Subject: Visitante |
Author:
À rasca
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Date Posted: 7/07/05 17:35:16
In reply to:
Visitante
's message, "Comentarei logo que possível" on 6/07/05 23:55:13
>FPR.
>
>Agradeço a informação e irei ler com atenção.
>
>Quando possível, responderei, se tiver disponibilidade
>e poder sentar-me, pois o Sorje, pôs-me o cu pior que o chapeu dum pobre, e me achar à altura da discussão.
>O que duvido muito além disso voçê mais parece o Pol Pot.
>Hoje, por exemplo, coloquei um texto de ocasião, como
>comentário a um outro aqui colocado, que me pareceu de
>alguma desfaçatez, do dirigente da CGTP Carvalho da
>Silva, e nada disto tinha previsto.
>
>Como cá venho esporadicamente, verei se no próximo fim
>de semana será possível dar seguimento às suas e às
>minhas inquietações.
>
>Visitante.
>
>
>
>>Caro Visitante,
>>
>>Não há duvida, as questões que coloca são muitíssimo
>>pertinentes.
>>Concorde-se ou não com as opiniões expressas temos que
>>louvar o cuidado posto no texto, especialmente quando
>>o comparamos com os dislates avulsos que,
>>infelizmente, enxameiam o DOTeCOMe Fórum.
>>
>>Vou tentar explicar porque continuo a bater-me por “um
>>outro projecto comunista”, para usar as palavras do
>>Visitante. Quero, antes de mais, esclarecer que o meu
>>“desapontamento” com o PCP se estende também à
>>“Renovação Comunista” e ao Bloco de Esquerda pois,
>>qualquer deles, foge como o diabo da cruz de proceder
>>às indispensáveis redefinições do paradigma (penso que
>>tal se deve a uma visão eleitoralista de merceeiro).
>>
>>O meu distanciamento do PCP iniciou-se no fim dos anos
>>80, depois de muitos anos de militância disciplinada
>>desde 1966, quando me apercebi da irreversibilidade do
>>descalabro na URSS. Ainda hoje me revolta a atitude
>>irresponsável adoptada na altura pela Direcção do PCP,
>>com desprezo pela angústia dos milhares de militantes
>>e simpatizantes comunistas a quem o “sistema
>>soviético” fora sempre apresentado como o caminho a
>>seguir (mesmo que para amenizar a coisa se falasse em
>>respeitar as características nacionais).
>>
>>Eu era responsável por uma célula de empresa desde
>>1974 e não podia suportar a ideia de que eu, e os
>>restantes camaradas, tínhamos andado 15 anos a lutar
>>por uma miragem; entendia que o partido, já que não
>>soubera prever e preparar a reacção aos gravíssimos
>>acontecimentos que se sucediam em catadupa, tinha pelo
>>menos a obrigação de tirar todos os ensinamentos e
>>consequências da enorme derrota que acabávamos de
>>sofrer.
>>
>>Como todos sabem o desaparecimento da URSS e do
>>restante “campo socialista” foi praticamente ignorado
>>pelo PCP, como se nada de especial se tivesse passado,
>>como se tal cataclismo fosse o resultado de uns
>>quantos erros avulsos dos “camaradas soviéticos”.
>>
>>Foi nesse ponto que percebi que não podia continuar a
>>confiar no discernimento de tais dirigentes e que não
>>tinha outro remédio senão procurar, eu próprio, as
>>razões do fracasso.
>>
>>Tomei posição sobre estas matérias em 1990 (ver texto
>>publicado na Vértice) e fiz uma intervenção no XIII
>>Congresso, em Loures, recusando a “explicação oficial”
>>para o fim da experiência soviética (nesse Congresso
>>houve muitos “responsáveis” a falar como se a situação
>>da URSS ainda fosse reversível).
>>Em 1993 cansei-me de esbracejar dentro do partido e
>>suspendi, até hoje, a minha militância.
>>
>>Por coerência com as minhas convicções procurei, no
>>meio do descalabro, as peças que permitissem explicar
>>o passado e ser também usadas na construção de um
>>futuro. Como alguém que, após a queda de um avião numa
>>zona inóspita, procurasse nos destroços algo com que
>>sobreviver.
>>
>>Parti da ideia básica de que o capitalismo não é
>>eterno e que, como qualquer outro ser, objecto, ou
>>sistema, terá um fim. Adoptei a teoria enunciada por
>>Marx sobre os modos de produção, e da sua sucessão no
>>tempo e no espaço.
>>
>>Desta forma a questão política podia ser vista, em
>>termos muito gerais, como a capacidade para:
>>
>>- perceber os modos de produção
>>- detectar a sua degenerescência
>>- explorar as suas contradições
>>- antever as novas formas que lhes vão suceder
>>- tentar influenciar a sua gestação e
>desenvolvimento.
>>
>>Em “Do Capitalismo para o Digitalismo” procedemos a um
>>exercício deste tipo. Mais do que a demonstração das
>>hipóteses nele levantadas o livro pretendeu
>>essencialmente mostrar o tipo de trabalho que é
>>necessário realizar.
>>
>>Sem ter ideias coerentes sobre o grau de
>>“apodrecimento” do capitalismo, sobre os mecanismos
>>internos do sistema que o estão a corroer (como em
>>qualquer ser vivo), sobre as potenciais rupturas e
>>soluções alternativas que a vida sempre encontrará,
>>não é possível conduzir a acção política prática de
>>forma inteligente nem navegar no meio dos milhões de
>>informações com que somos bombardeados.
>>
>>Por isso, caro visitante, não se trata de definir em
>>abstracto um modelo para o futuro mas sim deduzir esse
>>modelo das contradições observáveis na sociedade
>>actual e das formas da sua superação. Esquecendo as
>>mitologias e as liturgias.
>>
>>Lamentavelmente não se encontra ninguém que queira ir
>>por este caminho; estão todos demasiado obcecados com
>>o Santana, com o Carrilho ou com o Isaltino...
>>
>>É a força das telenovelas.
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