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Subject: No país da cunha e do clientelismo


Author:
São José Almeida (Público, 24.02.2007)
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Date Posted: 26/02/07 19:59:40

De acordo com o estudo divulgado pelo público, em portugal a corrupção só é considerada como tal quando envolve suborno, isto é, quando envolve dinheiro, situação já hoje penalizada. Há uma mentalidade generalizada que é permissiva a actos de corrupção como a cunha, o amiguismo, o nepotismo, o favorecimento, o clientelismo, o conflito de interesses.

Este é talvez o dado mais significativo para perceber o momento que se vive, no que se refere ao combate à corrupção, porque é este fundo mental, esta falta de cultura ética da população, que, por sua vez, torna possível o pântano em que o país se tornou, no que se refere à não existência de uma cultura de rigor e de valores. É este clima que permite que os responsáveis pela criação de meios para combater a corrupção continuem a empurrar com a barriga a adopção de medidas claras que criem um novo funcionamento das relações entre o estado e os privados, de modo a que este seja igual para todos e em que não haja quem seja indevidamente beneficiado.

É interessante perceber como os inquiridos têm, por outro lado, consciência de que o que importa é a preservação do aparelho do estado e defendem, por exemplo, o afastamento dos corruptos dos cargos. Também é relevante o facto de quase metade dos inquiridos ser a favor da criação de uma agência anticorrupção, o mesmo tipo de organismo estatal que joão cravinho propunha, ao querer uma comissão de fiscalização e coordenação do combate e prevenção da corrupção a funcionar na dependência da ar, assumindo esta os seus poderes de fiscalização.

Uma proposta que os deputados socialistas primeiro deitaram fora e, depois, recuperaram sob a forma de um observatório, que, como o nome indica, apenas observa - ignorando até que já existe um observatório no iscte, que funciona mal, por que não tem verbas nem meios, o que é revelador do interesse do estado em combater a corrupção.

Daí que o tom de indignação com que o investigador Luís de Sousa reage a esta proposta dos deputados seja o tom daqueles que seguem com alguma atenção estas questões. é estranho que os deputados dêem de si mesmo uma imagem tão negligente. não só porque revelam não ter feito um levantamento do que já há.

Mas a indignação é tanto maior quanto esta proposta demonstra a pouca importância que as direcções partidárias dão a este combate, o que é confirmado, aliás, no estudo.
pelo caminho, maioria e oposição esquartejaram e aproveitaram, para fins de política imediatista e mediática, as propostas de cravinho. passada a fase da ópera bufa, o país vai continuar a ver desfilar o carnaval da corrupção.

O observatório do ISCTE vai continuar a rapar uns trocos. os directórios partidários vão manter a cabeça enterrada na areia. os cidadãos vão continuar a considerar que o combate à corrupção é ineficaz e a não perceber bem o que é de facto este fenómeno. portugal permanecerá o país da cunha e do clientelismo. cravinho será olhado com desdém nos bastidores e cinicamente louvado no discurso oficial. daqui a uns anos, todos irão proclamar, batendo no peito, a importância de medidas que agora desdenham, como a da criminalização do enriquecimento ilícito. nem que seja, então, por ordem de uma directiva comunitária.

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Replies:
Subject Author Date
Na mouche (NT)chato 7/03/07 8:55:24
Re: No país da cunha e do clientelismoPerguntador inocente18/03/07 4:24:50
Re: No país da cunha e do clientelismoPassou ao lado19/03/07 20:30:31


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