Subject: O troca-tintas |
Author:
Anabela Fino
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Date Posted: 28/10/05 13:05:28
O troca-tintas
O líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, anda cada vez mais nervoso. Não se sabe ao certo se é devido aos resultados das autárquicas, à quebra de protagonismo, às crescentes dificuldades em fazer de conta que é um partido de oposição, ou à forçada abstinência que o impede de apresentar como suas ideias alheias, mas o certo é que Louçã está a perder o verniz.
Foi justamente o que sucedeu no passado sábado, em Lisboa, quando Louçã, naquele seu estilo de grilo falante, pretendeu responder à acusação feita na véspera pelo secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que responsabilizou o PS e o BE pelo atraso no processo de despenalização do aborto ao insistirem na realização de um referendo.
Irritado com a justeza da crítica e manifestamente incapaz de produzir um único argumento válido para fundamentar a insistência em referendar o que pode ser aprovado por maioria simples na Assembleia da República, Louçã não esteve com meias medidas e bolsou para a comunicação social uma pérola do seu anticomunismo primário. O PCP, disse, esteve no poder em 1974 e 1975 e não resolveu a questão do aborto. No afã de sublinhar a «culpa» do PCP, Louçã foi ainda mais longe ao afirmar que «desde aí mais de um milhão de portuguesas tiveram de abortar», pelo que o PCP é que lhes está a dever «um pedido de desculpas».
A desonestidade intelectual, moral e política de Louçã só tem paralelo na demagogia que cultiva com tanto desvelo.
Sabendo o dirigente do BE, como sabe, que o PCP, nos governos provisórios de que fez parte, nunca dispôs de mais do que um ministro sem pasta, um ministro e um secretário de Estado; sabendo, como Louçã sabe, que nesse período ocorreram as mais profundas alterações registadas na vida política e económica do País, e que desde a primeira hora se conjugaram todos os esforços - com a empenhada colaboração do PS de Mário Soares e de todos os grupelhos de pseudo extrema-esquerda, incluindo o que viria a ser o PSR de Louçã - para barrar o caminho à Revolução de Abril; sabendo, como o ex-dirigente esquerdista sabe, que o PCP foi a primeira - e durante muito tempo a única - força política a defender a despenalização do aborto; sabendo tudo isto, dizia, Louçã também sabe que as suas palavras são, mais do que injustas, totalmente mentirosas.
É possível que Louçã, de tão habituado que está ao discurso de vendedor de banha da cobra pseudo intelectual, e mais preocupado com o efeito mediático das suas falácias do que com a substância do que diz, não tenha medido o alcance de tamanha impostura e não se tenha apercebido de que a lama que pretendeu atirar ao PCP apenas o emporcalha a ele. É esse o destino dos pantomineiros da política, que quanto mais trepam no poleiro mais se candidatam ao trambolhão.
Não é caso para dizer que o rei vai nu, já que a farroupilha verbal de Louçã nunca conseguiu tapar a indigência intelectual do autor, mas é sempre bom comprovar que a sabedoria popular lá tem as suas razões para dizer que pela boca morre o peixe. E o que não falta por aí são peixes mortos a empestar o ar.
Avante! Nº 1665
27.Outubro.2005
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