Subject: Comentarei logo que possível |
Author:
Visitante
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Date Posted: 6/07/05 23:55:13
In reply to:
Fernando Penim Redondo
's message, "É a força das telenovelas..." on 5/07/05 17:30:46
FPR.
Agradeço a informação e irei ler com atenção.
Quando possível, responderei, se tiver disponibilidade e me achar à altura da discussão.
Hoje, por exemplo, coloquei um texto de ocasião, como comentário a um outro aqui colocado, que me pareceu de alguma desfaçatez, do dirigente da CGTP Carvalho da Silva, e nada disto tinha previsto.
Como cá venho esporadicamente, verei se no próximo fim de semana será possível dar seguimento às suas e às minhas inquietações.
Visitante.
>Caro Visitante,
>
>Não há duvida, as questões que coloca são muitíssimo
>pertinentes.
>Concorde-se ou não com as opiniões expressas temos que
>louvar o cuidado posto no texto, especialmente quando
>o comparamos com os dislates avulsos que,
>infelizmente, enxameiam o DOTeCOMe Fórum.
>
>Vou tentar explicar porque continuo a bater-me por “um
>outro projecto comunista”, para usar as palavras do
>Visitante. Quero, antes de mais, esclarecer que o meu
>“desapontamento” com o PCP se estende também à
>“Renovação Comunista” e ao Bloco de Esquerda pois,
>qualquer deles, foge como o diabo da cruz de proceder
>às indispensáveis redefinições do paradigma (penso que
>tal se deve a uma visão eleitoralista de merceeiro).
>
>O meu distanciamento do PCP iniciou-se no fim dos anos
>80, depois de muitos anos de militância disciplinada
>desde 1966, quando me apercebi da irreversibilidade do
>descalabro na URSS. Ainda hoje me revolta a atitude
>irresponsável adoptada na altura pela Direcção do PCP,
>com desprezo pela angústia dos milhares de militantes
>e simpatizantes comunistas a quem o “sistema
>soviético” fora sempre apresentado como o caminho a
>seguir (mesmo que para amenizar a coisa se falasse em
>respeitar as características nacionais).
>
>Eu era responsável por uma célula de empresa desde
>1974 e não podia suportar a ideia de que eu, e os
>restantes camaradas, tínhamos andado 15 anos a lutar
>por uma miragem; entendia que o partido, já que não
>soubera prever e preparar a reacção aos gravíssimos
>acontecimentos que se sucediam em catadupa, tinha pelo
>menos a obrigação de tirar todos os ensinamentos e
>consequências da enorme derrota que acabávamos de
>sofrer.
>
>Como todos sabem o desaparecimento da URSS e do
>restante “campo socialista” foi praticamente ignorado
>pelo PCP, como se nada de especial se tivesse passado,
>como se tal cataclismo fosse o resultado de uns
>quantos erros avulsos dos “camaradas soviéticos”.
>
>Foi nesse ponto que percebi que não podia continuar a
>confiar no discernimento de tais dirigentes e que não
>tinha outro remédio senão procurar, eu próprio, as
>razões do fracasso.
>
>Tomei posição sobre estas matérias em 1990 (ver texto
>publicado na Vértice) e fiz uma intervenção no XIII
>Congresso, em Loures, recusando a “explicação oficial”
>para o fim da experiência soviética (nesse Congresso
>houve muitos “responsáveis” a falar como se a situação
>da URSS ainda fosse reversível).
>Em 1993 cansei-me de esbracejar dentro do partido e
>suspendi, até hoje, a minha militância.
>
>Por coerência com as minhas convicções procurei, no
>meio do descalabro, as peças que permitissem explicar
>o passado e ser também usadas na construção de um
>futuro. Como alguém que, após a queda de um avião numa
>zona inóspita, procurasse nos destroços algo com que
>sobreviver.
>
>Parti da ideia básica de que o capitalismo não é
>eterno e que, como qualquer outro ser, objecto, ou
>sistema, terá um fim. Adoptei a teoria enunciada por
>Marx sobre os modos de produção, e da sua sucessão no
>tempo e no espaço.
>
>Desta forma a questão política podia ser vista, em
>termos muito gerais, como a capacidade para:
>
>- perceber os modos de produção
>- detectar a sua degenerescência
>- explorar as suas contradições
>- antever as novas formas que lhes vão suceder
>- tentar influenciar a sua gestação e desenvolvimento.
>
>Em “Do Capitalismo para o Digitalismo” procedemos a um
>exercício deste tipo. Mais do que a demonstração das
>hipóteses nele levantadas o livro pretendeu
>essencialmente mostrar o tipo de trabalho que é
>necessário realizar.
>
>Sem ter ideias coerentes sobre o grau de
>“apodrecimento” do capitalismo, sobre os mecanismos
>internos do sistema que o estão a corroer (como em
>qualquer ser vivo), sobre as potenciais rupturas e
>soluções alternativas que a vida sempre encontrará,
>não é possível conduzir a acção política prática de
>forma inteligente nem navegar no meio dos milhões de
>informações com que somos bombardeados.
>
>Por isso, caro visitante, não se trata de definir em
>abstracto um modelo para o futuro mas sim deduzir esse
>modelo das contradições observáveis na sociedade
>actual e das formas da sua superação. Esquecendo as
>mitologias e as liturgias.
>
>Lamentavelmente não se encontra ninguém que queira ir
>por este caminho; estão todos demasiado obcecados com
>o Santana, com o Carrilho ou com o Isaltino...
>
>É a força das telenovelas.
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