Author:
Fernando Madrinha
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Date Posted: 29/10/05 13:58:44
In reply to:
Fernando Penim Redondo
's message, "Os poderes do Professor KAWAKU" on 28/10/05 15:25:13
OS PRIMEIROS passos da pré-campanha presidencial confirmam o que ficou sugerido logo nos discursos de apresentação dos quatro candidatos da esquerda: programas e manifestos à parte, todos se organizam em função desse objectivo primordial e comum que é derrotar Cavaco Silva. E na hipótese de surgir ainda um Jerónimo de Sousa ou um Francisco Louçã à direita - Paulo Portas estará em pulgas para desempenhar esse papel, a avaliar pelas movimentações dos seus fiéis e por outros sinais que vão chegando às redacções - o propósito essencial será o mesmo, ainda que, neste caso, possa vir mascarado com um discurso diferente. Por exemplo, o de não só dar voz ao único partido parlamentar que ainda não tem candidato próprio - como se os partidos fossem concorrentes a Belém - mas também «ajudar» Cavaco Silva a enfrentar a multidão de adversários à esquerda...
A estratégia do «todos contra um», versão adaptada de um concurso recente da RTP, afigura-se completamente errada. Desde logo porque, mais do que qualquer tabu ou atitude «messiânica» do próprio Cavaco, agiganta a sua figura, colocando-a ainda mais no centro do palco. Depois, a compulsão de comentar e, naturalmente, desvalorizar ou denegrir tudo o que ele diz ou deixa de dizer - primeiro porque falou só oito minutos e não disse nada de substancial, depois porque falou 45 minutos e o que leu não foi um manifesto, mas um programa de Governo - diminui os próprios comentadores. E este é um erro fatal, tão óbvio que chega a ser chocante o facto de alguns terem incorrido nele: o de, por tanto se fixarem em cada iniciativa que ele promove e tão lestos se mostrarem a responder ou contestar cada uma das suas palavras e ideias, haver candidatos presidenciais que se colocam no papel de comentadores. Mário Soares, com a sua intuição e experiência, percebeu-o rapidamente e nomeou a tempo um porta-voz, aliás sereno, hábil e competente na função.
Investir obsessivamente contra Cavaco, em lugar de cada uma das candidaturas se afirmar pelas suas propostas e atitudes, é uma opção desastrada por duas razões. Desde logo porque as televisões e as rádios têm transmitido essas iniciativas e discursos em directo. Os telespectadores, ouvintes e leitores de jornais sabem, por isso, exactamente como as coisas se passaram e o que ele disse de facto. Formam a sua opinião. Ora, se o candidato diz e repete em cada parágrafo que, se for eleito, respeitará inteiramente os poderes constitucionais, só podem ficar espantados quando ouvem responsáveis de outras candidaturas a acenar com o fantasma de um «golpe de Estado» presidencialista; se o candidato diz e repete em cada período que a governação pertence ao Governo e que não tenciona imiscuir-se minimamente nas suas competências, os mesmos telespectadores, ouvintes e leitores só podem ficar desconfiados dos outros candidatos, ou dos seus representantes e porta-vozes nos «media», quando vêm dizer o contrário, isto é, que o que ele quer é governar.
Há uma segunda razão para considerar esta obsessão de investir contra Cavaco uma opção desastrada para as candidaturas que apostam nisso. Pelo que se conhece do ex-primeiro-ministro - e é já bastante - só forçado por algum motivo excepcional e em circunstâncias muitíssimo especiais é que ele responderá aos adversários fora dos debates que vierem a realizar-se. E isso torna, não só inútil, mas contraproducente a táctica de fazer dele um bombo da festa.
Por causa das suas próprias divisões, que os obrigam a uma espécie de primárias para uma eventual segunda volta, e dos erros que vêm cometendo - além do mérito do adversário e da atitude com que entrou na campanha - os candidatos da esquerda partem em dificuldades. Isso está claro em todas as sondagens. E são essas mesmas sondagens, tão animadoras para Cavaco, o seu principal adversário neste momento. Porque podem provocar, por um lado, uma euforia excessiva nas suas hostes e, por outro, uma mobilização mais forte daquilo a que Medeiros Ferreira chamava, na TSF, «a esquerda escondida» - uma esquerda que não aparece nas sondagens a declarar o voto em qualquer dos seus candidatos. Usar a votação de José Sócrates em Fevereiro para identificar o eleitorado de esquerda pode prestar-se a grandes equívocos. Ou ter-se-á de concluir que a tal esquerda que falta nas contas de Medeiros Ferreira está, afinal, com... o candidato da direita.
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