VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

19/09/24 3:04:56Login ] [ Contact Forum Admin ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 123456789 ]
Subject: Grande intervenção de Francisco Louçã no parlamento


Author:
bloquista convicto
[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]
Date Posted: 8/05/05 0:02:37

Declaração política do Bloco de Esquerda 4 de Maio de 2005
Depois da rejeição pelo Presidente da República
do referendo sobre o aborto
Francisco Louçã
O Presidente da República comunicou hoje à Assembleia da Republica a sua decisão de
não convocar o referendo sobre o aborto, que tinha sido proposto por grande maioria
deste parlamento e com a oposição de duas únicas bancadas, a do PP e a do PCP.
O Presidente exerceu os seus poderes constitucionais, tomando a decisão política de não
submeter ao Tribunal Constitucional a proposta do parlamento. Naturalmente
respeitamos embora não concordemos com esta decisão. O Presidente aceita o princípio
do referendo e considera importante a alteração da lei, como a sua carta ao parlamento
torna explícito, e assim competia-lhe exclusivamente a decisão sobre o momento em
que essa consulta se deveria realizar, para assegurar as melhores condições
democráticas.
É certo que o facto de o parlamento ter votado a resolução propondo o referendo
somente no dia 20 de Abril reduziu demasiado os prazos de consulta ao Tribunal
Constitucional para que o referendo se pudesse realizar antes do Verão. E essa é uma
responsabilidade exclusiva desta câmara, em que o atraso de uns e a conspiração
boicotante de outros favoreceu o impasse.
Está assim este Parlamento confrontado com a decisão presidencial e forçado a retomar
o debate sobre como deve ser alterada a lei que criminaliza e persegue as mulheres e
que abortam em Portugal.
Começando pelo princípio, alterar ou não a lei é a primeira escolha que devemos fazer e
ela opõe profundamente a esquerda e a direita.

Declaração política do Bloco de Esquerda 4 de Maio de 2005
A direita finge inocência, alegando que se trata agora de uma mera questão de agenda
política. Ora, pelo contrário, o que importa saber é porque é que durante os últimos sete
anos se manteve a situação criminalizadora e a consequente perseguição e humilhação
das mulheres, e se queremos ou não acabar com esta vergonha.
A direita quer, pelo contrário, que tudo fique na mesma. A direita e a extrema-direita
apresentam aliás dois únicos argumentos para manter a lei, um novo e outro velho. O
argumento novo é de Zita Seabra: a lei portuguesa seria igual à espanhola mas os
médicos recusam-se a aplicá-la e é a infinita maldade da polícia e do ministério público
que provoca os julgamentos. Como é curioso ver o PSD agora a usar como argumento
para que o crime fique na lei que as mulheres podem fazer um aborto quando quiserem
– apesar de a lei as condenar a 3 anos de prisão. Registemos com cuidado este momento
único em que o PSD atribui as culpas da lei ao sistema de justiça que tem por dever
aplicar a lei.
O outro argumento, mais velho, é o da extrema-direita, segundo o qual se pode evitar
sempre o aborto e portanto se deve manter a ameaça da prisão. Em cada debate,
apresentam-nos o que alegam que se tem feito para proteger as mulheres. Pura
hipocrisia. Já há cinco anos atrás, respondia aqui a deputada Ana Manso, do PSD:
“sejamos francos e directos, o problema, no essencial, mantém-se e muitas são as
mulheres que continuam a ter de recorrer a um aborto que não desejam, que não
pretendem e que lhes causa danos humanos e de consciência incontornáveis. E tudo isto
sucede porque, passado o tempo do referendo, nada de importante foi feito, nada de
essencial foi alterado e nada de substantivo foi realizado.” E concluiu: “Nada de
essencial foi feito porque também nesta matéria – ou sobretudo nesta matéria – a
hipocrisia é mais do que muita”. Só se combate o aborto clandestino, que vitima muitas
mulheres, mudando a lei como em toda a Europa.
Ora, a direita, que quer manter a lei que persegue as mulheres, está hoje dividida. No
PSD, mais de 30 deputados na anterior legislatura defenderam a despenalização. No PP,
onde um deputado defende que uma mulher violada que aborte deve ser julgada e presa,
também Pires de Lima defende a despenalização. E é porque está dividida que a direita

Declaração política do Bloco de Esquerda 4 de Maio de 2005
se procura unificar nos truques processuais, na sabotagem legislativa, na chantagem
com um único objectivo: adiar ao máximo a mudança da lei. A direita resume-se ao
obstrucionismo.
Pelo contrário, a esquerda une-se pela necessidade de mudar a lei tão depressa quanto
possível.
Nesse sentido, defendemos que, depois de referendo não vinculativo de 1998, a
mudança da lei deveria ser apoiada por uma consulta popular. Nunca concordamos com
a ideia de que assim “se trocaria o certo pelo incerto”: não temos nenhuma dúvida de
que uma consulta popular participada determina a alteração da lei, que a maioria das
portuguesas e dos portugueses exige. O referendo é a forma democraticamente mais
forte de acabar com a vergonha da perseguição às mulheres, e quem tem medo do
referendo tem sempre uma posição fraca e temerosa. Nós não temos medo da maioria.
Somos a maioria e assim se provará se houver referendo.
Com essa determinação, tudo fizemos para que esse referendo se realizasse em tempo
útil. E esse referendo sempre assustou a direita. No ano passado, a direita rejeitou a
primeira iniciativa popular da história da democracia portuguesa, que propunha a
realização deste referendo. Rejeitou igualmente os projectos de lei para a
despenalização. Agora, faz tudo para adiar o referendo para 2007, como continuará a
fazer tudo contra essa consulta popular.
Pela parte do Bloco de Esquerda, fizemos tudo e não se poderia ter feito mais pela
realização do referendo.
Mas não aceitamos o adiamento para 2007. Nem nenhum deputado ou deputada de
esquerda pode aceitar esse adiamento porque é irresponsável, porque é desumano e
porque seria uma mentira aos eleitores. O PS comprometeu-se a mudar a lei: pode
esperar até metade da legislatura para cumprir a promessa aos seus eleitores? A
esquerda comprometeu-se com a mudança da lei: podemos aceitar mais julgamentos,
mais perseguição e mais humilhação?

Declaração política do Bloco de Esquerda 4 de Maio de 2005
Todos os estudos de opinião, incluindo um hoje mesmo publicado, dizem que os
portugueses não só se querem pronunciar com urgência sobre a despenalização do
aborto como querem acabar com a perseguição judicial das mulheres e com o drama do
aborto clandestino. Os números são claros: 54 por cento querem alterar a lei, contra
apenas 29 por cento que a querem manter. Alterar esta lei que envergonha o país não é a
agenda do Bloco de Esquerda, como sugeriu Ribeiro e Castro do CDS ou como repete
Marques Mendes. É a agenda e a prioridade do respeito pelas mulheres e do fim dos
julgamentos. A esquerda está com as vítimas, a direita com os carrascos.
Não podemos esperar mais. Compete por isso ao Partido Socialista, que é maioria
absoluta no parlamento, esclarecer se garante as condições para a realização de um
referendo ainda em 2005, ou seja, se garante a maioria para a revisão constitucional e de
outras leis. Pelas indicações actuais, essa garantia não pode ser dada.
Pela parte do Bloco de Esquerda, não estamos dispostos a afastar-nos do essencial: o
Parlamento deve escolher entre continuar o processo referendário em 2005 ou aprovar a
nova lei sem esperar pelo referendo se este for adiado para 2007. Essa decisão deve ser
tomada agora.
Se não houver referendo em 2005, a Assembleia não pode esperar mais tempo. Deve
alterar a lei. E tem o mandato para isso, tem a legitimidade para isso e tem a obrigação
de o fazer.
Naturalmente, pode a direita vir a pedir em 2007 um referendo para revogar esta nova
lei e para voltar a impor a pena de 3 anos para as mulheres que tenham abortado.
Aceitaremos esse referendo e estamos certos de o ganhar, se a direita o propuser.
Estamos aqui, como sempre, empenhados em corrigir uma injustiça. Não se adia uma
lei justa, e é a democracia que nos exige que a maioria deste parlamento tome a
iniciativa sem ceder à chantagem da direita.

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]


Post a message:
This forum requires an account to post.
[ Create Account ]
[ Login ]
[ Contact Forum Admin ]


Forum timezone: GMT+0
VF Version: 3.00b, ConfDB:
Before posting please read our privacy policy.
VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.