Author:
André Greve Pereira
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Date Posted: 20:31:31 12/20/04 Mon
O Linux como Alternativa ao Capitalismo
Para um programa de computador ser considerado software livre (como o Linux), ao invés de um software proprietário (com o Windows), este programa deve:
1- Ter seu código fonte aberto, isso significa que qualquer pessoa com os devidos conhecimentos pode modificar seu conteúdo.
2- Ser licenciado por uma licença do tipo copyleft, que permite que pessoas usem, reproduzam, distribuam e modifiquem o programa. Para tanto os programas derivados também tem que garantir ao usuário as mesmas liberdades da obra original.
Alguns dos software livres mais utilizados são o sistema operacional Linux, a suíte de escritório Openoffice, e o servidor de internet Apache, este ultimo é servidor de internet mais utilizado do mundo.
A expansão da Internet e dos conhecimentos em informática colocam como tendência já estabelecida o crescimento dos software livres perante aos proprietários. Redes e grupos de usuários em todo o mundo trabalham no intuito de construir programas livres.
O modo de produção dos software proprietários é bem conhecido, uma empresa de programas de computador contrata uma pessoa, quer vende sua força de trabalho a empresa e produz conhecimentos que são apropriados pelo capitalista. Como a empresa controla seu material de trabalho (o código fonte dos programas) o trabalhador não tem outra opção a não ser vender seu trabalho a empresa.
Já o modo de produção dos software livres é realizado sem controle capitalista dos meios de produção (o computador) ou dos materiais (código fonte dos programas) de trabalho. Portanto o modo de produção dos software livres não pode ser definido como capitalista.
O modo de produção estatal não é exatamente capitalista na medida em que as os meios e os materiais de trabalho são de propriedade do estado, que poderia ser um estado burguês ou um estado proletário como a URSS. Contudo o modo de produção dos software livres difere também do modo estatal de produção. Os trabalhadores estatais estão submetidos a mesma ética protestante (o espírito do capitalismo) de louvor (e obrigação) ao trabalho. Um trabalho alienado com uma finalidade alheia ao trabalhador, no qual seu trabalho vivo fica subordinado ao trabalho morto já existente.
Os software livres rompem com essa ética protestante, rompem com a alienação do trabalho e aparecem definitivamente como um modo de produção verdadeiramente alternativo ao capitalista.
Chega a ser difícil de acreditar, como um novo modo de produção pode surgir no seio do capitalismo maduro sem ter sido organizado por nenhuma complexa engenharia social ou mesmo não ter sido previsto por nenhum grupo ou corrente de pensamento (salvo alguns anarquistas específicos).
Mas vamos analisar o resultado deste novo modo de produção (os software livres em si), será que eles se encaixam na categoria de mercadoria? A resposta é não, os software livres não podem ser considerados mercadorias pois tem sim um valor de uso mas não tem valor de troca.
Este modo de produção diferente desperta também valores culturais diferentes na comunidade, com uma espécie de ética hacker, uma hierarquia meritocrática, assim como o copyleft deve ser entendido como a formatação jurídica deste novo modo de produção.
O capitalismo que se amplia e se apodera de novos mercados e novas áreas de atuação, está a cada dia perdendo espaço nesta área especifica de atuação? Sim, este novo modo de produção é (nesta área) superior ao capitalismo e tende a transformá-lo em apenas marginal nesta área da economia.
Este novo modo de produção pode ser aplicável a outros setores da economia? Aqui que fica a dúvida e o grande desafio do movimento software livre, levar este modo de produção de conhecimento coletivo a outras áreas do conhecimento.
Concluo citando os colegas Antonio de Pádua e Thiago Tavares:
“Revolucionária não é a materialidade em-si do software livre, mas as relações sociais que o geraram. (...) A grande dificuldade que os marxistas sempre tiveram para vislumbrar uma sociedade verdadeiramente socialista foi identificar quais as relações sociais estruturantes dessa forma nova de sociabilidade. A grande dificuldade sempre residiu em construir do nada essas relações. É possível dizer que essas relações sociais de cunho socialista estão começando a ser tornar uma grande e sólida realidade hoje, no seio da sociabilidade do capital. Elas são a negação-superação do mundo frio e estranhado do capital e da mercadoria. Novas relações sociais implicam também em novos homens, nova ética, novas manifestações culturais. É possível que a ética hacker/geek seja a semente dessa nova "cultura".”
E tomara que seja!
Por: André Greve Pereira
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