VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

6/11/24 5:49:54Login ] [ Contact Forum Admin ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 12345678 ]
Subject: O adeus de Sampaio


Author:
José Manuel Fernandes
[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]
Date Posted: 5/03/06 17:31:54
In reply to: ANTÓNIO BARRETO 's message, "Boa sorte, senhor Presidente!" on 5/03/06 17:30:47

O adeus de Sampaio
José Manuel Fernandes



É difícil antever que lugar reservarão os livros de história aos dois mandatos de Jorge Sampaio. Para Portugal a última década não foi gloriosa, pois começou em euforia e acabou em depressão. Qualquer leitura que seja feita sobre a sua passagem por Belém à luz do país que encontrou e do país que deixou arrisca-se a ser sombria, mesmo que injusta. Até porque estes foram dois mandatos de paradoxos, até para o próprio Presidente.
Por natureza e instinto, o homem que há dez anos chegou a Belém prezou uma leitura discreta dos seus poderes, uma leitura mais institucional do que política, o que se permitiu aos portugueses olharem sempre para a Presidência da República como uma referência de estabilidade e de respeito pela legalidade, limitou a sua capacidade de influenciar o curso dos acontecimentos de acordo com as suas mais profundas preferências políticas. Sampaio, por exemplo, gostaria ao deixar Belém de ter o país dividido em regiões administrativas, mas convocou o referendo em que estas foram rejeitadas. Também teria preferido que a lei da interrupção voluntária da gravidez tivesse sido resolvida no Parlamento, mas no outro referendo que convocou teve para mais o desgosto de votar vencido.
Vindo do mundo da Justiça, pregou no deserto em favor de reformas que não ocorreram e, talvez por respeito a formalismos excessivos, sai de Belém com o sector mergulhado numa crise confiança, de ineficiência e de instituições. Homem preocupado com a planificação e o ordenamento, viu governos e autarquias desarrumarem o território sem que, porventura por receio de alimentar o "país da lamúria", fizesse mais do mediar os conflitos mais gritantes. Europeísta e defensor do novo Tratado Constitucional, impediu referendos despropositados mas não assistiu à aprovação formal do documento, o que permitiria que Portugal estivesse entre os países que já o subscreveram. Homem de hábitos probos, presidiu a uma nação onde as famílias se endividam e o Estado se arruina gastando de forma desregrada e irracional.
O seu recente regresso a Timor e o receber em Belém duas crianças que ajudou a levar à escola são por isso sinais de amargura, dois gestos que sublinham dois dos raros momentos de que guardará sincera e profunda gratificação. Momentos em que se fez útil, agiu em conformidade e pôde apreciar os resultados. Não teve muitos.
De resto basta recordar que um Presidente que nunca quis dissolver a Assembleia o fez por duas vezes, a primeira quando Guterres se demitiu contra a sua opinião, a segunda quando demitiu Santana face a um desvario que não podia mais suportar. Com a primeira dissolução contrariou o seu instinto parlamentarista, com a segunda abriu um precedente presidencialista, em ambas não lhe restava alternativa. Fez o inevitável contra o que gostaria de evitar, salvando-o a rectidão e o sentido de Estado.
Talvez por tudo isto dele se guarde apenas a memória do homem íntegro mas discreto, de um Presidente legalista mas que nunca deixou de utilizar os seus poderes, de alguém que marcou menos o país do que era sua expectativa e esperança dos que o elegeram duas vezes. Ao passar a pasta a alguém que partilha com ele uma visão institucional do cargo, mas dele diverge em quase tudo o resto, sabe que a sua imagem futura vai acabar por depender muito do que Cavaco fará - ou não fará.

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]


Post a message:
This forum requires an account to post.
[ Create Account ]
[ Login ]
[ Contact Forum Admin ]


Forum timezone: GMT+0
VF Version: 3.00b, ConfDB:
Before posting please read our privacy policy.
VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.