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Subject: 14. O capitalismo, as crises e a revolução... - II


Author:
Guilherme Statter
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Date Posted: 27/11/06 12:04:37
In reply to: Guilherme Statter 's message, "Um "inventário" das ideias de Marx e Engels - Ou a peregrinação continua..." on 14/11/06 10:55:01


14. O capitalismo está permanentemente envolvido em crises, passando de uma a outra. Estas crises estarão a ficar cada vez mais profundas e assim o capitalismo entrará na sua crise final e na revolução do proletariado.

A este respeito permito-me transcrever para aqui alguns excertos de um trabalho elaborado há um ano atrás) e em que discuti este tema. Como se poderá ver não faltam na literatura ideias e sugestões sobre as "causas" e "mecanismos" da(s) crise(s).
É assim que têm sido várias as explicações apresentadas para a crise social e económica de âmbito mundial que nem todos reconhecem ou identificam enquanto tal (Michel Fouquin e Daniel Pineye, 1995) ou pelo menos não com a natureza global que alguns observadores lhe atribuem.
É assim que alguns autores falam de pós-capitalismo, outros de recomposição da civilização industrial, outros ainda de mudança ecológica fundamental.
O caracter inflacionário e não mais deflacionário da recessão generalizada a partir de 1974/75 (a qual deu mesmo origem a algumas reflexões críticas sobre a natureza e validade do paradigma convencional em economia, com o alegado fim da Curva de Phillips (James A. Trevithick, 1977 ), agravou e aprofundou uma crise da balança de pagamentos que em breve assumiria proporções para lá do controle da maioria dos países de menores dimensões. Para Rabah Benakouche (1981) a crise, que para a generalidade dos países da Periferia continua por resolver a contento, teria resultado do fim da "dinâmica de acumulação" vigente desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Outros autores falam, a esse respeito, simplesmente do fim dos “Gloriosos Trinta” anos (Christian Stoffaes, 1991).
A explicação das causas e da natureza da crise não se encontrariam ao nível dos mecanismos monetários e financeiros como pretendem as correntes prevalecentes nas instituições como o FMI ou o Banco Mundial mas seriam antes, como é normalmente referido, primordialmente da responsabilidade dos Estados dos países em dívida e em crise, por via da sua indisciplina financeira.
Pensamos que as causas (sistémicas ou mais profundas) da crise não seriam também a ocorrência em simultâneo de alguns profundos desequilíbrios conjunturais como supostamente pretenderiam autores como Paul Samuelson ou Edmond Malinvaud (ambos citados em Rabah Benakouche, 1981). Acrescentaremos nós ainda que não seriam também as mudanças de caracter estrutural (a desindustrialização e/ou a deslocalização de industrias) como parece ser a proposta de alguns outros autores (Christian Stoffaes, 1991). Ainda segundo Rabah Benakouche, a crise actual não estaria nem nas grandes ondas cíclicas como sugeriria Ernst Mandel, nem no aumento do poder de negociação de alguns países do Terceiro Mundo, como são supostos pretender autores como Paul Sweezy, Samir Amin ou Andre Gunder Frank.
Deve esclarecer-se que no caso de Ernest Mandel, no seu prefácio ao Volume III de "O Capital", refere explicitamente a queda tendencial da taxa de lucro como a causa primária das ondas de longo prazo que têm caracterizado o comportamento secular do sistema.
Para Rabah Benakouche a origem da crise estaria antes de tudo na descoordenação ou descoerência dos sistemas produtivos nacionais, na ineficácia das políticas conjunturais e ainda nos modos de organização do trabalho. Ideia que aliás já se encontra amplamente dispersa nos escritos de Marx e Engels. A contradição entre a disciplina "dentro das fábricas" e o "caos" e descoordenação nos mercados.
Entre as explicações de índole "monetarista", as quais tendem a remeter as causas para os factores de decisão endógenos a cada país e depois aí a alegadas ou verdadeiras indisciplinas orçamentais, e as explicações de caracter "marxista", "estruturalista" ou "institucionalista", ou ainda de "acumular de contradições" ou de "bloqueio do sistema", as quais normalmente remetem as culpas para os factores exógenos em relação a cada país passando pelas ideias da "escolha racional" e a explicação culpabilizadora do afinco na manutenção do poder patrimonialista – no caso dos países da Periferia - fica-nos quase sempre a ideia de que os autores consultados (ou os autores por eles mesmos referenciados e discutidos) também sabiam (e certamente que sabem já!...) da Tendência Decrescente da Taxa de Lucro, explicada por Marx como inerente à lógica de funcionamento da economia de mercado em regime capitalista e causa fundamental e primária da(s) crise(s).
Só que fica quase sempre também a sensação de que para eles uma tal característica ou “lei” do funcionamento do sistema não seria importante e portanto que não houvesse que daí tirar quaisquer particulares ilações. Como diz Ian Steedman (1978), tratar-se-ia de um falso problema pelo que as causas finais da crise deveriam ser procuradas alhures. Ou então e ainda, como parece sugerir António Mendonça (1990), a "baixa tendencial da taxa de lucro" faria parte da paisagem social e económica em regime capitalista , na medida em que as crises que ela despoleta seriam "simplesmente" utilizadas pelas elites dirigentes para a resolução e ultrapassagem das contradições do sistema. Assim sendo, todos nós viveríamos de uma forma "natural" com essa tendência, e adentro do sistema que ela enforma, pelo que a mesma "baixa tendencial" acabaria por tudo e nada explicar.

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Replies:
Subject Author Date
14. O capitalismo, as crises e a revolução... - IIIGuilherme Statter27/11/06 16:51:54
    Eh!Cepticismo face à catástrofe iminente.De resto,Voscência está pronto para continuar a ir à missa. (NT)vou ali volto já27/11/06 19:15:09


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