Subject: Lá que dá que pensar dá |
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Militante
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Date Posted: 4/07/05 23:55:05
In reply to:
Visitante
's message, "Um outro projecto comunista? Para quê?" on 4/07/05 6:13:41
Não sei se tem razão em tudo que diz mas os sindicatos ligaram pouco a coisas práticas como o fundo de greve. Nisso tem razão, no resto não sei se é tanto assim. Mas dá para pensar sim senhor.
>O fulcro da divergência política entre o FPR e o PCP
>parece ser, pelo que aqui tenho visto, ele achar não
>ter o PCP modelo de socialismo e de comunismo
>alternativo ao do comunismo real (o tal do gostinho
>especial, o único posto em prática por todo o lado
>onde os comunistas conquistaram o poder), o que
>enfraquece a sua importância social. O PCP, por seu
>lado, nos seus materiais escritos, que os escribas de
>serviço aqui no fórum não se cansam de transcrever,
>afirma que não há modelo de socialismo e de comunismo
>para seguir, dado que o que existiu (o tal, o do
>gostinho especial) conteve erros e desvios (não se
>sabe bem em relação a quê nem quais, mas presume-se
>que em relação aos esboços e linhas gerais constantes
>das escrituras e sabe-se o saldo em número de mortes e
>de práticas totalitárias e os brilhantes resultados
>que conquistou para a humanidade) que estarão na
>origem da sua derrocada por todo o lado (salvo as
>caricaturas que ainda persistem).
>
>Se o FPR tem um vislumbre de qualquer modelo
>alternativo, o melhor seria contrapô-lo à ausência de
>modelo que ele acha afectar o PCP. Quem sabe se o PCP
>não o aceitaria e se não lhe agradeceria. A não ser
>que o modelo alternativo do FPR seja o seu novo modo
>de produção digitálico. Isso, contudo, parece ainda
>mais desviante em relação às escrituras, carece de
>melhor explanação e etc. e tal, e a malta do PCP não
>está para aí virada. Aliás, a malta do PCP nunca
>esteve virada para quaisquer problemas teóricos, e até
>o seu incensado Álvaro apenas se dedicou à didáctica
>da prática, trocando por miúdos as análises da
>conjuntura e definindo as orientações tácticas de
>curto e de médio prazo que proporcionassem ao PCP
>andar na alta política, mas sempre de acordo com a
>cartilha seguida pelo farol do socialismo e em
>observância com os seus interesses geo-estratégicos.
>Daí as suas linhas da Unidade de Todos os Portugueses
>Honrados, da Revolução Democrática e Nacional e,
>agora, que esta já se cumpriu em grande medida, a da
>Democracia Avançada para o Limiar do Século XXI.
>Ultrapassado o limiar do século XXI, já entrados pelo
>século XXI, o PCP carece de nova linha (talvez uma
>Democracia Avançadíssima para o Limiar do Século XXII,
>que é como quem diz, para daqui a uns noventa anitos).
>
>Como o grande Álvaro se foi, fruto da lei da vida, sem
>deixar legado consistente nem delfim à altura das
>responsabilidades, o muro de Berlim se desmoronou, por
>razões meramente urbanísticas, e o farol do socialismo
>se apagou, tão só por falta de lâmpadas
>sobressalentes, percalços logo aproveitados pelo
>capitalismo para uma expansão sem precedentes, no
>plano internacional – com a singularidade duma
>potência “comunista” (a China) a entrar na alta roda
>dessa expansão (por enquanto, restrita à exportação de
>mercadorias) – e, no plano nacional, pelos grupos
>monopolistas para se reconstituírem e entrarem na
>ofensiva dando cabo da vida não só à classe operária e
>aos trabalhadores mas também às camadas intermédias e
>aos pequenos e médios agricultores, comerciantes e
>industriais, a coisa torna-se um tanto mais
>complicada. Agora, diz FPR, falta não só um modelo de
>projecto socialista e comunista, como uma orientação
>estratégica para o levar a cabo, e, até, uma linha
>táctica minimamente coerente, capaz de fazer face à
>conjuntura interna sem os grandes zigue-zagues de
>andar ao sabor das reivindicações mais díspares (como
>as das polícias, dos magistrados, dos professores, dos
>enfermeiros, dos médicos, etc., etc., tudo malta
>explorada que se farta e aliados fidelíssimos do
>proletariado).
>
>Estrategicamente, porque assim era o modelo, o PCP
>sempre procurou a conquista ou a partilha do poder.
>Como a conquista não se mostrasse possível, uns
>lugares no Governo, quando os teve; preencher ao
>máximo o aparelho de Estado, sempre que possível;
>tomar de assalto e blindar os sindicatos foi a
>estratégia seguida. As conquistas da “Revolução de
>Abril” (feita pelos militares e pelas massas, em
>grande parte à sua revelia) ficaram constituindo a sua
>Revolução Democrática e Nacional, fase intermédia da
>Revolução Socialista. Vendeu às massas as ilusões do
>“nacionalizado, nosso”, da irreversibilidade das
>nacionalizações e do Estado previdência, como se o
>Estado não fosse o Estado do Capital e como se a
>burguesia estivesse sempre na defensiva como quando
>teve de fazer concessões como um mal menor. Porque o
>seu projecto é burocrático, o PCP teve sempre em vista
>essas migalhas de poder, e o controlo que em tempos
>teve sobre uma parte da classe operária e dos
>trabalhadores usou-o para pressionar o seu peso
>negocial (em desejadas coligações com o PS, na
>esperança de um regresso ao poder executivo) e não
>para organizá-la em defesa dos seus interesses
>imediatos.
>
>As tácticas foram múltiplas, com muita manobra à
>mistura, mas os seus resultados aí estão: as
>nacionalizações foram-se, o Estado previdência vai-se
>e os sindicatos, entretidos a mamar da teta
>comunitária à custa de uma pseudo formação
>profissional (como se essa fosse função sua),
>afastaram-se das massas e estão de rastos, sem
>qualquer força negocial. Nem Caixas Sindicais de
>Previdência, nem fundos de greve, e nem os direitos do
>código do trabalho marcelista (o saudoso 49408) ou do
>código da contratação colectiva marcelista (o também
>saudoso 49212) conseguiram conservar, perante uma
>total incapacidade de fazerem frente às sucessivas
>ofensivas do patronato e do Estado do capital. Hoje,
>os sindicatos estão de cócoras, e o muito que
>conseguem é arregimentar uns milhares de activistas
>para manifestações de protesto, muito coloridas e
>folclóricas mas sem qualquer força.
>
>A táctica do PCP, tomando como inimigo o capital
>monopolista e agindo na defesa dos interesses das
>camadas intermédias e dos pequenos e médios
>agricultores, comerciantes e industriais, à mistura
>com uma proclamada defesa dos interesses dos operários
>e dos trabalhadores, não poderia conduzir a outro
>desenlace. É uma táctica tão caricata, num país em que
>a maior parte do patronato, aquele que emprega a
>maioria dos operários e dos trabalhadores não
>pertencentes ao aparelho do Estado (central e local),
>é precisamente constituído por pequenos e médios
>agricultores, comerciantes e industriais, que chega a
>raiar o ridículo. O grave é que ela não se resume a
>retórica propagandística, mas enforma as políticas
>defendidas pelo PCP.
>
>Numa contradição pegada com o seu eventual projecto de
>revolução social para a instauração do socialismo e do
>comunismo, nesta fase que definiu como de Democracia
>Avançada no Limiar do Século XXI o PCP pretende atrair
>a si as fracções não monopolistas da burguesia, ou,
>pelo menos, não hostilizá-las para que elas não se
>oponham a uma sua participação no poder. A redução do
>salário nos custos de produção serve antes de mais
>estas fracções do capital, que são das mais
>reaccionárias e imobilistas, e essa tem-lhe sido
>proporcionada pelas políticas do PCP. Veja-se, como
>exemplo, a condescendência que teve com a abertura à
>importação de mão-de-obra estrangeira, clandestina ou
>legalizada, cujo principal impacto foi impedir
>qualquer melhoria do salário médio, e até reduzi-lo, e
>fragilizar ainda mais a já frágil capacidade
>reivindicativa dos operários e dos trabalhadores
>portugueses.
>
>E esta sua táctica é outra contradição pegada com a
>sua apregoada defesa dos interesses dos operários e
>dos trabalhadores. Como, na ideologia comunista, o
>internacionalismo proletário é uma bandeira, o PCP,
>identificando internacionalismo com caridade, faz coro
>com a burguesia em relação à importação de
>mão-de-obra. Distingue-se, porque aquela marimba-se
>para a legalização dos imigrantes clandestinos, e o
>PCP a defende. A legalização, porém, é apenas um mal
>menor, que evitará o trabalho escravo, mas não os
>outros efeitos sobre o salário e a capacidade
>reivindicativa dos trabalhadores. Chegou-se ao ponto
>de um país de emigração, devido à fragilidade do
>aparelho produtivo, se ter transformado hoje num país
>de imigração!
>
>De certo modo, os salários baixos, a precariedade no
>trabalho e a existência de bolsas de miséria são um
>terreno propício para a existência dum partido
>comunista. O discurso comunista, denunciando a pobreza
>e a miséria, pode granjear alguma simpatia. Foi assim
>no passado, mas é cada menos assim no presente e no
>futuro, nomeadamente, porque existe uma emigração
>sazonal que circula livremente na EU e vai angariando
>salários médios um pouco mais aceitáveis, e porque os
>pobres de hoje são os reformados, os activos que não
>podem emigrar e os imigrantes estrangeiros. Ora entre
>eles, por razões diversas, o PCP, directamente ou por
>intermédio dos sindicatos, colhe simpatia apenas entre
>parte, cada vez menor, dos reformados e dos activos, o
>que não pode deixar de ser um mau prenúncio. Por tudo
>isto, a prática do PCP resume-se a um discurso
>protestativo, meramente reivindicativo de outras
>políticas, de que ele seria o protagonista numa
>qualquer coligação, e não se orienta para a defesa dos
>interesses concretos das massas trabalhadoras, quer
>porque nunca a teve como objectivo, quer porque, na
>actual situação, não tem qualquer força, directamente
>ou através dos sindicatos.
>
>Os comunistas chegaram ao poder mercê de condições
>muito excepcionais. Não o conquistaram através de
>crises revolucionárias abertas por crises do
>capitalismo, mas precisamente onde o capitalismo não
>era o modo de produção dominante, no rescaldo de
>guerras ou de lutas de libertação nacional. Fora
>dessas situações excepcionais, os partidos comunistas
>não têm táctica aferida, como se viu pelas constantes
>mudanças tácticas da IC e ao que elas conduziram, e a
>única que lhes parece viável é a partilha do poder,
>para ir fazendo as reformas possíveis. Se não têm
>força eleitoral para conseguirem entrar para uma
>qualquer coligação, resta-lhes a súplica permanente
>por outras políticas e o acenar constante com os
>amanhãs que cantam, para que não se perca a chama,
>enquanto esperam pela derradeira crise do capitalismo.
>Como também esta não está para os tempos mais
>próximos, agora que a globalização abriu perspectivas
>de ampliação dos mercados, e porque, entretanto, o
>comunismo se esboroou por todo o lado e o farol se
>apagou, a táctica transformou-se em estratégia, como é
>notório, no caso do PCP, com a chamada Democracia
>Avançada no Limiar do Século XXI.
>
>Por tudo isto, o problema dos PCs não é um projecto de
>socialismo ou de comunismo alternativo ao socialismo e
>ao comunismo real, o tal do gostinho especial; o
>problema é o da própria ideologia, a tal que busca a
>harmonia universal, quando todo o Mundo é composto de
>mudança. Daí que as permanentes críticas do FPR, assim
>como dos chamados renovadores comunistas, ao PCP sejam
>um tanto ou quanto despropositadas e não tenham
>sentido, nomeadamente, porque todos se afirmam
>defensores da mesma ideologia. As inquietações do FPR
>e dos outros renovadores, contudo, não se comparam à
>falta de argumentação de alguns escribas do PCP de
>serviço neste fórum nem ao alarido da táctica
>protestativa do PCP, a quem todos os descontentamentos
>parecem servir, mas que se revela infrutífera.
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