queixarem-se que o Governo lhes diz que chumba demasiada gente para que o projecto se mantenha. É uma das poucas escolas de ensino de língua portuguesa para estrangeiros. Vemos os alunos e nem precisamos de mais para saber que é óbvio por que chumbam.

Outra manifestação é em Sacavém. Mais uma escola em que se vai acabar com o ensino recorrente. "São quase todos pretos, brancos, pretos de tão pobres", diz uma canção de Caetano Veloso. Por isso, fecha-se. O argumento é o da racionalidade económica. Mas isso não impede o Estado de financiar escolas privadas para terem ensino nocturno.

Vemos numa escadaria enfermeiros na casa dos 20, aqueles que trabalham até à exaustão, aqueles que mantêm os serviços por este País fora, aqueles que ganham menos fazendo mais e são a coluna vertebral da qualquer modernização dos serviços públicos. Manifestam-se contra esta medida cega de "dispensar".

Se forem "dispensados" o resultado é fácil de prever: uma administração pública menos qualificada, mais envelhecida e menos motivada.

Vemos os alunos de arqueologia a manifestarem-se contra o encerramento do Instituto Português de Arqueologia, aqueles que começam a dar visibilidade a um filão cultural neste País, que são elogiados pela Europa fora. Aqueles que mantêm um dos poucos institutos leves e desburocratizados a funcionar. Um instituto, também ele, com muito poucos funcionários no quadro, quase todos contratados.

Vemos entrevistas com muitos que sonhavam com uma casa barata, nos arredores de Lisboa, longe de quase tudo, e para isso contavam com um crédito bonificado. Dizem que agora é para esquecer. Ficarão em casa dos pais, até aos 35 anos se preciso for, o casal mais os filhos.

Vemos imagens de bairros degradados onde habitam grande parte daqueles que recebiam o Rendimento Mínimo Garantido. Esses não se manifestam. Esses ainda estão longe da cidadania, do protesto, da democracia. Ali, nunca chegou. O Governo explica que quem não trabalha com menos de 25 anos é porque é parasita.

Andam todos a roubar. É isto que nos diz o Governo. Que estão a mais. Todos jovens, todos sem terem quem os represente, todos contando pouco nos votos, nos sindicatos, nas associações. Mas estão todos a mais. Mas são todos eles interesses instalados que este Governo tem a coragem de combater. É isto que o Governo quer dizer aos pobres. Que os pobres só são pobres porque outros, ainda mais pobres, estão a roubá-los.

Nada interessa. Que a maioria dos que mais têm não pague impostos. Que os bancos tenham direito a discriminação positiva. Que haja dinheiro de sobra para os donos da bola, para os militares e para Alberto João Jardim. Nada disso conta. Trata-se de gente séria e que trabalha, acham eles.

Só que os pobres e os remediados também se vestem e vão às compras. Também pagam IVA. Os seus filhos também compram casa. Também estão contratados a prazo, há anos, na Administração Pública. Este Governo, politicamente arrogante e socialmente obtuso como não vimos desde o 25 de Abril, arrisca-se a pagar caro o desvario. Já há cada vez mais portugueses a sentirem-se a mais com este Governo.

Este Governo não tem pudor. Que o Estado gasta mal, todos sabemos. Que Portugal está minado pela corrupção, é um facto indesmentível. Mas para este Governo, os ladrões, os despesistas, os interesses instalados, os corruptos, são gente pobre, os mais pobres que os pobres. A ganga de Portugal. E tem a suprema lata de nos falar em coragem. Que se metam com gente do seu tamanho. Isso sim, é que era coragem.

Nota: Queria também falar da deliciosa campanha de Bush em favor da castidade. A direita é assim. Gosta do Estado fora da sociedade, mas dentro das nossas camas. Fica talvez para a semana, se o Governo não continuar nesta liquidação geral. Se o País não continuar, como está, em depressão colectiva. Se Durão der uma folga, talvez fale do homem que desconhecia os negros do Brasil.

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