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Subject: A questão de Marx | |
Author: Jorge Nascimento Rodrigues |
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Date Posted: 31/03/07 21:28:22 In reply to: Fernando Penim Redondo 's message, ""O Novo Capital", etc. e tal..." on 29/03/07 23:50:43 A questão de Marx prender-se-á ao facto – que não sei se está citado no livro, não me recordo – de um dos pontos de vista do falecido Peter Drucker sobre os trabalhadores do conhecimento poderem controlar os seus meios de produção, pela razão de que detém um activo fundamental, mais importante do que os factores clássicos de produção: o conhecimento. Em contraste, os proletários do século XIX-XX não deteriam o saber suficiente para poder obter o controlo dos meios de produção. O saber capaz de criar valor de mercado, na altura, estava na cabeça dos capitães de indústria e depois nos financistas da época do imperialismo. A coisa começa a complicar-se quando surgem os executivos, os gestores a partir dos anos 1920/1930, com saber capaz de gerir os negócios sem necessidade dos proprietários formais das empresas. O novo capital (termo que o Drucker não usou, mas que pode ser um conceito fácil de apreender; tem sex appeal, confesso) é o conhecimento/o saber pessoal quando efectivamente usado (quando transformado em valor – quando passa de valor de uso a valor de mercado, seguindo a linha de raciocínio do Kapital, se me lembro bem de algo que li há quase 40 anos) e quando os protagonistas disso tomam consciência (consciência subjectiva, de si próprios como “novos capitalistas”). O Drucker chamava a atenção de que esta consciência alterava o comportamento deste tipo de gente e da forma de negociação e de relação contratual que estabeleciam com os donos do velho capital. Mas, no fundo, ele dizia que era a ampliação do que os profissionais liberais (que basicamente usam o conhecimento) em actividades muito restritas sempre fizeram no passado. Drucker remetia para a forma como Marx abordara o assunto na sua época (em relação ao proletariado alienado dos meios de produção) e daí disse a dado passo que o objectivo de desalienação, de apropriação, se consumava agora, paradoxalmente, com uma nova camada social emergente formada quer por uma elite, como pelos tecnólogos (uma camada mais “baixa”) que viviam do seu trabalho (intelectual ou intelecto-manual), que se massificaria no século XXI. Há um reitor canadiano, seguidor de Drucker neste assunto, que é ainda mais radical, e anteviu a possibilidade de uma nova luta pelo poder entre esta camada emergente e os actuais detentores do poder económico (os financeiros e os capitalistas tradicionais em geral) algures durante o século XXI. Entrevistei-o há uns anos. Bom, esta treta toda para dizer que agitar o tema do novo capital me parece boa ideia. Relevo esse aspecto, independentemente de aspectos de crítica. Quanto ao fundo do problema, se Marx tinha ou não razão – é outro debate. Ele apercebeu-se de um protagonista emergente no sec XIX e definiu uma teoria, uma visão (uma sociedade ideal) e uma politica em torno disso. Viveu aliás em 1848 e em 1871 essa evidencia. Mas a História trocou (lhe) as voltas, pois troca sempre as voltas aos idealismos. Esse protagonista nunca efectivamente teve poder – uma camada radical de profissionais da politica (que o Lenine chamaria de pequeno-burguesa, onde se inseria ele próprio e várias gerações desde os anos 20, incluindo a minha) exerceu o poder politico em seu nome, mas o sistema que desenvolveu implodiu (Russia) ou teve de se reformar (China). E, ironia da história, ironia da dialéctica materialista (que só prega partidas), a transformação do sistema, sobretudo a partir dos anos 1970, seria levada a cabo por uma camada de novos capitalistas (ligados ou filhos das inovações tecnológicas dos anos 40 a 60) e pela tal massificação dos trabalhadores do conhecimento. Voltamos ao princípio desta conversa – o proletariado industrial não detinha o saber, o conhecimento, para controlar os meios de produção, e muito menos gerir a sociedade (apesar do dito de Lenine de que o poder deveria sair do pedestal e poder ser exercido por uma mulher de limpeza). Uma camada pequeno burguesa, profissional da politica, utilizou efectivamente conhecimento acumulado através de um novo tipo de organização para controlar esses meios e gerir a sociedade. Mas a roda da mudança da História tornou o conhecimento de que dispunham obsoleto e como eram organizações e sociedades sem dinâmica de inovação não conseguiram alterar-se. [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |
Subject | Author | Date |
Não se trata de Drucker | Fernando Penim Redondo | 31/03/07 22:20:42 |
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