Author:
Jorge Nascimento Fernandes
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Date Posted: 02:07:18 07/12/04 Mon
In reply to:
Fernando Redondo
's message, "Sampaio tomou uma decisão correcta e corajosa" on 14:58:47 07/10/04 Sat
Um Presidente às direitas
Esta frase não é minha, mas de alguém do MRC. No entanto, por traduzir tão bem o momento actual, achei que deveria encimar este meu texto.
O Fernando está equivocado, não compreende, quanto a mim, que a política é uma questão de correlação de forças e da sua análise em cada momento concreto.
Contemos um pouco a história do que se passou.
A fuga de Durão Barroso para a Europa, face à situação difícil que estava criada com a derrota da direita na eleições europeias, possibilitava a outros fazer aquilo que ele já era incapaz de realizar: a remodelação do Governo. E este problema da fuga é real, dado que é uma tradição do PSD apresentar novos presidentes, que como por milagre nada têm a ver com o passado. Cavaco Silva disse tão mal do Governo do Bloco Central, que parecia que o seu partido nunca tinha feito parte dele.
A ida para Bruxelas era a solução ideal, fugia-se aos problemas, e arranjava-se um substituto que pudesse refrescar o Governo. Esta operação foi montada com uma agilidade extraordinária. No dia seguinte, a ter sido anunciado a ida de Durão Barroso para a Europa, os jornais já davam como adquirido quem ia para primeiro-ministro e qual era a composição do Governo.
É nesta altura que Sampaio intervêm e inicia um processo que todos pensavam que levaria a eleições antecipadas, quando no fundo já tinha tudo combinado com Durão Barroso e a única coisa que mostrou foi provar que quem manda é ele, ou seja, fez a encenação do poder. A história dirá se ele teve angústias, eu por mim penso que já estava tudo arranjado e que foi só uma exibição de poder.
Nesta operação, e tendo Sampaio feito render a substituição, a esquerda lança-se a pedir eleições. O que tem lógica, não só do ponto de vista institucional, da transparência das instituições, mas acima de tudo política.
E o problema não era criar à pressa qualquer alternativa de esquerda, era de facto parar, mesmo que fosse por pouco tempo, esta política desgraçada que estava a afectar o país, era aproveitar uma ocasião em que a direita, incapaz de resolver a crise, se preparava para uma trapaça política, em que é hábil. Não exigíamos, arredar de vez a direita, não apresentávamos o programa comum das esquerdas, queríamos só, e isto estava ao nosso alcance, alterar a política e acima de tudo aproveitar a correlação de forças que nos era favorável. O futuro logo diria se tínhamos unhas para andar. Mas o político que está à espera de ter as condições ideais para agir perde sempre o combóio da história. A política faz-se praticando-a. O oportunismo é quando não agimos porque queremos garantias de sucesso.
Por esta razão, a esquerda ficou profundamente zangada com o Presidente. Ele, que tinha sido eleito com os votos da esquerda, alegando razões de retórica política, permitia a direita ganhar folgo, fazer aquilo que queria e, utilizando o aparelho de Estado, poder, com novas caras, ganhar as eleições legislativas de 2006. Coisa que, se se mantivesse o Durão Barroso e a Manuela Ferreira Leite, havia muitas dúvidas que conseguisse.
E esta posição do Presidente interfere igualmente com o PS. Ferro Rodrigues percebeu isso perfeitamente. Por isso se demitiu. Não é por acaso que muitos comentadores da direita dizem que o Presidente não foi para eleições antecipadas porque não acreditava neste PS a governar e tinha receio duma possível aliança com o Bloco de Esquerda. Veja-se Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo.
E assistimos hoje a uma esquerda desmoralizada e a porem-se na grelha de partida para tomar conta da Direcção do PS toda a sua ala direita. Que alternativa de esquerda alguma vez se irá construir com Sócrates, só se for a do queijo limiano, ou com António Vitorino, hoje um dos mais atlantistas do PS, que José Lamego, uma das figuras mais sinistras daquele Partido, apoia?
Portanto, passado este episódio a direita está mais forte e a esquerda em pior situação. E reforçando tudo isto, a política que sempre se tinha condenado a Manuela Ferreira Leite tem hoje o aval do Presidente e, segundo ele, deve ser continuada por este Governo. Esta exigência é a completa cedência aos interesses do patronato que era isto que reclamava a Jorge Sampaio.
Só quem não tem na segunda-feira que regressar ao local de trabalho e ver o rosto satisfeito de vitória dos chefes ou dos patrões é que poderá dizer que Sampaio tomou uma decisão correcta e corajosa.
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