Subject: Uma visão de futuro |
Author:
Calado
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Date Posted: 6/07/05 23:35:32
In reply to:
Fernando Penim Redondo
's message, "Comunicação apresentada ao XIII Congresso do PCP" on 6/07/05 14:02:36
E esta comunicação tem 15 anos. Não parece. É muito actual.
Afinal a premonição existe.
FPR demonstra aqui a sua inteligência e os seus sólidos conhecimentos da realidade político-social.
Alguns bem fariam aprender, aprender com ele e sempre.
>Comunicação apresentada ao XIII Congresso do PCP
>Loures, 18-20 Maio 1990, Fernando Redondo
>
>O objectivo desta intervenção é transmitir-vos o meu
>contributo para a questão mais candente que
>nós,comunistas, temos de enfrentar: como tomar o
>socialismo, de novo, uma perspectiva capaz de
>entusiasmar os povos. (Porque nós não somos daqueles
>que acreditam que o capitalismo seja eterno.)
>
>Tal implica, antes de mais, fornecer uma explicação
>para o que se tem estado a passar no Leste; tal
>explicação tem que ser rigorosa e credível, tem que
>conter pistas para o caminho que trilharemos no
>futuro; tal explicação, sendo produzida por nós, tem
>de basear-se no marxismo.
>
>Tal explicação não a consegui encontrar nas Teses
>propostas pelo Comité Central. Tentarei explicar
>porquê.
>
>Em primeiro lugar penso que as Teses do CC deixam
>perpassar uma esperança, compreensível mas infundada,
>de que possa vir a ser estancado o decalabro no Leste.
>Pelo caminho que as coisas tomaram parece-me mais
>prudente partir do princípio de que haverá um retorno
>generalizado a formas de organização social e
>económica de tipo capitalista.
>
>As Teses do CC não constituem uma análise marxista. As
>«cinco causas fundamentais», os «erros e desvios»,
>nada têm a ver com os conceitos marxistas de modo de
>produção e de processo de transição entre modos de
>produção, à luz das quais as sociedades, e as
>tentativas de as modificar, devem ser encaradas.
>
>Este é o resultado de ao longo dos anos termos
>reduzido as questões da transição aos problemas da
>tomada e exercício do poder político e à apropriação
>dos meios de produção. Subestimamos e omitimos sempre
>as questões da base material nova e das relações de
>produção, novas também, que lhe deverão corresponder.
>Como de costume, insistimos mais naquilo que depende
>da vontade e escamoteámos o que deriva dos lentos
>processos de transformação tecnológica e social.
>
>Sustento que nos países de Leste nunca se implantou o
>socialismo, que não se implantou um novo modo de
>produção. Assim como o capitalismo não se construiu
>sobre a base material do feudalismo, também o
>socialismo não se podia edificar, e não se edificou,
>sobre a base material do capitalismo, a grande
>indústria mecanizada.
>
>Ao dizer isto não se pretende de forma alguma retirar
>importância histórica à grande Revolução de Outubro,
>aos altos ideais que estiveram na sua origem, nem
>ignorar as enormes conquistas sociais e económicas que
>daí advieram. Também a Revolução Francesa, derrotada
>em 1815 mas ainda hoje venerada, não produziu, só por
>si, a implantação do capitalismo, que teve que
>aguardar o amadurecimento da revolução industrial.
>
>O socialismo chegará, estou seguro, tanto pela luta
>dos explorados como pelo desenvolvimento da
>tecnologia. Não posso concordar com um lugar-comum
>também incluído nas Teses do CC, que considera estar a
>ser «artificialmente» adiado o fim do capitalismo em
>consequência da revolução científica e técnica. Os
>sistemas sociais caducos dão-se mal com revoluções,
>mesmo tecnológicas; ou então não estariam tão caducos
>como estão.
>
>A revolução científica e técnica é, no capitalismo,
>mais uma arma na guerra global da concorrência entre
>os grupos económicos e mesmo entre os países. Alguns
>vencem,outros desaparecem, mas no cômputo geral o
>capitalismo está, pela aceleração tecnológica, a
>destruir os seus próprios pressupostos.
>
>Então não é claro, camaradas, como a informatização e
>a automatização põem em cheque o assalariamento
>capitalista? Basta dizer que a quase totalidade dos
>novos postos de trabalho criados, já de si
>insuficientes, têm carácter precário. Que futuro pode
>ter um sistema que não oferece nenhum futuro aos seus
>jovens?
>
>É preciso entender que fenónemos como o desemprego e o
>trabalho precário não são fruto da maldade ou das
>taras do patronato mas sim da incapacidade do
>capitalismo para responder à revolução tecnológica. E,
>mesmo que não pareça, esta perspectiva é muito mais
>revolucionária.
>
>Por isso, camaradas, não tenhamos medo da tecnologia
>nova, pois só dela poderá nascer um novo mundo.
>Precisamos, isso sim, de perceber que novas relações
>de produção resultarão da nova tecnologia.
>
>Tal como a servidão desapareceu, também o
>assalariamento está a desaparecer sob os nossos olhos.
>Cabe-nos a nós perceber, e depois explicar, como serão
>as relações de trabalho num mundo com muito mais
>computadores, robots e telecomunicações.
>
>Penso que o atraso da organização social relativamente
>à evolução tecnológica está em vias de provocar o
>advento de um período de grandes sofrimentos e
>perturbações.
>Sofrerão todos os que têm que se agarrar a um posto de
>trabalho assalariado que a evolução tecnológica e as
>regras capitalistas condenem ao desaparecimento.
>
>Nós temos a responsabilidade histórica de combater
>pela minimização destes sofrimentos, pela exigência de
>uma nova organização da sociedade que não esteja
>dependente do trabalho assalariado.
>
>Neste contexto, é cada vez mais absurdo trabalhar por
>um salário. O fim do assalariamemo constitui o fim do
>capitalismo.
>
>Camaradas, esta é a minha opinião.
>
>Se a experiência do Leste foi tecnologicamente
>prematura, então vamos trabalhar para uma segunda vaga
>na luta pelo socialismo. Denunciando e combatendo as
>injustiças, apoiados nas tecnologias emergentes,
>entusiasmando os sectores mais influentes como os
>quadros técnicos para lutarem por mais do que um mero
>salário, dizendo aos jovens que o capitalismo é tão
>precário como o trabalho que lhes oferece.
>
>Demonstremos que é possível organizar a sociedade de
>forma não só mil vezes mais justa como mil vezes mais
>eficiente e produtiva.
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